A temática do feminismo tem despertado mais interesse entre os frequentadores nesta 65ª edição da Feira do Livro. Conforme donos de bancas que expõem na Praça da Alfândega, em Porto Alegre algumas obras que introduzem ao pensamento feminista ou vão mais a fundo em questões como feminicídio, Lei Maria da Penha e discrepâncias salariais entre homens e mulheres entraram para os radares dos leitores.
— A maior parte das pessoas interessadas no tema chegam sem conhecer muito da literatura e pedem indicações. É bem claro este aumento no interesse em relação aos anos anteriores —diz Paulo Fogaça, da Fogaça Livraria.
Durante a Feira, ele já vendeu nove das dez edições disponíveis d´O Livro do Feminismo (organizado pela Globo Livros) e cinco coleções completas de Estudos Feministas Por Um Direito Menos Machista, de Aline Gostinski e Fernanda Martins, compostas por quatro volumes. Estes livros são novos, lançados nos últimos dois anos, o que mostra uma convergência entre a oferta e a demanda.
—Esta onda conservadora na política nacional têm levado tanto homens quanto mulheres a procurarem se instruir mais sobre temáticas sociais, como a questão indígena, escravidão e o feminismo — avalia o livreiro.
Dono de uma banca mais focada no público acadêmico, com unidades no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) e no Campus do Vale da Ufrgs, Vitor Zandomenzeghi acrescenta que tanto a temática feminina quanto o interesse por obras escritas por autoras têm se tornado mais populares nas últimas quatro edições da Feira. Títulos de Angela Davis, Djamila Ribeiro e Bell Hooks, que unem a temática feminista e raciais, estão entre os mais buscados.
—Exite um interesse ao maior protagonismo das mulheres na política, como a presidência de Dilma Russeff ou Michelle Bachelet (Chile) e o papel de Michelle Obama nos Estados Unidos —afirma Zandomenzeghi.
A administradora de empresas Juliana dos Santos, 31, é uma das leitoras que pretende saber mais sobre o feminismo e procurava literatura na Feira neste sábado (16). Ela argumenta que opiniões controversas sobre o papel das mulheres na sociedade, tanto na política quanto em redes sociais, sugerem um olhar mais técnico e analítico sobre o tema.
—Senão a discussão fica totalmente distorcida e superficial — diz ela.
Opinião semelhante tem Andressa Kaliberada, 28. A jornalista prepara um projeto de doutorado sobre violência ao público feminino e buscava bibliografia na feira. Um dos livros que a interessam é Mulheres, Cultura e Política, da professora e filósofa americana Angela Davis.
—A ideia é que o doutorado ajude as pessoas a entenderem melhor questões de gênero e tenham elementos para se esclarecer sobre os direitos das mulheres — explica.