Neste mês, a atração do Theatro São Pedro é o próprio prédio. O público é convidado, por meio de visitas guiadas gratuitas, a descobrir a história e as curiosidades do teatro mais antigo de Porto Alegre, inaugurado em 1858. Como o edifício não recebe programação em fevereiro, os visitantes têm acesso inédito a bastidores, coxia e camarins, que durante o ano ficam fora do alcance. Zero Hora acompanhou a primeira visita, na terça-feira. Conheça trechos do passeio e faça a inscrição para os próximos, de quinta-feira (6) até 15 de fevereiro, sempre às 14h (mais informações ao final da reportagem).
Foyer Nobre
Após uma breve introdução à história do Theatro São Pedro, a visita começa pelo foyer, onde o público aguarda os espetáculos. Para chegar até ali, subimos uma escada ladeada com 51 placas em homenagem a artistas que fizeram história no teatro. A mais antiga é de 1920, dedicada à cantora Zola Amaro. No foyer, descobrimos que o gradil do vão costumava ficar no teatro. Apoiando-se nele, os funcionários acendiam as velas do antigo lustre, antes da chegada da eletricidade, em 1900. O foyer também foi a primeira sede do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), de 1957 até 1973, quando o prédio foi interditado.
Hoje, o salão funciona como café, com o tradicional bufê de chás nas quartas (a partir de maio), e recebe eventos, como os shows Mistura Fina (todas as quintas, a partir do dia 5 de março). Aos domingos de manhã, é possível ouvir o piano sendo afinado ali.
Bastidores
Nos fundos do Theatro São Pedro, na Rua Riachuelo, uma porta abre para um elevador que leva cenários, pianos e outras cargas até o palco. Embora a fachada do prédio, na Praça da Matriz, tenha dois andares, o Theatro é bem maior: nos fundos, tem seis pavimentos, onde ficam oito camarins, entre outros espaços.
Perspectiva do artista
O ponto alto da visita, para esta repórter, foi subir pelas estreitas escadas nos bastidores do Theatro, passar pela coxia, onde o elenco espera sua deixa para entrar em cena, e então dar de cara com o palco. De perto e iluminado por janelas na parede dos fundos, ele parece mais comprido. Dali, podemos imaginar a emoção de ser artista e ver todas os 650 lugares ocupados. Alguns nunca são vendidos: os camarotes do governador e do próprio teatro, entre outros. Mas a melhor cadeira é a F13, bem no centro da plateia, abaixo do lustre. Ali, a acústica é perfeita. Fica a dica.
Nos camarins
Em um andar entre o térreo e o palco, conhecemos dois pequenos camarins, com os tradicionais espelhos emoldurados por luzes, armários e banheiros. Quem nos recebe é a diva Dulce Miranda, um "fantasma" que chegou ao teatro antes mesmo de Dona Eva Sopher. Dulce, encarnada no corpo da atriz Bruna Tessuto, não está muito contente com os visitantes.
– Mas até no meu quarto? – reclama, antes de aliciar um dos visitantes para ensaiar suas falas.
– E quando o ator for para o palco nunca esqueçam de desejar “merda”! – despede-se Dulce.
De volta à plateia
Sentamos nas poltronas da plateia (o setor mais caro) para uma breve performance de Dulce Miranda.
A fantasma está na parte do palco que pode ser removida para dar lugar ao fosso da orquestra ou às cadeiras extras. O guia nos conta que os pequenos camarotes que ficam na altura do palco eram o “Tinder” de antigamente. Pais colocavam seus filhos solteiros ali para serem vistos pela sociedade. Certos homens mais “exaltados” gostavam de comprar os lugares para admirar de pertinho a beleza das atrizes.
Na altura dos nossos olhos está o lustre, que nessa época é baixado para limpeza e troca de lâmpadas. Tem 4 metros de comprimento, 600 quilos e mais de 30 mil peças de cristal.
O Multipalco
Deixamos o São Pedro e saltamos no tempo para conhecer o Multipalco Eva Sopher, complexo com mais de 18 mil metros quadrados que está sendo construído ao seu lado, mas é pouco visto, já que seus oito andares se estendem por 30 metros abaixo do solo. Isto é, do solo da Praça da Matriz porque, pela Riachuelo, também é possível acessar o edifício. Essa discrição é proposital, pois o projeto arquitetônico não deveria ofuscar o São Pedro. A construção começou em 2003, quando as implosões no terreno fizeram os prédios do entorno tremer. Dezessete anos depois, ainda falta concluir 20% das obras. A projeção é de mais três anos de trabalho.
Teatros em construção
O Multipalco conta com dois grandes teatros, que funcionam como dois prédios independentes abaixo do solo. O Teatro Oficina terá um palco móvel e será destinado a produções experimentais. Com 350 metros quadrados, terá espaço para cerca de 200 espectadores. O Teatro Italiano tem o mesmo tamanho e forma (de ferradura) do São Pedro, com 650 lugares. Outros espaços ainda em construção incluem a Sala da Dança e a Sala Múltipla.
Salas em uso
Um dos espaços do Multipalco que já está pronto e em uso é a Sala da Música, destinada a apresentações camerísticas, ensaios, simpósios e conferências. Todas as quartas-feiras, às 12h30min, o público é convidado a conferir as apresentações do projeto Musical Évora. Outros espaços em uso incluem a sala para oficinas (já usada por Lázaro Ramos durante uma das passagens do ator pela cidade com a peça O Topo da Montanha) e a área administrativa, além do estacionamento, que ocupa três andares.
Visita Guiada de Verão
- Quinta-feira (6) e nos dias 8, 11, 13 e 15 de fevereiro, às 14h (com possibilidade de horário extra, às 16h, mediante lotação).
- Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº).
- Duração da visita: 1h30min.
- Lotação: 40 vagas.
- Entrada gratuita, mediante inscrição em bit.ly/VisitasGuiadasDeVerãoTheatroSãoPedro.