"Na medicina campeira, o que remédio não cura se cura com brasa e prece, tesoura e quem sabe benzedura..."
Tornei-me mãe há pouco mais de um mês. Gonçalo teimou e resolveu nascer no 20 de setembro, poucos minutos depois da meia-noite. O guri decidiu por si e, ao contrário do que se possa pensar, trouxe a preocupação de que tanto "gauchismo"possa, ao invés de aproximá-lo, fazer o guri ficar ressabiado com tanta tradição.
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"Esse aí vai ser azedo de tão gaúcho", disse um amigo.
E, no fim, acredito que sim. Tradição é algo de casa mesmo.
Mas não se preocupe, este não é mais um texto sobre maternidade, ou "maternagem", termo moderno para tratar de uma das atividades mais antigas da humanidade: gerar, parir, criar e educar um novo ser. É, sim, mais um texto sobre tradição, sobre passar conhecimentos e hábitos adiante.
Gonçalo tinha poucos dias, e algumas feridinhas apareceram na pele. Diagnóstico: brotoejas. Como mãe de primeira viagem e com acesso à tecnologia, mandei uma mensagem para o pediatra, que prontamente me receitou um creme. Ao meu lado, minha mãe dizia: "Os antigos recomendavam banho de maizena".
Lá fui eu. Creme no primeiro dia. No segundo, o remédio caseiro foi acrescentado ao tratamento. Confesso que não sei o que realmente deu efeito, e que a maizena foi bem mais barata.
Dias depois, uns branquinhos na língua traziam outra preocupação. Sapinho, confirmou o doutor. Lembrei do poema do Telmo de Lima Freitas que citei acima e que continua: "Sapinho doutor não cura, o bom é mandar benzer...".
Aplicamos o remedinho, mas, de qualquer forma, eu e minha mãe largamos em casa:
"O que é que eu corto sapo brabo, te corto a cabeça e te corto o rabo. Benzemos em nome de Deus e da Virgem-Maria".
Não temos a força das benzedeiras, atividade que está desaparecendo, mas, de alguma forma, mantemos viva a crendice. Lembrei de, quando criança, muito ter sido benzida para que desaparecessem umas "berruguinhas" que eu tinha no peito. No fim, a gente nunca sabe de onde vem a cura, mas acreditar nunca fez mal a ninguém.
Que bom poder receber ainda essas informações que passam de geração a geração e que fazem a maternidade ter tanta relação com a tradição, afinal, nada melhor do que a mãe da gente nos passar o saber.