Por estes dias foi anunciado o vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2016. De pronto se instalou nas redes sociais uma intensa discussão sobre a escolha da Academia Sueca. Normalmente tais decisões tendem a aprovações, indiferenças e contestações. Este ano parece que a questão ganhou novos contornos. O premiado é Bob Dylan – ícone da canção norte-americana, aplaudido pelo mundo.
A discussão, se não me equivoco, passou longe da contestação da obra do cancionista. O que gerou alguns arrepios e vozes exaltadas daqui e de acolá foi, tentando resumir, a pergunta: como um criador popular de canções ganha um prêmio de literatura? Devo desde já incluir-me entre aqueles que vibraram com a notícia. Tenho, sempre que posso, manifestado que compreendo a canção como um gênero literário (híbrido talvez, pela inerente interface com a música), mas reconheço e respeito disposições em contrário. E acredito que, por meio da canção popular, pode-se investigar profundamente a alma de um povo.
É isto que busca fazer uma publicação recém lançada pela Arquipélago Editorial: O alcance da canção – Estudos sobre música popular. Com organização dos professores Luiz Augusto Fischer e Carlos Augusto Leite, conta duas dezenas de artigos sobre diversos aspectos do universo da canção brasileira e internacional.
Naturalmente, como este espaço é dedicado à reflexão de temas da cultura regional, quero destacar três capítulos cuja leitura me parece indispensável para aqueles que buscam que não se apaguem as brasas debaixo destes nossos assados: Alcances da música popular no Prata – A milonga solta no tempo, de Marcos Miraballes Sosa; Atahualpa Yupanqui – Silêncio, caminho, guitarra e outros nomes, de Demétrio Xavier; e Califórnia da Canção – Poesia e a invenção do nativismo, de Álvaro Santi.
São estudos que alargam as visões sobre o cancioneiro musical sul-rio-grandense. Fazem-nos viajar pelas estradas reais e pelas vielas e becos da cultura regional. Da gauchesca platina até a primeira milonga gaúcha – Milonga do contrabando, do genial Luiz Menezes. Literatura, sim, salve a canção popular!