"Tudo que falarmos aqui será em homenagem a ela", declarou a professora Heloisa Buarque de Hollanda ao iniciar sua palestra na Universidade Federal do Rio Grande do Sul nesta segunda-feira (19/3), prestando tributo à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada na quarta-feira passada, no Rio, aos 38 anos. Heloisa proferiu a aula inaugural do primeiro semestre do Programa de Pós-Graduação em Letras. O evento ocorreu no Auditório do ILEA, no Campus do Vale.
Em depoimento a Zero Hora após a conferência, a professora observou que a morte de Marielle teve a ver tanto com o fato de ela ser negra quanto com o fato de ter tido uma combativa atuação política:
— Sou da Anistia (Internacional) e temos a campanha Jovem Negro Vivo. É uma loucura o que se mata hoje de jovens negros, mulheres e homens. Mas a Marielle tinha um plus. Ela foi uma esperança nessa conjuntura nacional que está tão sem esperança. Teve 46 mil votos. Sua agenda tinha uma coisa de misturar o asfalto com a periferia, que é um tema muito presente na periferia em uma hora de intervenção militar. Na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), estamos grudados na (Favela da) Maré. Em cada entrada militar dessas (no morro), morre muita gente.
Com o título A Onda Explosiva dos Novos Feminismos, a palestra de Heloisa Buarque de Hollanda traçou um panorama histórico do ativismo feminista no Brasil e das produções literárias e artísticas que o acompanhou em cada época. O foco recaiu sobre a quarta onda feminista, atualmente em curso, oportunizada pela internet e caracterizada pela organização em rede, pela experiência pessoal, pelo uso de hashtags, pela prática de ocupação e pela diferença (feminismo das negras, das lésbicas, das pessoas trans etc). A produção artística contemporânea à quarta onda, explicou a professora, apresenta um discurso mais contundente em relação a outras épocas, fazendo uso intenso da performance.