Quando eu penso em Caxias do Sul, são muitos os detalhes que consigo lembrar. É como as vezes em que a gente viaja e só pensa em voltar para casa, sabe? Lembramos da maciez do nosso colchão, do cherinho ao abrir a porta, do banho no nosso próprio banheiro e até mesmo do formato da televisão. E como bom caxiense de uma vida inteira, posso dizer que, sim, todas as vezes em que fui, logo já me imaginei de volta.
Não vou mentir e dizer que nunca pensei em ir embora. Já tive os meus dias de adolescente que vislumbrava um mundo “maior e melhor” bem longe daqui. Da mesma forma, já escapei – e acho que para sempre vou continuar escapando – da cidade de vez em quando. Acredito que seja uma necessidade: precisamos de respiros. Precisamos cultivar certas saudades.
Falar de Caxias do Sul é falar de mim. Não só porque nasci e vivo aqui, mas também porque sou um produto do meio, parafraseando Rosseau. Sou frequentador daqueles restaurantes típicos que existem há décadas; sou um apaixonado pelas nossas paisagens, aromas e gostos; tenho nas veias o sangue que pulsa a vontade de trabalhar para construir, crescer e avançar; e até eternizar a cidade em um romance policial envolvendo o maior evento local já eternizei.
Confesso que às vezes me sinto um pouco perdido, mesmo sabendo de cor a maioria das ruas e lugares. Estou e sou filho da cultura em uma cidade que se destaca pela indústria, e sabe como é, precisamos provar constantemente a necessidade e os prazeres de fazer o que fazemos. Aos poucos, sinto que enquanto sociedade passamos a nos dar conta.
Poderia comentar sobre um pouco disso tudo, de cada um desses detalhes que fazem de Caxias o lugar que ela é. Mas hoje preferi falar do pôr do sol. Não sei se você já reparou, mas ele nunca é o mesmo, esteja você onde estiver. Tem dias que eu observo da janela aquela fila de carros na Sinimbu, as luzes vermelhas paradas uma atrás da outra, e me pergunto quantos motoristas aproveitam o sinal fechado para encarar aquele que é o meu momento favorito.
Talvez poucos observem a maneira com que temos um laranja só nosso – ao menos, não encontrei tom igual em nenhum outro lugar. E ali pelas seis da tarde (salvo nos dias mais frios), o céu se colore de rosa, e ambas as cores parecem se beijar lentamente, em um sinal delicado de que aqui também existe amor. Quem sabe a cultura não seja o laranja? Quem sabe o rosa não seja a indústria? E nós todos somos esse céu lindo que existe de forma ímpar todos os dias, há muitos dias e muitos anos, e que aos poucos entende que somos feitos de diversas cores. E somente a mistura de todas elas é o que torna Caxias do Sul única em toda sua simplicidade.