Nomeada como a nova secretária da Cultura nesta quarta-feira (4), a atriz Regina Duarte deu indícios sobre o que pensa a respeito de certos temas da subpasta. Seja em entrevistas ou no Instagram, ela já comentou sobre corte de verbas, Lei Rouanet e clamou por uma arte sem ideologia.
A seguir, confira algumas posições de Regina sobre assuntos da subpasta.
Cortes de verbas
Em entrevista ao programa Conversa com Bial, em maio de 2019, Regina defendeu o corte de verbas na área da cultura. A atriz disse que o momento é de controlar gastos.
— Quem não entender está sendo muito egoísta nas suas ambições. Eu acredito e confio no nosso presidente e tenho certeza de que daqui a pouco o Brasil vai se equilibrar, e as coisas vão melhorar — comentou.
Lei Rouanet
No mesmo programa, ela falou sobre a Lei Rouanet. Regina defendeu que o Estado não deveria patrocinar a cultura nos moldes atuais. A atriz exaltou os modelos privados de financiamento coletivo em plataformas digitais.
— Que captem com pessoas físicas e jurídicas de todo o país os recursos para a produção de eventos culturais, com todas as contrapartidas entregues e em prestações de contas previstas num contrato — sugeriu.
Regina ressaltou na entrevista que toda a negociação seria feita "sem intervenção do Estado". Ela também apontou que artistas mais conhecidos deveriam conseguir patrocínio sem isenção fiscal, pois podem vender produtos devido à própria imagem.
— O povo deseja e precisa de um Estado menor, uma coisa a menos para o Estado tomar conta. O governo precisa mais é cuidar do surgimento de novos talentos, dar força para novos artistas, promover a renovação e acesso de novas plateias — pontuou.
A nova secretária da Cultura ainda defendeu maior transparência com a Lei Rouanet:
— Sendo um dinheiro do povo, é preciso ter critérios transparentes, é preciso prestação de contas rigorosas. O que eu acho da Lei Rouanet? Tem uma história de que os artistas mamam nas tetas do governo. Será pedir muito rigor na prestação de contas?
Em janeiro, foi divulgado que a atriz teve suas prestações de contas reprovadas ao Fundo Nacional da Cultura. Ela deve mais de R$ 319 mil. A empresa A Vida É Sonho Produções Artísticas, que pertence a Regina, obteve três financiamentos com base na Lei Rouanet que totalizaram R$ 1,4 milhão. Contudo, o Ministério da Cultura reprovou a prestação de contas de um dos projetos em março de 2018. Trata-se do espetáculo Coração Bazar, para o qual a atriz captou R$ 321 mil com base na legislação.
Arte sem ideologia
Em dezembro de 2019, Regina foi entrevistada pelo ator Carlos Vereza para o programa Plano Sequência, na TV Escola. Durante a conversa, a atriz afirmou que a "arte não tem e não pode ter ideologia", porque isso "confunde e atrapalha tudo". Ela destacou que a arte serve para "nos ensinar a ser justos com o humano, sem repressões, sem partidarismos, ideologias".
— Nem oito nem 80. No meio. A gente caminha no meio e acima da reles realidade. A gente paira acima desse mundo sórdido e cruel e tão belo — disse.
Conforme Regina, a função do artista é "dar humanidade para o sonho, para o bem e para o mal, liberar o humano para criar, para abraçar a pluralidade humana".
— E todo mundo tem razão. Cada um escolhe o seu. Se eu não gosto do seu, eu não vou te reprimir. Por que que eu vou te reprimir? Deixa você exercer sua liberdade de ser quem você é. Pensar como você quiser — refletiu.
Censura
Em décadas passadas, Regina já se posicionou contra a censura. Acompanhando mais 23 profissionais da Globo, em agosto de 1975, ela foi até Brasília entregar uma carta ao então presidente Ernesto Geisel. O objetivo era protestar contra a censura imposta à novela Roque Santeiro, que foi proibida de estrear. A atriz não estava no elenco do folhetim na primeira versão – na década seguinte, ela interpretaria Porcina.
Em setembro de 2019, ela condenou a tentativa de censura do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, a uma HQ da Marvel com temática LGBT+ que estava exposta na Bienal do Livro. Regina postou no Instagram a imagem do beijo dos super-heróis gays, que foi alvo dos ataques do prefeito carioca, e escreveu a frase: "Amor, né, prefeito? E os exemplos de violência, as vinganças, os derramamentos de sangue, assassinatos... Isso continua podendo mostrar?", questionou a atriz.
Entretanto, Regina já endossou no Instagram, no dia 12 de janeiro, um vídeo do ator Carlos Vereza apoiando o movimento de censura ao filme A Primeira Tentação de Cristo – especial de Natal produzido pelo grupo Porta dos Fundos para a Netflix, que mostra o relacionamento entre Jesus (Gregorio Duvivier) e seu amigo, Orlando (Fábio Porchat).
— Vocês plantaram, claro, vocês têm todo o direito de fazer a plantação. Agora aguardem a colheita — diz Vereza no vídeo.
No dia 24 de dezembro, artefatos explosivos foram arremessados contra o prédio da produtora do Porta dos Fundos, no bairro Humaitá, no Rio de Janeiro.
"Marxismo cultural"
Em janeiro, Regina compartilhou no Instagram um vídeo se posicionando contra o que conservadores chamam de "marxismo cultural". As imagens mostram o ex-BBB Adrilles Jorge vociferando contra o que ele considera ser um movimento da esquerda para ganhar território na indústria cultural.
"Quem é esse cara ?!", perguntou Regina em comentário publicado junto com o vídeo. "Que depoimento bacana, profundo, super real (sic)", escreveu a atriz.
No vídeo, Jorge fala de "pessoas que se colocam no lugar de vítimas para massacrar as outras". Para ele, "isso é o marxismo cultural propalado pela indústria cinematográfica, teatral e literária". Ele também acredita que "toda a indústria midiática, a indústria da arte no Brasil, é povoada por esquerdistas fanáticos" e que "essa guerra cultural é uma guerra santa, sim".