Nova York – "Era melhor do outro jeito", afirmou Amilcar Zani, visitante do Brasil, no Grande Salão do Metropolitan Museum of Art. Pianista e professor de música, Zani havia acabado de saber que – como não residente do estado de Nova York – agora precisava pagar US$25 por causa das novas regras de admissão do museu, que entraram em vigor no dia 1º de março.
"É um museu para a cidade de Nova York. É uma surpresa", disse.
O museu trabalhou duro para se preparar para o primeiro dia dessa importante mudança – a política anterior de "pague o quanto quiser" durou 50 anos –, anunciada em janeiro. O Met sabia que alguns obstáculos e reclamações seriam inevitáveis.
"Trabalhamos muito para que fosse suave. Ainda vamos melhorar. Vamos fazer tudo o que pudermos para receber bem as pessoas e traze-las para dentro", explicou Daniel Weiss, presidente e diretor executivo do Met.
Em 1º de março, alguns visitantes de fora do estado ficaram espantados com as novas regras. "Horrível", afirmou David Walker, de 34 anos, que veio de San Francisco para levar seu amigo Marquis Engle ao museu em seu aniversário de 27 anos. "Fui pego de surpresa."
Depois de chegar até um dos 14 quiosques novos no Grande Salão, Chris Gamez, da Flórida, e seu amigo Murilo Carvalho, do Brasil, disseram que, em vez de pagar, haviam decidido ir embora. "É uma decepção. Talvez a gente tente outro museu", afirmou Gamez.
Outros visitantes não sabiam da mudança das regras, mas disseram que não se importavam. "Eu concordo em pagar, se esse dinheiro for ajudar o museu. A gente gosta de arte", explicou o antropólogo Steffan Ayora-Diaz, vindo do México. No entanto, sua primeira tentativa de comprar ingressos com seu cartão de crédito em um dos quiosques de autoatendimento falhou, o que ele considerou frustrante.
"E é confuso. Eu paguei? Não deu para ter certeza se estava funcionando", contou. (No final, um dos novos "facilitadores dos quiosques" do Met, que resolvia problemas no Grande Salão, o encaminhou para outra estação)
Em longo prazo, ainda não está claro se visitantes de outros estados vão pagar sem criar problemas e se apaixonados oponentes da exigência do pagamento vão aceitar a nova regra.
"É como tirar o casaco de uma pessoa pobre. Eu não irei nunca ao Metropolitan. Estou pedindo um boicote? Não. Mas eu mesmo não vou", afirmou o artista Ai Weiwei sobre a nova cobrança.
Antes que a novidade entrasse em vigor, Weiss fez um esforço concentrado para explicar por que era necessário reforçar uma das maiores e mais renomadas instituições culturais do mundo. A proporção de visitantes do museu que pagavam a quantia "sugerida" diminuiu de 63 por cento para 17 por cento nos últimos 13 anos, apesar de o público do Met ter aumentado de 4,7 milhões para sete milhões. A nova cobrança pela admissão tem como objetivo dar ao museu um fluxo adicional de receita confiável de US$6 milhões por ano.
O Met também está sofrendo com os desafios logísticos de fazer a checagem da prova de residência sem segregar as pessoas em filas separadas como se elas fossem visitantes de segunda classe. (Estudantes da região metropolitana de Nova York não precisam pagar pelo ingresso, e o bilhete é válido por três dias para o Met, o Met Breuer e o Cloisters.)
Em 1º de março, as mudanças mais visíveis no Met eram os quiosques de autoatendimento e, talvez, a diminuição das multidões. (Será que os visitantes que agora precisam pagar se afastaram?) As pessoas também podiam comprar ingressos de valor integral de funcionários que ficam por ali com iPads. Outros membros da equipe e voluntários estavam à mão ("embaixadores do caminho" e "facilitadores de filas", como o Met tem chamado essas pessoas) para informar sobre os locais de compra de ingresso. Existe também um folheto que explica a nova política de ingressos (traduzido em 11 línguas). Novas placas foram instaladas nas entradas do Met, do Met Breuer e do Cloisters, e nas escadas da Rua 82 do Met: "Moradores do estado de Nova York e estudantes de NY, NJ e CT, pagam o quando quiserem" (embora alguns visitantes tenham dito na quinta-feira que não as viram).
Mais de dois mil funcionários do Met – entre eles membros da segurança, das vendas e da bilheteria – foram treinados (em parte pela firma externa Strativity) em estratégias de atendimento ao cliente e em questões técnicas e de comunicação.
No início, o Met não está sendo rígido em sua nova regra. Aqueles que aparecerem sem identificação serão convidados a trazê-la da próxima vez. Se as pessoas continuarem a não pagar, no entanto, o Met vai ter que ser mais duro na implementação da cobrança.
"Sempre temos a opção de tornar a lei mais rigorosa. Se as pessoas escolherem não apoiá-la, podemos ficar mais estritos", afirmou Weiss.
O museu foi fundado em 1870 em um prédio da cidade; 23 anos depois, uma lei que oferecia apoio estadual ao museu estabeleceu que suas coleções "devem ser mantidas abertas e acessíveis ao público sem cobranças pelo ano inteiro". Ao longo das décadas, no entanto, o museu cobrou pelos ingressos várias vezes, incluindo em alguns dias da semana e para algumas exibições, antes de instituir a taxa sugerida em 1970.
Alguns críticos veem a cobrança como uma traição do Met de seu papel de instituição pública e mais uma barreira para a igualdade de oportunidades para os visitantes.
"O que estamos valorizando neste difícil momento político e econômico?", perguntou Amanda Williams, artista e arquiteta de Chicago. "E para os jovens, especialmente os pequenos corpos negros e marrons, eles estão recebendo mais e mais mensagens dizendo que não pertencem."
Outras respostas foram mais favoráveis à lógica financeira do Met, argumentando que instituições por todo o país estão lutando para cobrir seus custos.
"Entendo que as pessoas pensem que deveria ser de graça. Mas, na verdade, um museu consegue apenas um tanto dos Kochs e dos Sacklers e aí fica por conta própria", afirma o artista Ross Bleckner, referindo-se a dois doadores importantes.
"É um sintoma de um problema sistêmico: monetizar as coisas que deveriam ser um direito, como saúde, educação e agora a cultura. Por que as pessoas não pensaram que a cultura iria alcançar o resto, nessa transformação de Nova York em um shopping? Vamos nos acostumar a isso. É triste, mas verdadeiro", contata.
Houve também algumas queixas internas no Met sobre a nova política de ingressos. Vários curadores se opuseram às mudanças por motivos filosóficos, e alguns guardas estão irritados com suas responsabilidades adicionais, segundo dois funcionários que preferiram permanecer anônimos, já que não foram autorizados a fazer comentários públicos.
O valor pago pelos ingressos do Met até agora fornecia 14 por cento de seu orçamento operacional de US$305 milhões, ou seja, US$43 milhões. Esse número deve aumentar 16 ou 17 por cento – para US$49 milhões – com a mudança na regra.
Ao aprovar a nova lei, Nova York vai reduzir seu subsídio anual para o Met e direcionar parte desse dinheiro para organizações culturais em partes menos atendidas da cidade. O subsídio atual da cidade, de US$15 milhões, que paga os custos de energia do Met vão permanecer intactos. Mais US$11 milhões, que custeiam as despesas operacionais de segurança e da equipe predial, vão diminuir de modo escalonado depois do primeiro ano, dependendo de quanta receita for gerada pela nova política de cobrança de ingresso, com um limite de US$3 milhões.
Por Robin Pogrebin