É quase impossível prever, antes de uma novela começar, quais personagens vão cair nas graças do público. Muitas vezes, os protagonistas não convencem ou empolgam tanto quanto aqueles que, de início, deveriam ser apenas coadjuvantes.
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Das quatro novelas no ar atualmente, duas possuem personagens secundários que se destacam. Em Sol nascente, Lenita (Letícia Spiller) e Vittorio (Marcello Novaes) tomam conta da trama com o carisma de quem já fez sucesso junto em outra época. Já em Haja coração, as dificuldades, a superação e, principalmente, a história de amor de Shirlei (Sabrina Petraglia) e Felipe (Marcos Pitombo), com todos os ingredientes de um conto de fadas, ganharam a torcida dos telespectadores logo no começo.
Assim como essas, outras novelas também tiveram coadjuvantes que roubaram a cena. Mas quais os motivos para tanto sucesso, a ponto de deixar protagonistas apagadinhos? Retratos das Fama te conta!
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Em Sassaricando (1987), de Silvio de Abreu, os personagens principais eram Aparício (Paulo Autran) e a família Abdala. A Tancinha de Claudia Raia era coadjuvante, mas acabou se transformando no grande destaque da história. Em Haja coração, releitura da trama que está no ar e termina no dia 8 de novembro, a personagem, agora vivida por Mariana Ximenes, virou a protagonista. Mas, desta vez, quem domina todas as rodas de conversa é Shirlei (Sabrina Petraglia), que virou a mocinha mais querida das novelas em exibição, graças a seu romance açucarado com Felipe (Marcos Pitombo), com quem forma o casal 20 do momento.
Até então pouco conhecidos, os dois foram alçados ao posto de celebridades e, desde o começo, os telespectadores acompanham cada passo do conto de fadas de seus personagens, com direito a armações, separações e, provavelmente, um final daqueles bem felizes. Nas redes sociais, os fãs os apelidaram de "Shirlipe".
– Não dá pra negar que a Shirlei é quem está projetando meu trabalho para o grande público. Na tevê, com certeza, é a minha primeira personagem marcante, um dos papéis da vida, algo que marcará a minha carreira pra sempre – disse a atriz à revista Mensch, da qual é capa de outubro.
Vale lembrar, também, que Shirlei não é uma personagem nova. Ela foi criada também por Silvio de Abreu para a novela Torre de Babel (1998) e vivida, na época, por Karina Barum.
Largaram na frente
Sol nascente estreou no dia 29 de agosto, mas, só agora, o amor de Mario (Bruno Gagliasso) e Alice (Giovanna Antonelli) começa a emplacar, embora ainda não arrebate o público. Em compensação, outro romance já incendiava a torcida antes mesmo de a novela entrar no ar: o de Lenita (Letícia Spiller) e Vittorio (Marcello Novaes).
O motivo de tanto alvoroço? Possivelmente, a demora no desenvolvimento na relação dos protagonistas, que esfriou a empolgação do telespectador, somado ao carisma de Letícia e Marcello, que foram casados por cinco anos na vida real.
Quem não lembra de Quatro por quatro (1994), na qual os dois interpretaram o inesquecível casal Babalu e Raí? O namoro da ficção impulsionou a paixão longe das câmeras.
Assim que surgiu a notícia de que o ex-casal voltaria a ser par romântico, pipocaram nas redes sociais mensagens de fãs torcendo por Lenita e Vittorio e, também, por um possível retorno também do casamento deles. Resultado dessa química: é o casal mais bombado da novela das seis.
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– O pessoal gosta da gente porque nós temos uma imagem bacana da nossa família, as pessoas se identificam e torcem porque está no inconsciente coletivo de quem acompanhou aquela história em Quatro Por Quatro, a nossa história de vida – disse a atriz, ao site Observatório da Televisão.
Amor improvável, sucesso na certa
Uma mulher com uma história difícil, que luta para melhorar de vida e precisa lidar com dificuldades também no amor. Essa trama bem que caberia a uma mocinha, mas era a história da voluptuosa Bebel (Camila Pitanga), de Paraíso tropical (2007).
A personagem era uma prostituta que se envolveu com o poderoso e sisudo empresário Olavo (Wagner Moura). A paixão entre os dois, regada a trapalhadas da moça e dilemas de Olavo, que custou a admitir que estava apaixonado, movimentaram toda a novela e conquistaram os telespectadores.
Eram brigas no meio da rua que acabavam em beijos ardentes e muitos momentos hilários. Não demorou para que a trama principal, das gêmeas Paula e Taís, vividas por Alessandra Negrini, ficasse em segundo plano diante das cenas inesquecíveis do casal.
– Sem dúvidas, tem um antes e depois da Bebel no meu trabalho, para quebrar com uma expectativa de boa moça que as pessoas fazem de mim – disse Camila, em entrevista ao programa Viva voz, do GNT.
Amor e superação
Como toda novela de Manoel Carlos, Viver a vida (2009) teve a sua Helena. Taís Araújo viveu a primeira protagonista negra das novelas do consagrado autor. Mas a trama que emocionou e prendeu os telespectadores no sofá foi a de Luciana (Alinne Moraes).
A personagem era uma jovem mimada que queria deslanchar na carreira de modelo, sonho interrompido por um acidente de carro que a deixou tetraplégica. Foi quando começou a virada da personagem. Luciana se tornou um símbolo de superação, e o público vibrava a cada conquista da personagem.
Mas foi a guinada na sua vida amorosa que fez de Luciana a grande mocinha da novela das nove. Ela terminou com o noivo Jorge, que não a apoiava e temia que ela não tivesse filhos, e acabou se apaixonando por seu irmão gêmeo, Miguel. E foi essa história de amor e cumplicidade que comoveu o país e arrebatou o horário nobre.
O final, é claro, foi feliz. Luciana se casou com o amado, evoluiu em seu tratamento e teve filhos gêmeos.
Questionada se a Luciana teria sido o seu melhor trabalho, Alinne respondeu ao jornal Extra:
– Não sei responder. O que posso dizer é que este trabalho foi muito desafiador. Além de me exigir muito, me ensinou uma lição de vida, de amor, de humanidade, desapego... A Luciana me virou do avesso, revi meus medos e alegrias, coragens e covardia.
Explicação complexa
Não faltam personagens secundários que roubaram a cena dos protagonistas na história recente das telenovelas. Difícil é encontrar uma explicação para este fenômeno. Acredito que seja uma soma de fatores que resulta em uma equação de sucesso. O talento dos atores, um bom texto, diálogos afiados e bordões inesquecíveis são o combustível que impulsionam uma história de sucesso. O resto fica por conta do público, ou seja, a torcida que garante uma vitória louvável ou um fracasso lamentável no último capítulo.
Somos nós, telespectadores, os principais responsáveis pelos rumos das novelas. Ser uma obra aberta garante que as histórias possam ser modificadas totalmente se não emplacarem ou ganhar mais espaço caso estejam arrebatando o público, ainda que o feito seja dos coadjuvantes. O sucesso é deles, mas o poder é nosso.
O que dizer de Lilia Cabral, incrível como a vilã Marta, em Páginas da vida (2006)? A Helena de Regina Duarte (a terceira da atriz em tramas de Manoel Carlos) quase sumiu diante do talento da coadjuvante.
Lilia, aliás, é uma das maiores "ladras de cena" da teledramaturgia. Foi assim também em A favorita (2008), Viver a vida (2009) e, até mesmo, em Laços de família (2000), novela da qual participou apenas de poucos capítulos, mas o suficiente para arrasar com o coração do público.
A coadjuvante com pinta de protagonista só foi escalada para um papel principal em 2011, a Griselda/Pereirão de Fina estampa. E foi justamente aí que ela foi ofuscada pelo brilho purpurinado de Crô (Marcelo Serrado), o fiel mordomo de Tereza Cristina (Christiane Torloni). (MICHELLE VAZ PRADELLA)