Se o cinema também tem como papel amplificar e expor realidades diversas, Internet – O Filme é uma ode ao universo dos youtubers brasileiros. Com um elenco formado pelas maiores webcelebridades do país, com roteiro do humorista Rafinha Bastos e montado em forma de esquetes, o longa estreia nesta quinta nos cinemas como um marco da força alcançada por esses jovens que ligam uma câmera no quarto de casa e falam o que vem à cabeça.
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Desde o primeiro minuto de filme, estão lá Julio Cocielo, Cellbit, Thaynara OG, Pathy dos Reis, Felipe Castanhari, Mr. Poladoful, Rafinha Bastos, Gusta Stockler, Cauê Moura, Gabi Lopes – a lista contempla grande parte da turma dos nomes mais visualizados do YouTube brasileiro. Mesmo as "websubcelebridades" são contempladas: Mr. Catra, Palmirinha, Raul Gil e Celso Portiolli aparecem por alguns segundos, como piscadelas para o público juvenil que vai entender a piada. E mesmo eles fazem força para entrar na brincadeira, como quando Raul Gil vai entrevistar uma youtuber em ascensão e o papo não rende, ao que o apresentador diz para o câmera:
– Vamos atrás do cara que se meleca de Amoeba!
Christian Figueiredo, que recentemente levou ao cinema o seu Eu Fico Loko!, também marca presença, quase como uma participação especial. Diferentemente do filme de estreia do youtuber, lançado há pouco mais de um mês, no entanto, Internet claramente não tem a intenção de ser uma comédia para a família: se o primeiro segue a trama clássica das chamadas "globochanchadas", com humor inofensivo e personagens arquetípicos, esse mais recente é recheado de palavrões, escatologia e nonsense – e talvez esteja aí o seu pecado. Por vezes, Internet dá um acabamento exagerado para piadas toscas, o que pode causar fastio na audiência jovem mais despretensiosa. Em especial no núcleo dos três amigos vividos por Julio Cocielo, Igão Underground e T3ddy, roteirizar cenas que poderiam ser improvisadas talvez tenha sido um erro. Por outro lado, as temáticas mais espinhosas acabaram rendendo ao filme classificação indicativa para maiores de 14 anos – o maior público das estrelas do filme é de adolescentes.
O roteiro de Internet, a bem da verdade, é praticamente dispensável: uma galerinha do barulho é colocada em uma, veja só, premiação de internet e lá se mete em altas confusões. As ações são divididas em esquetes: um youtuber odiado (Rafinha Bastos, no papel de Cesinha Passos) contrata um psicopata (Paulinho Serra) para ser seu social media na intenção de ser mais amado; um casal de "youtubers da terceira idade" (Maurício Meirelles e Micheli Machado) rouba o cachorro de um mendigo (Muca Muriçoca) para tentar criar um canal lucrativo; um gamer (o gaúcho Cell Bit) é sequestrado por um playboy desajustado (Mr. Poladoful, numa das atuações mais divertidas do filme) para colocá-lo no primeiro lugar do ranking de Street Fighter; uma dupla de amigas formada por uma fã de youtubers (Thaynara OG, talvez na melhor atuação do filme) e uma hater (Gabi Lopes). Se o roteiro mirou no sucesso argentino Relatos Selvagens, como já disse Rafinha, acabou acertando em Para Maiores, filme montado da mesma forma com algumas das maiores celebridades de Hollywood – que foi considerado um dos maiores fracassos do cinema americano recente.
Mas Internet – O Filme tem mais méritos do que defeitos. Ainda que as atuações não sejam dignas de Oscar, a irreverência e a descontração que levaram todos ali a alcançarem milhões de seguidores no mundo virtual conseguem ser traduzidas na tela do cinema. O roteiro, ainda que seja nada complexo, deixa espaço para piadas constantes. Com celebridades que acabaram de chegar à maior idade reunidas com símbolos de gerações anteriores (aceite, Celso Portiolli não é mais jovem), o filme também mostra que consegue dialogar com outros mundos. Se o cinema ainda engatinha para se aproveitar da popularidade de estrelas da web, Internet ajuda a dar mais um passo à frente.