Cem encontros, mais de 120 espetáculos de teatro e de dança discutidos, mais de 300 artistas como convidados especiais e um retorno empolgante em 2022, após a interrupção de dois anos devido à pandemia, com mais de 60 pessoas presentes às duas primeiras aulas do ano. Não faltam motivos para a Escola de Espectadores de Porto Alegre (EEPA) celebrar.
A festa é neste sábado (11), a partir das 10h30min, sinta-se convidado. Todas as atividades da EEPA são gratuitas e não requerem pré-requisitos. Como o dia é de comemoração, o roteiro mudou: saem as dinâmicas sobre um espetáculo-tema e entra um passeio comentado ao Theatro São Pedro (TSP) e ao Complexo Multipalco, junto à Praça Mal. Deodoro, no centro de Porto Alegre. A visita será guiada pelo diretor operacional do TSP, João Antônio Pires Porto. Atenção: chegue cedo, porque a turma fecha em 30 pessoas. Um brinde entre os participantes está previsto ao final, provavelmente na área do Memorial do TSP – nada muito formal, bem ao espírito da EEPA.
A escola surgiu em 2013, como projeto da Coordenação de Artes Cênicas (CAC) da prefeitura de Porto Alegre. Em 2017, a iniciativa passou a ser autônoma e desde sempre é coordenada por Renato Mendonça, jornalista e crítico de teatro. Pioneira no Brasil, a escola se inspirou num modelo criado em Buenos Aires, em 2001, pelo pesquisador argentino Jorge Dubatti, grande nome latino da crítica teatral. Atualmente, há projetos assim em quase 50 outros países.
O nome “escola” pode sugerir uma transferência de conteúdo acrítico, vertical e convencional. Nada disso, esse não é o espírito da EEPA. A partir de um espetáculo-tema, em aula, os alunos trocam entre si, com artistas, convidados e técnicos envolvidos na montagem impressões e questionamentos provocados pelo que assistiram.
O objetivo é capacitar os espectadores a assumirem um papel ativo, autônomo e crítico.
— O público também cria. E isso fica evidente quando os artistas convidados por vezes se surpreendem com as observações dos alunos — comenta Renato. — O pesquisador argentino Jorge Dubatti sempre deixou claro que o espectador é um cocriador do que está em cena, e não uma figura passiva.
As aulas funcionam mesmo para quem não assistiu ao espetáculo-tema. Sempre que possível e conveniente, vídeos com trechos das peças ou mesmo cenas feitas ao vivo enriquecem os encontros. Nos dois primeiros deste ano, por exemplo, Elison Couto e Marcelo Ádams apresentaram cenas ao vivo. As dinâmicas são pensadas para aproximar obra e público, além de dar ferramentas para ampliar a compreensão dos espetáculos.
Outro destaque é a diversidade de perfis entre os alunos – uma conquista que orgulha a EEPA.
– As artes cênicas são essencialmente de experiência presencial. E de acumulação. Quanto mais assistimos, discutimos, trocamos ideias com os próprios criadores e descobrimos suas motivações, talentos e intenções, mais aprendemos – justifica Renato.
Em 2022, a escola conta com o apoio da Secretaria Estadual da Cultura (Sedac), que cede o espaço do Teatro de Arena (Av. Borges de Medeiros, 835) para os encontros. As aulas são quinzenais, aos sábados, entre 10h e 12h. A matrícula pode ser feita a qualquer momento. Em alguns eventos, o grupo consegue lotes de ingressos gratuitos para distribuir entre seus alunos.
A próxima atividade será no dia 25 de junho, sobre o monólogo Quase Corpos, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz. Os alunos terão direito à meia-entrada nesse espetáculo. Para mais informações, siga nas redes sociais: @escoladeespectadores no Instagram e @eepaescola no Facebook.
Com a palavra, os alunos
"Para mim, a EEPA tem exercido um papel não apenas educativo, mas humanizante, pois permite o encontro e o debate sobre as grandes questões que afetam o ser humano em sua jornada existencial. Quem vai a primeira vez, se encanta. Temos uma turma que está desde o começo. Vamos juntos ao teatro."
Silvia Abreu | jornalista e produtora cultural
"Encaro a EEPA como um núcleo de formação em que não sou ensinado, mas aprendo. Nos encontros, circulam saberes que talvez eu não teria acesso e, ao mesmo tempo, partilho o que sei. Essa partilha permite que a prática de refletir sobre o teatro aconteça ali, mas se estenda para além dos encontros, numa experiência político-estética cotidiana."
Julio Larroyd | pesquisador
"São aulas muito enriquecedoras, o Renato (Mendonça) conduz tudo muito bem. Participo desde o início e sempre o que se aprende colabora muito com o meu trabalho. Dialogamos, ouvimos o outro. E a escola faz com que mais pessoas frequentem o teatro."
Zoravia Bettiol | 86 anos, artista plástica
"Além de colaborar com um conhecimento amplo e um senso crítico sobre as obras e atuações teatrais, a chance de trocar referências e olhares distintos é incrível. Às vezes, o que fica de uma ação cênica compartilhada é uma imagem, uma entonação, um desenho gestual, agregando novos sentidos e reflexões que levo para a vida."
Jônata Marchese | administrador