Morreu neste sábado (28) o artista plástico Gelson Radaelli, aos 60 anos. Nascido em Nova Bréscia, ele vivia há décadas em Porto Alegre, onde administrava o restaurante Atelier de Massas, no Centro Histórico. Nas artes, destacou-se como pintor, escultor e ilustrador. Entre outubro e novembro, exibiu suas obras na galeria Bolsa de Arte, na exposição No Espelho Não Sou Eu.
O Departamento Médico Legal (DML), de Porto Alegre, comunicou nesta tarde que a morte foi causada por infarto. Ainda não há informações sobre o velório nem o sepultamento do artista.
Graduado em Comunicação Social, Gelson foi editor de arte do jornal O Continente. Como artista, recebeu, entre outros reconhecimentos, o Prêmio Açorianos de Pintura, com a exposição Tormenta, na galeria Iberê Camargo. Suas obras também integram coleções de diversos museus, instituições e galerias brasileiras.
Para o diretor-curador do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), Francisco Dalcol, Radaelli pode ser considerado um artista destacado no cenário gaúcho, sobretudo na pintura, sua principal forma de expressão. Ele observa que a a obra de Radaelli é marcadamente contemporânea, com grande presença gestual e vinculada a uma corrente expressionista, com forte apelo subjetivo. Além de um grande nome das artes visuais, Radaelli também era uma personalidade conhecida de Porto Alegre por seu restaurante:
— Era uma pessoa muito querida por todos. O Atelier é um restaurante muito afamado, com toda uma ambientação artística. É como se estivéssemos no ateliê dele — diz Dalcol.
No acervo do Margs, há uma obra Radaelli remanescente da exposição Neon, de 2017. Grande parte das obras dele, no entanto, pode ser contemplada no antigo prédio da Rua Riachuelo. É lá que, desde 1992, funciona o Atelier de Massas — uma mistura de galeria de arte e cantina italiana.
"É o lugar em que o artista vivia, uma espécie de recanto onde dedicava-se para idealização de suas obras", destacou a Associação dos Escultores do Rio Grande do Sul, na nota em que lamenta a morte de Radaelli e relembra a trajetória do artista.
O amigo e admirador de Radaelli Francisco Marshall sente que foi uma perda para todos. Professor da Ufrgs, arte-historiador e colunista de GZH, ele afirma que Gelson deixa um legado extraordinário "como artista, como cidadão e como homem":
— Como artista, herdou e transformou as linguagens do expressionismo, coração da arte do século 20, com essa sua linguagem explorou a condição humana, a angústia do mundo, os impasses da linguagem, sempre com muita sinceridade, muita inteligência poética, muita compreensão da condição atual do mundo e do homem. E, portanto, produziu uma obra artística do mais alto valor, repleta de qualidade poética e muita beleza, muita estética, que o consagraram bem precocemente [...].
Ele também recorda os projetos dentro do restaurante de Gelson como um exemplo de cidadania e um atestado de seu caráter:
— Como cidadão, desenvolveu um dos melhores restaurantes de massas do mundo (isso italianos me disseram, lá comendo) o Atelier de Massas. Onde também ofereceu um apoio filantrópico muito generoso a todas as pessoas que pediam ali: artistas, pessoas da cultura, da educação, que promovem eventos e que precisavam muitas vezes de um prato de comida pros artistas. Ele sempre apoiou todos muito generosamente, muito fidalgamente. E ali também, claro, um cenário de arte, de amizade, de enologia. [...]
Por fim, ressalta que além do cidadão exemplar e artista reverenciado, existiu um ser humano igualmente valoroso:
— Como homem, era um amigo extraordinário, de humor, ironia, inteligência, gentileza, generosidade máximos. Sempre leal, sempre caloroso, sempre máximo como amigo. Então todos que o conheceram, mesmo quem não tenha, como eu, sido assim tão próximo dele, percebiam isso; que era um ser humano de grandeza ímpar, extraordinária e que a obra dele, como artista, o desempenho dele como cidadão, são compatíveis com o que ele foi em vida como ser humano.
A Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), por meio do Instituto Estadual de Artes Visuais (Ieavi), do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) e do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), também lamentou a morte de Radaelli com uma nota de pesar, ressaltando que ele foi um "destacado nome da pintura do Rio Grande do Sul".
A Fundação Iberê Camargo também registrou a morte do artista, ressaltando a relação entre ele e o patrono da instituição. "Grande amigo de Iberê Camargo, tinham muitas coisas em comum. Radaelli fazia aniversário no dia 16 de novembro, e Iberê dois dias depois. Os traços, as cores e os personagens de Gelson Radaelli também lembravam os de seu amigo. A admiração era mútua, inclusive foi Radaelli quem apresentou Eduardo Haesbaert ao pintor, que precisava de um assistente. Foi mais do que isso, acabou virando um filho do coração da Familia Coussirat Camargo".
Radaelli deixa dois filhos, Tulia e Teodoro, e a esposa, Rogéria Rocha.