Tem seus encantos esta jovem cidade de 132 anos. Seus esquecimentos também. Para esses encantos, a botânica contribui bastante, com ipês, plátanos e jacarandás. Não retribuímos ao verde tamanha generosidade. E há os encantos habituais, recitados historicamente, com justa razão: a gastronomia, a vocação empreendedora, as belezas do interior, a origem e composição de sua gente, de sua população, cada vez mais multifacetada, multicultural, mais imigrante. Caxias, por sua formação e identidade, é uma riqueza cultural. E há esquecimentos solenes, sonoros, retumbantes: a desvalorização do trem, isto é, da própria história, a Praça da Bandeira, os mananciais de água de nossa cidade, os arroios escondidos dos moradores, talvez por vergonha do que é feito com eles.
Há outro esquecimento importante: o esquecimento do Centro, da Avenida Júlio, na prática um mero corredor de passagem para quem circula apressado de um destino a outro ou precisa recorrer a alguma compra ou serviço. Porém, outras atrações na Júlio, no Centro, esqueça! Não há. Não há pontos de encontro, não há cafés históricos, não há pulsação cultural e de convivência, eventualmente uma Feira do Livro. Só o pequeno comércio, bancos, farmácias e algumas lojas de departamento. O que falta, não é uma condenação, um destino inescapável. Pode ser refeito, revisto, com visão estratégica de cidade e a indução da parceria entre o público e o privado. Só ter vontade. O que é a avenida depois das 7 da noite? Nenhuma atração noturna, pouca gente na rua. A Júlio não merece. Agora estão propondo tapar de novo um pouco mais de seus prédios históricos com placas de publicidade e letreiros. O aniversário da cidade é para reconhecermos nossos encantos e conversar sobre melhorá-la, tornar mais forte essa relação entre a cidade e seus moradores. Uma conversa íntima, sempre importante.
A Avenida Júlio é um desperdício, desaproveitada naquilo que tem a oferecer. Tem a centralidade, guarda a história. É a espinha dorsal, o centro nervoso da cidade, também precisa ser o coração pulsante, a partir do hábito e da consolidação de pontos de encontro, que hoje inexistem, da efervescência cultural, do acolhimento urbano. Faltam, por exemplo, bancos na Júlio, disponíveis a uma conversa cotidiana, a uma contemplação. Na esquina da Júlio com a Moreira, há um banco isolado e raro, um recanto urbano, convidativo ao encontro, à observação da cidade, colocado ali por saudável e sensível iniciativa de uma ótica em frente. Passa despercebido. Que surjam outros e outros bancos, esparramados ao longo da Júlio. É um exemplo vivo e singelo de como a cidade pode se oferecer mais a seus moradores.
Temos uma relação a fortalecer com a cidade. Caxias merece!