Entre consertos e lembranças, Amauri José Colvero, 75 anos, restaura histórias em uma pequena oficina dentro da própria casa, na região central de Santa Maria.
Debruçado sobre uma bancada, é cirúrgico ao utilizar chaves, pinças e conectar fios que recuperam diversos equipamentos. Por aqueles rádios, válvulas e amplificadores, foram transmitidos capítulos importantes da história do país, de informativos a radionovelas.
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A memória musical também é revisitada a cada vinil que roda em elegantes toca-discos. Alguns são coleção de família como uma eletrola Teleunião de 1962, modelo 531AE, onde Colvero colocou um disco do Demônios da Garoa ao receber a reportagem do Diário na última sexta-feira. A propósito, ele guarda, em casa, mais de 600 vinis. Os de música clássica são seus prediletos.
Há mais de seis décadas, ele se dedica ao rádio que, além de instrumento de trabalho, é um companheiro de todas as horas. A curiosidade o impulsionou desde muito pequeno. A primeira experiência foi no Colégio Coração de Maria:
– Era um rádio tipo Piloto, quando não tinha nem corrente alternada. Eu tinha uns 10 anos. Levei para casa e devolvi funcionando. Depois, comecei a mexer em ferro elétrico, fogareiro e fui gostando. Levei muito choque também, brinca.
Assista ao vídeo:
A genialidade em instrumentalizar botões e, mesmo, fabricar peças permitiram que, aos 15 anos, Colvero montasse a própria estação de rádio escondido dos pais. Mas, à época, as rádios eram fiscalizadas pelos Correios e deveriam ser licenciadas.
– Coloquei na frequência das rádios amadoras o disco com a música Moritat, um jazz. Não demorou muito e me denunciaram. No ar, alguém chegou a dizer: quem é esse louco? Lembro que fiquei com medo de ser preso e me escondi embaixo da mesa – conta, com bom humor.
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Em 1955, ele deixou de ser amador e recebeu o primeiro diploma em um curso de Radiotécnica. O curso foi todo feito por correspondência, entre São Paulo e Santa Maria.
Em seguida, começou a trilhar uma trajetória pelas rádios da cidade e em vários municípios da região, revolucionando a qualidade sonora das emissoras. A primeira indicação foi na década de 1960. Trabalhou na assistência técnica, passando pela mesa da Rádio Medianeira. Também prestou serviços para Guarathan, Santa-Mariense e Rádio Universidade.
Sem data para parar
Natural de Santa Maria, Colvero está aposentado. É casado, tem três filhos e um neto. Por anos, prestou assistência a multinacionais como Mitsubishi e Akai, mas sempre realizou, em paralelo, seus serviços com rádios. No mesmo endereço, manteve por décadas a extinta Eletrônica Santa Maria. Atualmente, encara a atividade como lazer.
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Popular na cidade, mesmo sem uma placa em frente à residência, recebe muitos pedidos para consertar equipamentos. A mediação se dá, principalmente, no boca a boca e por Fabricio, filho do aposentado, que mantém atualizado o site e a fanpage do Restaurações Colvero.
Vídeos e tutoriais com técnicas preciosas do profissional são divulgados na internet e já ajudaram amantes de rádios em várias partes do mundo.
– O pessoal aparece e conserto. Gosto mesmo é de fabricar umas pecinhas que não se acham mais. Só não tenho pressa. Tem uns rádios que levam até 40 dias para ficar prontos. Não tenho data para parar. Vou seguindo. É uma coisa que eu gosto de fazer– informou o sábio veterano.