Então é Natal. E se lembraram da Simone era o objetivo, senão agora já estão lembrando dela, e nada como esse espírito de comunhão nas festividades, seja pela maravilha, seja pelo horror. Presentes magros se anunciam. Será a crise. Perdemos muitos amigos, ao menos os secretos, porque até agora nem o de 1,99 rolou. Cantemos juntos, pois, com o Roberto, e esqueçam as implicâncias, o ano foi áspero, mas o rei estará lá, ou ponham Frank Sinatra no som, ou Nat King Cole, sempre me comovi mais com o cancioneiro natalino americano do que com a melancólica miséria do "eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel", ainda mais quando as reservas andam baixas.
E falando em reservas, se vocês têm uma para presentes, deem livros, são mais baratos que camisetas, que acessório para celular, livros a mancheias, comprados nas livrarias de bairro que não sobreviverão à hecatombe de 2016, livros duráveis, emprestáveis, que viajam e decoram bem. E tenho indicações para agradar a todos os gostos.
Começo por um livro do Sérgio Rodrigues sobre os usos do português pátrio, chamado Viva a língua brasileira, interessante para conhecedores do idioma e tanto mais para gente como a gente, que só esgrima com as palavras. Outra obra imperdível, agora por sua sensibilidade, é a segunda coletânea de poemas da Wislawa Szymborska, Um amor feliz, que se não agradar à pessoa agraciada será prova definitiva de que ela tem um bloco de granito por coração. Para quem gosta de história, há um livro sobre as duas grandes guerras de Ian Kershaw, De volta do inferno. Para a turma do romance, recomendo o volume 4 (não precisa ler os outros antes) da saga pessoal do norueguês Karl Ove Knausgård, Uma temporada no escuro.
Minha mãe perguntou sobre o que era (calma, dona Tonha, não é este o presente) e eu disse que ele tratava das coisas comuns e cotidianas da própria vida, e ela perguntou como isso podia ser bom, ao que respondi que não sabia explicar, mas que era fenomenal. E, por fim, indico meu livro com as crônicas aqui de ZH, O livro das coisas verdadeiras. E antes que pensem que é descaramento, imodéstia, permitam-me discordar: imodéstia seria eu presenteá-lo a alguém, isto aqui é, no máximo, um anúncio natalino sapeca.