Vladimir Netto acompanha de perto as principais fases da operação Lava-Jato como repórter da TV Globo. A partir de sua experiência, o jornalista mineiro lançou Lava-Jato: O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil, livro que reconstitui uma linha do tempo da operação. O autor esteve neste domingo na 62ª Feira do Livro de Porto Alegre e conversou com a reportagem de ZH sobre o best-seller, que está há 20 semanas na lista de mais vendidos do país e será adaptado em uma série produzida pela Netflix. Confira:
Como foi a decisão de escrever a respeito da Lava-Jato?
Foi um processo natural. Há muitos anos cubro os grandes escândalos, a luta contra a corrupção. Cobri várias operações e tinha certa frustração, porque elas começavam de modo espetacular, mas acabavam melancolicamente. Desde o início a Lava-Jato deu pinta de ser diferente. Na sétima fase da operação, em novembro de 2014, eu já estava na cobertura em Curitiba, e então começaram a ocorrer aquelas prisões. Naquele momento, percebi que estava diante de uma história que valia a pena ser contada em um livro. Algo diferente realmente estava acontecendo.
Você continua com a mesma opinião?
Sim. Até agora, a Lava-Jato foi bem-sucedida no que se propôs. A ideia era combater a corrupção na Petrobras, e isso está sendo feito. Essa operação venceu no que outras fracassaram.
Mas a Lava-Jato é criticada por muitos, que a apontam como uma operação política, que investiga mais alguns partidos do que outros. Qual a sua opinião?
Não vejo dessa maneira. Com o passar do tempo, ficará ainda mais claro que a Lava-Jato não é uma operação partidária. Ela pegou mais o PT porque era o partido que estava no poder e construiu esse esquema de corrupção. Se outros partidos estivessem no poder, pegaria esses outros partidos. Acho que, no final dessa história, vai pegar todo mundo. Pegou primeiro o PP, depois o PT, mas acredito que outros partidos, como PMDB e PSDB, também serão atingidos.
Até entendo essa crítica, mas vejo a Lava-Jato como uma operação técnica, atrás da corrupção, independentemente de partidos.
Como o senhor encara os vazamentos de informações para a imprensa?
Importante lembrar que a questão das gravações de Lula e Dilma não foram vazamentos; foi o juiz Sergio Moro que as divulgou. Os vazamentos, de forma geral, acabam ocorrendo, não há como evitá-los. Os jornalistas buscam informações o tempo todo, as informações são de interesse público, e há gente lá dentro que acha importante repassá-las... Essas coisas vão acontecendo. Mas não acho que há uma escolha de vazar apenas isso ou aquilo. Vaza de tudo. A maioria das informações vazou. Não vejo os vazamentos com um instrumento político. É a partir do esforço da imprensa em conseguir informações de interesse público que eles vêm à tona.
Seu livro será adaptado e vai se tornar uma série. O senhor está participando desse processo?
O José Padilha, que filmou Tropa de Elite (e é o produtor de Narcos), comprou os direitos da obra e está fazendo a adaptação para a Netflix. Então é um projeto muito bacana, no qual estou aprendendo muito. A série está em fase de roteirização, e estou inserido nela como consultor. Parte do texto é ficcional. Leio os episódios e dou minha opinião sobre o que tem ou não a ver com o que aconteceu, se é fato ou não. Isso me permite acompanhar de perto o processo criativo e ajudar nesse projeto, que é muito interessante.