A série sobrenatural do Netflix Stranger Things tornou-se um fenômeno em meados de 2016, mas foi somente no Halloween que Shannon Purser, que interpretou a geeky Barb, entendeu que sua vida havia mudado.
— Todo mundo resolveu se vestir como os personagens de Stranger Things. E havia esse grupo de 12 ou 15 pessoas que se fantasiaram de Barb e me mandaram uma foto — lembrou-se a atriz falando com entusiasmo por telefone da casa de seus pais em Atlanta.
A devoção dos fãs de Stranger Things por Purser ajudou em sua transição de desconhecida funcionária de um cinema de Atlanta para uma promissora atriz de Hollywood.
— Eu tinha decidido que ia atuar, mas não havia aparecido um emprego ainda — afirmou. — Eu pensava: "Bem, posso fazer algum trabalho em que esteja perto dos filmes o tempo todo. Já é alguma coisa".
Quando conseguiu o papel em Stranger Things, contou ela, "fiquei muito feliz por finalmente fazer uma personagem depois de ter participado de audições por vários anos".
Purser acaba de dar outro passo importante com o papel-título do filme Sierra Burgess é uma Loser, uma releitura com mudança de gênero de Cyrano de Bergerac, estreia recente do Netflix, que vem se tornando especialista nesse tipo de comédia romântica adolescente.
Assumir uma personagem principal "é uma mudança muito bacana – estou nas nuvens", afirmou Purser, que acaba de fazer 21 anos.
— É o tipo de coisa com que sonhei quando era criança e realmente não achava que fosse acontecer. Minha carreira deu uma volta de 180 graus em um período de tempo tão pequeno. Estou me acostumando, mas tem sido incrível.
A sinceridade cativante que Purser exala naturalmente convenceu o diretor Ian Samuels que ela era a escolha certa para o papel de Sierra, nerd de uma banda que posa como líder de torcida popular on-line para conquistar um rapaz do colegial.
— Shannon é transparente e vulnerável — afirmou Samuels. E completou: — Como ela é uma atriz principal não convencional, isso atrai muita boa vontade e empatia do público.
Purser, que em entrevistas tem sido incrivelmente franca sobre suas batalhas com as questões de imagem corporal, depressão e desordens obsessivo-compulsivas, aproveitou as próprias experiências para o papel.
— Eu entendo a sensação de insegurança, como se você não fosse tão boa quanto é e que precisa mudar. Há uma coisa íntima para mim quando interpreto Sierra porque sei como é sentir-se sem valor.
Essa insegurança severa estimulou seu interesse inicial pela atuação.
— Quando era mais nova, eu me sentia muito sozinha, não me sentia à vontade. Adorava a ideia de me tornar outra pessoa, e atuar era uma saída para mim e para essas emoções.
Nos últimos anos, Purser se tornou mais confortável com sua identidade. Ela afirmou ser bissexual no Twitter em 2017. "As pessoas, em geral, me apoiaram muito e isso realmente foi muito significativo. Gosto de ser conhecida da maneira como sou."
Ela canalizou suas inseguranças anteriores em Barb, uma garota estranha cuja morte horrível na primeira temporada de Stranger Things inspirou uma resposta apaixonada nas redes sociais.
— Fico muito feliz pelas pessoas terem percebido que realmente dei tudo de mim naquele papel, porque eu não sabia se conseguiria atuar alguma outra vez — disse ela sobre sua estreia.
— Eu pensei: "Tenho que fazer o melhor que puder". Acho que valeu a pena.
Foi o que aconteceu. Ela conseguiu uma indicação para o Emmy 2017 como melhor atriz convidada em um drama.
— Foi totalmente inesperado — afirmou Purser, que estava em um voo para Vancouver para filmar um papel recorrente em uma adaptação da rede de televisão CW de Riverdale, sucesso cult do Archie Comics, quando as indicações foram anunciadas.
— Pousamos, tirei o celular do modo avião e vieram todos esses textos de congratulações. Entrei em choque, comecei a tremer. Queria ficar de pé e gritar: "Acabei de ser indicada para um Emmy!", mas não fiz isso. (O prêmio acabou indo para Alexis Bledel por The Handmaid's Tale)
A indicação teve uma ponta de tristeza, porque Barb já havia morrido. No começo das filmagens, Purser não sabia que sua personagem ia morrer.
— O maquiador me disse: 'Precisamos que você venha testar sua maquiagem da cena da morte'. E eu perguntei: "Como assim?"
Levou algum tempo para Purser absorver a notícia chocante.
— Foi um pouco doloroso. É como seu primeiro relacionamento amoroso – apesar de saber que precisa terminar, você fica: "Mas e se nunca mais acontecer nada parecido? E se eu nunca mais namorar ninguém?"
No entanto, a saída da personagem foi benéfica.
— A filmagem da morte de Barb foi minha favorita. Era apenas eu e o diretor do episódio, Shawn Levy, nesse cenário incrível que haviam montado, e foi aí que tive certeza de que atuar era o meu trabalho. Estava fazendo a coisa com que vinha sonhando há muito tempo.
Ela espera poder ampliar esse novo sentimento de que encontrou seu lugar.
— Por mais divertido que seja ser a melhor amiga nerd, sou capaz de mais do que isso e acho que tenho emoções para compartilhar e papeis aos quais acrescentar alguma coisa. Espero que haja outras pessoas querendo me dar essa chance e me deixar contar suas histórias — afirmou.
Por Bruce Fretts