O diretor Alê Braga, responsável pelo filme sobre a história de vida de Joana D'Arc Félix de Sousa, 55, disse que ele e a atriz Taís Araujo, produtora associada do longa, querem ouvir a versão da cientista, que foi acusada de não possuir formação na universidade Harvard e teria usado um diploma falso na tentativa de confirmar a graduação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
— Ainda é muito prematuro falar. Não tivemos gastos oficiais com o filme, tirando a nossa dedicação pessoal. Com isso, não saímos contratando pesquisadores, não fizemos essa pesquisa mais fina. Se ela é ou não formada em Harvard, estávamos confiando até o momento no Currículo Lattes dela, que é público, assim como nas informações de prêmios que ela ganhou. Mas estamos esperando ouvir a versão dela para a partir daí a gente poder pensar o que acontece de agora em diante — disse Braga em entrevista à reportagem.
O diretor contou que conhece Joana D'Arc desde 2016 e a ideia do filme era contar a história de superação dela. Filha de mãe empregada doméstica e pai curtumeiro, Joana teria feito pós-doutorado em Harvard nos anos 1990. Antes de chegar lá, porém, sofreu discriminação social (as salas no ensino médio eram divididas por renda; na A, ficavam os mais ricos - ela ficou na F), racial (era chamada de "a negrinha do curtume") e passou fome para conseguir se formar em química na Unicamp. De volta à Franca, sua cidade natal, transformou a Etec Professor Carmelino Corrêa Jr. em centro de inovação.
Diploma falso
A reportagem do Estado, no entanto, afirma que pediu a Joana documentos que comprovassem a sua formação na universidade. A professora encaminhou ao jornal um diploma, datado de 1999, com o brasão de Harvard, o nome dela e a titulação de "Postdoctoral in Organic Chemistry". Ao encaminhar o documento para análise em Harvard, a universidade informou ao veículo de comunicação que não emite diploma para pós-doutorado e alertou também sobre um erro de grafia no documento.
O Estado também procurou o professor emérito de química em Harvard, Richard Hadley Holm, que teria assinado o diploma, mas ele respondeu por e-mail que o certificado é falso. "Essa não é a minha assinatura, eu não era o chefe de departamento naquela época. Eu nunca ouvi falar da professora Sousa".
Questionada pelo jornal Estado sobre o diploma, Joana disse que o documento foi feito para uma "encenação de teatro". "Mas eu não conclui (o pós-doutorado), eu não tenho certificado", afirmou. "As meninas mandaram junto quando o jornalista me pediu documentos. Eu pensei: tenho que contar isso para o jornalista, mas não falei mais com ele."
Ela também falou que não trabalhou no laboratório da universidade e que a sua pesquisa foi desenvolvida no Brasil.
"Não vamos apontar o dedo"
Segundo o diretor Alê Braga, o filme sobre a vida de Joana ainda está em fase muito inicial e, por isso, as pesquisas nas universidades ainda não tinham começado.
— A pesquisadora que ia fazer agora os contratos formais com as universidades para poder fazer a pesquisa fina de onde a gente poderia contar cada história e tudo mais, ela estava começando a trabalhar. (...) Acho que isso que apareceu (a denúncia do Estado) a gente ia descobrir ao longo da pesquisa, mas eu realmente acho que preciso ouvir a Joana antes de qualquer coisa.
— Conheci a Joana, os prêmios que ela recebeu, prêmios de enorme porte como, por exemplo, o 'Faz Diferença', do jornal O Globo, e vários outros. Ela sempre falou com a gente, com todos os detalhes muito interessantes. Eu fui a dez palestras dela. O ponto para mim agora é: eu quero entender o que está acontecendo — complementou.
Braga contou que conversou com Taís Araújo e que ela se encontra na mesma situação.
— A gente ficou muito próximo dela e desenvolveu todo um argumento do filme baseado nos fatos que a gente conhecida. O mais importante é que a gente não vai apontar dedos, nem para ela nem para quem fez a matéria, estamos em um momento de entender melhor.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da atriz disse que ainda não tinha uma posição de dela sobre o assunto.
Polêmica
Na semana passada, o filme foi alvo de outra polêmica, quando Taís anunciou que tinha desistido de interpretar Joana D'Arc no longa após reclamações nas redes sociais de que o tom de pele da atriz era mais claro do que o da cientista, o que a inviabilizaria para o trabalho.
— Quando eu li [as queixas], só falei que eles estavam cobertos de razão. Quando me dei conta do que acontecia eu nem desconfiei, eles estavam certos. Eu não seria a melhor pessoa.