Ela luta contra o sistema, defende a figura da mulher e a liberdade de expressão. A personagem-título de Tieta poderia muito bem estar em uma novela das nove atual que teria o mesmo apelo que teve em 1989, quando foi exibida pela primeira vez na Globo. Adaptação de obra homônima de Jorge Amado, o folhetim volta aos holofotes a partir desta segunda (8), com a divulgação de todos os seus capítulos na plataforma de streaming Globoplay.
Considerada dos expoentes da teledramaturgia brasileira, Tieta narra a história de uma moradora da fictícia Santana do Agreste (vivida na fase jovem por Claudia Ohana) que é escorraçada do local pelo pai por ter um comportamento liberal. Após passar 25 anos em São Paulo, ela volta para a cidade atrás de vingança e muito dona de si: interpretada por Betty Faria, ressurge rica e exuberante no meio de uma missa que celebrava a sua morte, chocando a população.
– Ela rompeu e derrubou preconceitos em todos os níveis, brigando contra o ranço do falso moralismo e até defendendo ecologicamente a cidadezinha da exploração de gente mal-intencionada – afirma Betty, em entrevista por e-mail a GaúchaZH.
A novela, assinada por Aguinaldo Silva, estreou na televisão em agosto de 1989, momento em que o país tinha uma extrema mobilização social e política, que consolidou a retomada da democracia.
– Tieta resumiu o esplendor que vivíamos por ser, talvez, uma das mulheres mais bem resolvidas da teleficção mundial. Ela sempre quer nos dizer o seguinte: o corpo é meu e faço dele o que eu bem entender; você cuida da sua vida, eu cuido da minha e estamos conversados – define Mauro Alencar, acadêmico estudioso da TV, doutor em teledramaturgia brasileira e latino americana pela Universidade de São Paulo (USP).
Para Betty Faria, a personagem encontra eco até hoje por simbolizar a quebra de preconceitos e dar exemplo de solidariedade e amor.
– Ela funciona agora porque é boa, divertida, rebelde e vai contra o fingimento do falso moralismo. Enfim, Tieta é tudo de bom! (Risos) Até hoje, quando eu entro em táxis, me reconhecem só pela voz: “É a Tieta!” – diverte-se a atriz, que segue ativa na dramaturgia, tendo participado recentemente de A Dona do Pedaço.
Retorno
Tieta é somente o segundo título de um projeto do Globoplay de recuperar antigas novelas da emissora (a primeira foi A Favorita, em maio). Ao todo, estão previstos os relançamentos, a cada 15 dias, de cada um dos mais de 50 folhetins globais, sempre às segundas-feiras na plataforma de streaming. A mais antiga já anunciada é Dancin’ Days, de 1978.
– Considero Tieta uma verdadeira ópera na televisão, por sua grandiosidade na extensão narrativa das cenas e por sua musicalidade. A entrada no streaming dela é um passo fundamental para a globalização de nossos produtos audiovisuais – comenta Alencar, que confessa estar curioso com a reação do público diante de um antigo produto de ficção.
Além de seu roteiro bem amarrado, com personagens dramáticos, mas cheios de humor, Tieta dialoga com a atual situação do país. Para esse paralelo, Alencar destaca duas cenas: os retornos de Tieta e o de Tonha (Yoná Magalhães) à Santana do Agreste.
– Elas simbolizam a possibilidade de darmos a volta por cima, de recomeçarmos. Ou seja, uma situação pode ser difícil, muito cruel, como hoje. Mas podemos transformar isso em um novo capítulo de nossa vida, em uma nova história – reflete o pesquisador.
Essa análise tem tudo a ver com a mensagem que Betty Faria daria para a Betty de 1989:
– Nunca imaginei viver um momento de tragédia no Brasil e lançar Tieta para alegrar um pouco o povo que está tão sofrido.
Próximas atrações
22/6 - Explode Coração (1995)
6/7 - Estrela Guia (2001)
20/7 - Vale Tudo (1988)
3/8 - Laços de Família (2000)