Um dos grandes nomes da música instrumental do Rio Grande do Sul, Plauto Cruz gravou dezenas de obras. Enquanto muitas delas acabaram se perdendo no tempo, outra parte ainda vive, mas sem acesso fácil. Reverter essa situação é o objetivo do Acervo Plauto Cruz, iniciativa que está digitalizando e colocando na internet a discografia do mestre do choro.
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O projeto começou a ser desenhado oficialmente em 2014, mas já existia há muito tempo no coração de seu idealizador, o músico e pesquisador Paulinho Parada.
– Comecei a me interessar pelo Plauto aos 7 anos de idade, quando ganhei um disco dele do meu avô – conta. – Em 2007, já como músico, me tornei amigo dele e passei a admirá-lo também como pessoa.
No começo dos anos 2010, durante o curso de graduação em Música da UFRGS, Paulinho explica que incomodava o fato de estudar predominantemente os cânones europeus da música. Acreditava que nomes como Plauto também tinham que ter suas obras analisadas pela academia – o que o levou a iniciar uma pesquisa científica, patrocinada pelo Fumproarte, sobre o flautista de São Jerônimo, hoje com 88 anos.
O resultado foi o artigo O Universo Sonoro de Plauto Cruz, publicado na Revista Vórtex da Universidade Federal do Paraná, em 2015. Nele, Paulinho discorre sobre a obra e a trajetória de Plauto – das rádios de Porto Alegre, como músico contratado, aos palcos do Brasil, ao lado de gente como Lupicínio Rodrigues, Orlando Silva e Elis Regina. A partir da recuperação da história, o pesquisador passou à recuperação da discografia, com o processo de digitalização da obra de Plauto – tarefa nada fácil, uma vez que as gravadoras que publicaram os discos de Plauto não existem mais.
– Alguns discos eu tenho, outros eu fui pedindo emprestado, como o O Choro é Livre, que eu peguei com a filha do Plauto para digitalizar – explica Paulinho.
A plataforma escolhida para receber a obra do "chorão" foi o YouTube. No canal que leva o nome do flautista, já estão alocados, além de O Choro é Livre (1978), os álbuns Remanso (1993, com Mário Barros), Choros e Canções (1999), 26 Anos de Parceria (2003, com João Pernambuco) e Engenho e Arte (1996, com Mário Barros). A ideia, segundo Paulinho, é privilegiar a obra de Plauto como compositor e intérprete, uma vez que, como músico acompanhante, não há sequer registro da quantidade de canções gravadas por ele:
– O Plauto tocava muito, acompanhava qualquer músico que fosse gravar um disco na (gravadora) Isaec, por exemplo. Por isso, temos participações dele desde em discos de artistas que não estouraram aos grandes nomes, como Kleiton e Kledir e Lupicínio.
Hoje mestrando em Música na UFRGS, Paulinho está ampliando sua pesquisa para outros grandes nomes da música gaúcha que caíram no ostracismo. Nós da Noite: Velha Guarda Musical de Porto Alegre é o nome do estudo que pretende recuperar parte da memória musical da Capital nos próximos anos.
– Temos uma série de músicos e instrumentistas, que atuaram ali pelos anos 1950, 1960, 1970 e por aí adiante, mas que não se preocuparam em organizar sua obra. É um pouco de olhar e perguntar porque essa gente está esquecida e o que podemos fazer para valorizar esses artistas – comenta Paulinho. – Até para que, no futuro, não se repitam mais esses cânones europeus com tanta veemência ao invés de, por exemplo, Plauto Cruz.