Uma polêmica envolve a transferência do acervo do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (IGTF) para outras entidades culturais do Estado depois de sua extinção. Luiz Claudio Knierim, servidor da secretaria de Educação do RS e ex-assessor técnico e ex-diretor do IGTF durante os governos Olívio Dutra, Germano Rigotto e Tarso Genro, afirma ter encontrado no lixo, em frente à sede do IGTF no Centro Administrativo do Estado, três documentos do acervo que ele suspeita terem sido extraviados durante o processo de remoção, incluindo originais do artista Edison Acri.
As fotografias do material registradas por Knierim e seu relato foram divulgados no Facebook na sexta-feira pelo colunista de Zero Hora Juarez Fonseca e repercutiram no meio cultural. Até a manhã de ontem, o post havia alcançado mais de 400 compartilhamentos. Em depoimento à reportagem de Zero Hora, Knierim relata:
– Encontrei (os documentos) amarrotados em uma lata de lixo, onde o pessoal que fuma joga as bitucas, na área externa do IGTF. Tinha outros papéis, mas peguei aqueles que reconheci de imediato, que eram do Edison Acri. Fotografei e passei para os amigos, que me aconselharam encaminhar para o Ministério Público.
Na segunda-feira, Knierim entregou o material à promotora Ana Maria Moreira Marchesan, que confirmou à reportagem a abertura de um inquérito civil para apurar o destino do acervo e as condições de transferência. Segundo Knierim, não se trata apenas da suspeita de extravio de documentos, mas da forma como o acervo do IGTF está sendo realocado. Ele defende a criação de um Centro de Referência da Memória e do Patrimônio Histórico e Cultural:
– Não aceito que um acervo seja esquartejado dessa maneira. São documentos que têm sentido porque estão indexados uns aos outros. Os discos regionalistas, por exemplo, são acompanhados de toda uma documentação.
Comissão de transferência conta com 12 técnicos
Fundação responsável pela pesquisa e divulgação do folclore, da cultura e da história do Estado, o IGTF teve sua extinção sancionada pelo governador José Ivo Sartori em janeiro. Suas funções serão absorvidas pela Secretaria da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer do RS (Sedactel). Dos sete funcionários, cinco foram exonerados, um servidor de carreira foi incorporado à secretaria e um profissional da área contábil permaneceu para encerrar os trâmites administrativos.
Coordenadora da comissão de 12 técnicos que realiza a transferência do acervo do IGTF, a assessora técnica da Sedactel Denise Raquel Gress afirma que o processo foi concluído na quarta-feira passada. Segundo ela, os documentos foram encaminhados de acordo com sua natureza: livros e recortes de jornal foram para a Biblioteca Pública do Estado; registros fonográficos, para a Discoteca Pública Natho Henn; fotografias, para o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa; e documentos diversos, para o Memorial do Rio Grande do Sul. Denise acrescenta que a comissão é integrada por técnicos concursados qualificados para o trabalho e afirma que foi surpreendida pela possibilidade de extravio de documentos:
– Em verdade, não sei de onde surgiram essas três folhas, até porque terminamos o transporte do acervo na quarta-feira. Na sexta, já estávamos fazendo o transporte do mobiliário, e o acervo já estava em suas respectivas instituições. Não tenho como precisar se foi um erro porque não sei de onde surgiu (o material encontrado por Knierim).
Segundo Denise, até mesmo as embalagens de refrigerantes consumidos pelos servidores do IGTF estão armazenadas dentro da sede da fundação no Centro Administrativo:
– Tomamos esse cuidado para que não ocorresse o que ocorreu. Todo esse lixo será revisado novamente.
Último presidente do IGTF, o colunista de Zero Hora Vinícius Brum prefere não opinar sobre o episódio por ter sido exonerado do cargo antes da transferência do acervo. Lamenta, no entanto, a falta de apoio da comunidade cultural à manutenção do IGTF:
– Quando foi tornado público que o IGTF seria uma das estruturas cogitadas para extinção, eu, ainda na investidura da presidência, recebi apenas três manifestações de apoio à instituição. Até me causou espécie essa comoção (sobre a denúncia de extravio de materiais). Pensei: "Opa, mas agora?". Essa indignação por parte de alguns segmentos não apareceu naquele momento (da cogitação de extinção do IGTF).