Mesmo quem não assiste ao Big Brother Brasil 2017 acompanhou a repercussão e o debate acerca da relação do casal Emilly e Marcos na segunda-feira. No Twitter, por meio da hashtag #EuViviUmRelacionamentoAbusivo assisti à cena do programa exibida logo após a expulsão de Marcos, que bastou para que eu pudesse titular este artigo desta forma. Esta é a edição da sororidade. O termo, difundido a partir da consolidação do movimento feminista no Brasil, expressa a união entre mulheres, baseada na empatia e no companheirismo, em busca de objetivos em comum. E foi exatamente isso que se pode ver e, espero, que deve continuar até a final do reality show.
A imagem amplamente compartilhada nas redes sociais reproduzia o diálogo que a advogada Vivian travou com Emilly junto de Ieda. De forma completamente empática, após o apresentador Tiago Leifert garantir o óbvio, de forma atrapalhada, que a culpa não era da gaúcha, ela disse: "Talvez eles não tivessem como te ajudar se algo pior acontecesse. Eles querem evitar que coisas que acontecem diariamente lá fora, acontecesse também aqui dentro. (...) Talvez tu não estivesse enxergando que estava precisando de ajuda. Não precisa ter intenção de machucar, Emilly, agressão é agressão".
Vivian sugere – e somente sugere – que toda a situação a que Emilly foi submetida, dada as investidas de Marcos, havia sido de violência. O tom adotado pela advogada deu-se pelo fato de que Emilly não conseguia – e provavelmente não consegue até agora – enxergar a gravidade da situação. Porque chorava copiosamente, desacreditada, no colo de Ieda. Em vez de julgá-la, a dupla limitou-se a consolá-la – comprovando mais uma vez a existência de sororidade. No Google Trends, aliás, a palavra teve um pico de 100 buscas às 23h de segunda-feira, logo depois do programa.
Desde que se envolvera com o médico, Emilly havia sido cobrada por telespectadores e internautas sobre por que não conseguia livrar-se do comportamento de Marcos. A própria Ieda já havia alertado a sister acerca da postura do namorado, justificava o público, que também encurralou a emissora sobre as cenas de violência psicológica e física transmitidas na festa de sábado. "A Emilly tem que levantar o bracinho e mostrar aquele roxo embaixo do braço", dissera a mama sobre a jovem conterrânea.
Cobravam um empoderamento e uma conscientização que vítimas como Emilly dificilmente possuem e, mesmo se possuíssem, poderia ser subtraído pelo "terror psicológico" do agressor, como definiu a delegada que assumiu o caso. Mas também deixaram o brother permanecer na casa no paredão de domingo quando Marinalva teve 77% dos votos e foi eliminada.
Ieda e Vivian não estavam emocionalmente envolvidas como a gaúcha estava com o participante expulso – é difícil aceitar que quem se ama também pode te destruir. Por isso, a dupla teve a clareza necessária para praticamente desenhar a violência sofrida pela participante. Vivian definiu a agressão psicológica ao dizer que o ato pode não deixar marcas físicas. Também indicou que esse tipo de violência pode ser o início de algo mais grave, que pode evoluir para bofetadas, estupro e até a morte. E que, portanto, precisa ser detectado e combatido. Talvez Emilly entenda daqui um tempo.
A sororidade da conversa travada pelas participantes finalistas também extrapolou a casa do BBB. Centenas de milhares compartilhavam desde a noite de segunda-feira suas próprias histórias de violência psicológica sofridas. Umas curtiam as postagens das outras. Comentavam, replicavam. Torciam para que não passassem mais por aquilo. Apoiavam-se. Encorajavam a denúncia.
Que essa conversa solidária do trio continue nos ensinando por muito tempo, principalmente a não julgar a mulher que é vítima de violência. No final da história e na final do BBB, somos sempre nós por nós mesmas.
*Gabriele Duarte é repórter do Diário Catarinense e atua na cobertura de questões de gênero.
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