A atriz Viola Davis, que completará 55 anos no próximo mês, afirmou em entrevista à revista Vanity Fair que sente como se toda sua vida fosse um protesto. Primeira mulher negra a ganhar um Emmy como atriz principal em um drama com a série How to Get Away With Murder, ela é a capa da publicação neste mês.
Apesar da força mostrada em seu trabalho, tendo conquistado ainda um Oscar em 2017, de atriz coadjuvante pelo filme Um Limite Entre Nós, Davis afirma ter alguns arrependimentos, como sua participação em Histórias Cruzadas, que lhe rendeu uma indicação em 2012.
— Poucas narrativas investem na nossa humanidade — diz Davis. — Eles investiram na ideia do que significa ser negro, mas atendendo ao público branco. Não há ninguém que não se divirta com Histórias Cruzadas. Mas há uma parte de mim que sente como se eu tivesse me traído, e ao meu povo, porque era um filme que não estava pronto (para contar toda a verdade).
Ela ainda firmou que a produção foi "criada a partir do filtro e na fossa do racismo sistêmico". Na trama, ambientada em uma pequena cidade do Mississipi (EUA) nos anos 1960, Skeeter (Emma Stone) começa a entrevistar e divulgar histórias sobre mulheres negras que deixaram suas vidas para trabalhar na criação dos filhos da elite branca, da qual ela própria faz parte.
Viola ainda falou um pouco de sua história difícil à publicação, chegando a revelar que muitas vezes ia para a escola com fome e sem tomar banho. Segundo ela, que é a quinta de seis filhos, porque nem sempre havia dinheiro para água, sabão e café da manhã. Ela diz acreditar, porém, que é daí que vem a força do seu trabalho.
— Quando eu era mais jovem, não exercia minha voz porque não me sentia digna de ter uma voz — afirma ela, que diz ter mudado esse pensamento graças a muito carinho de sua mãe e suas irmãs. — Não encontrei meu valor sozinha.
Por trás da câmera
Viola na capa da Vanity Fair foi importante também para o fotógrafo que fez suas imagens. Dario Calmese foi o primeiro fotógrafo negro a estampar a capa da revista em seus 37 anos de história.
— Eu sabia que era uma oportunidade de dizer algo. É a minha própria forma de protesto — disse ele à revista Insider. — Eu sabia que essa capa tinha que ser descaradamente preta. Descaradamente eu e minha história, descaradamente Viola e sua história.
Ele conta ainda ter se inspirado no retrato "The Scourged Back", de 1863, que mostrava um escravo fugitivo chamado Gordon depois de encontrar refúgio, para compor as fotos.