Los Angeles – Houve várias opções para experimentar "A (for 100 Cars)", a nova composição de Ryoji Ikeda que estreou aqui recentemente.
Era possível ver 100 carros tunados dispostos em uma laje no telhado de um estacionamento em frente ao Walt Disney Hall de Frank Gehry, vários deles com as portas abertas e inclinados para cima. Dava para ouvir os ruídos algumas vezes agudos, outras guturais, saindo de seus alto-falantes, cada um uma variação do tom padrão da nota Lá. Ou o visitante poderia fechar os olhos e sentir como a música pressionava seus ouvidos, sua cabeça e sua pele, latejando, zumbindo e esmagando.
"A (for 100 Cars)" foi, ao mesmo tempo, uma deliberação plácida, um rugido estrondoso e uma brincadeira ambiciosa. Uma instalação de arte sonora pública que se tornou possível por causa da generosidade das corporações – a apresentação foi parte da primeira edição de Los Angeles do festival Academia de Música Red Bull –, que transformou um espaço sem graça no centro de Los Angeles em um útero sublime. Ao redor, havia edifícios altos, enquanto no cenário da apresentação, 100 carros trabalhavam de uma maneira que lembrava uma meditação.
A composição de Ikeda justapôs precisão e imprecisão: a frequência de 440 hertz é o padrão atual de sintonia para o Lá, mas esse não foi sempre o caso. Cada carro estava ajustado com um tom histórico, com as frequências indo de 376,3 Hz a 506,9 Hz. Além disso, embora essa composição pudesse ter sido executada de forma mais clara por um computador, foi tocada por músicos amadores – os motoristas, que em vários casos eram os arquitetos criativos e técnicos de seus carros, mas aqui também se tornaram os artistas. Cada um possuía um sintetizador de bolso programado para uma frequência específica e uma partitura única que o instruía sobre como manipular os botões em vários pontos da peça de 27 minutos.
"É impossível seguir o tempo exatamente", explicou Ikeda depois da apresentação. Mas avisou: "Todos os motoristas estavam tão sérios. Eu meio que os subestimei".
O influente fotógrafo Estevan Oriol estava na primeira fila com seu incrivelmente detalhado Chevrolet Impala SS 1964 rebaixado. "Estou tentando expandir nossa cultura do carro. A comunidade dos rebaixados em grande parte só faz coisas relacionadas a esse tipo de automóvel. Nunca havia ouvido falar de algo como isto aqui", disse ele.
Entre os 100 veículos, os rebaixados se destacavam por suas pinturas coloridas e brilhantes. Mas vários deles comuns, com sistemas de som incríveis, também participaram. "Alguns carros parecem normais, mas lá dentro são como metralhadoras", contou Ikeda.
Mesmo os sistemas de som mais vibrantes foram testados pelos tons encorpados de Ikeda, que pressionaram os alto-falantes em direções nas quais não haviam ido antes. "Nunca tinha ouvido essas frequências que saíram do meu som", afirmou Jasond Moody, que estava atrás do volante de seu incrível Chevrolet Camaro SS 2011. (Cada motorista usou um fone de ouvido gigante.) "Se você tem um aparelho de som de quatro quilowatts e está tocando 55 Hz a 120 decibéis, fisicamente, é realmente uma experiência. O que o motorista está ouvindo do assento do carro é muito diferente do que o que a audiência está escutando", explicou Tatsuya Takahashi, que construiu os sintetizadores.
A composição de Ikeda não se limitou aos sistemas de som. Ela também aproveitou os faróis, as buzinas e o barulho dos motores dos carros. No entanto, no caso de um carro, a aceleração foi exagerada. Quando a apresentação estava no final, o Cadillac DeVille 1978 de Edwin Hammond Meredith começou a soltar fumaça sob o capô: os prendedores que seguravam uma mangueira do radiador haviam soltado.
Outros motoristas e mecânicos correram para ajudar, alguns derramando garrafas de água nas laterais do carro para esfriá-lo. Quando o banho de som acabou naquele momento, um cheiro acre se espalhou pelo ar com uma determinação lenta, fazendo daquele um concerto que as pessoas puderam ouvir, ver, sentir e também cheirar.
Por Jon Caramanica