Ticiano Osório
Demorei quatro dias para ler Do Inferno. Quatro dias e quatro noites. Um nada comparado aos 10 anos que os autores, o inglês Alan Moore (roteiro) e o escocês Eddie Campbell (arte), levaram para concluir a HQ sobre Jack, o Estripador, que, se não foi o primeiro serial killer de que se tem notícia, certamente tornou-se o paradigmático, a projetar uma sombra sobre todos os seus sucessores. (A propósito, pode-se traçar um paralelo entre criador e criatura: Alan Moore não foi o primeiro grande escritor de quadrinhos, mas o que ele fez em uma série de obras dos anos 1980, como Miracleman, Monstro do Pântano, V de Vingança e Watchmen, estabeleceu parâmetros a partir dos quais passaram a ser julgados gibis de super-herói e afins. Seu truque, resumidamente, consiste em aplicar a lógica do realismo a esse universo, inserir os homens e mulheres fantasiados no mundo real, lidando com problemas reais de seu tempo – a ameaça de guerra nuclear, crises sociais, desastres ambientais – o que, não raro, significa desconstruir os personagens a ponto de retratá-los como tiranos.)
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