Aos 77 anos, o professor e historiador Voltaire Schilling morreu na noite deste domingo (2), em Porto Alegre. Referência na cena cultural gaúcha, o escritor não resistiu a um quadro de embolia pulmonar e sofreu uma parada cardíaca por volta das 22h, na Santa Casa de Misericórdia da Capital.
Conhecido pela vasto conhecimento histórico e eloquência, Schilling deixou muitos amigos e admiradores de sua vasta obra. A seguir, confira algumas homenagens ao historiador feitas por personalidades nas redes sociais ou enviadas à reportagem:
"Talvez o Voltaire fosse uma das melhores conversas que conheci na vida. Era uma pessoa com uma erudição extraordinária, quase enciclopédica. Ele podia discorrer horas e horas sobre muitos assuntos, com uma riqueza de informações e detalhes que parecia humanamente impossível guardar. Parecias que ele estava lendo um teleprompter. Ele foi professor no Israelita, em outros lugares, e os alunos admiravam muito ele. Ele participou de uma live da Secretaria de Cultura recentemente, sobre Napoleão Bonaparte. O Sergius Gonzaga fez uma pergunta e ele falou por uma hora! Ele tinha uma paixão pelos livros e uma capacidade de discorrer impressionante. Em contrapartida, ele não era interessado na teoria da história, lia muitas biografias, mas não era um homem das questões teóricas. Tinha uma grande repercussão fora do ambiente nichado da história."
Gunter Axt, historiador e secretário de Cultura de Porto Alegre
"Há uns 30 anos participo de um grupo que almoça junto às quintas-feiras. O Voltaire era parte essencial da nossa identidade. Tinha uma verve especial, sempre pronta pra inventar uma abordagem iluminadora do assunto, muitas vezes debochada, sempre muito bem informada. Quando começava sua análise dizia 'Repara que…', e por ali seguia. Era da antiga escola dos historiadores eruditos, traço que temperava com um texto fluente, que queria alcançar o leitor porque apostava no esclarecimento."
Luís Augusto Fischer, escritor, professor e pesquisador
"Voltaire Schilling foi um dos historiadores mais importantes no RS trabalhando num período difícil sobretudo de se fazer revisões históricas, no período pós-golpe de 1964. Houve uma parceria significativa entre o historiador e o editor Carlos Jorge Appel, da editora Movimento, que permitiu que muitos textos do Voltaire tivessem uma edição quase que imediata a sua criação, e isso certamente ajudou muito num processo de revisão crítica da história recente do Brasil e do RS. Ele também era um grande contador de histórias, e tinha um humor impagável. Era muito engraçado conversar com ele. Ele guardava a versão séria, crítica da história, mas, ao mesmo tempo, era capaz de pescar anedotas, sutilezas dos personagens que fazem a nossa história. Nesse sentido, o Voltaire era muito competente. Depois, passou a se engajar em uma militância que não se esgotou num movimento crítico à ditadura, mas incluiu a administração de instituições culturais, dentre as quais o Memorial do RS, deu sua contribuição. A morte do Voltaire Schilling deixa o RS mais pobre. Perdemos o Voltaire, não perdemos a sua obra. E certamente vamos continuar aprendendo muito com ele."
Antonio Hohlfeldt, jornalista, escritor e professor
"Deixou-nos um professor que lecionou pelas aulas, pelos cursos, pelas conferências e pelas obras. Suas gestão no Memorial ficou marcada pela publicação de mais de 40 opúsculos versando sobre datas, vultos e instituições históricas. Sua biblioteca causava inveja. Foi frequentador da Mesa das Quintas, organizada pelo professor Joaquim Felizardo, na qual a sua presença irradiava respeito sem jamais deixar o humor de lado. Voltaire, quero continuar convivendo contigo no vinho semanal que nos uniu. Obrigada, companheiro."
Luiz Osvaldo Leite, professor, pesquisador e escritor
"Voltaire foi meu professor no Ensino Médio, meu colega quando lecionei História no Colégio Israelita e, mais tarde, foi palestrante no Projeto Cultural do Universitário que eu coordenava. Autodidata, leitor furioso, intelectual erudito e grande orador, Voltaire influenciou gerações de alunos com sua capacidade de ensinar e transmitir conhecimento."
Gilberto Kaplan, professor de História