Televisão nunca foi o foco de Lee Taylor, o Martim de Velho Chico. Com experiência no teatro e no cinema, o ator admite que, mesmo tendo recebido propostas no passado, este nunca foi seu principal objetivo. A vontade de trabalhar com Luiz Fernando Carvalho, diretor da novela, fez com que aceitasse o papel na trama das nove, exibida pela RBS TV. Além disso, também pesou o fato de, desta vez, poder conciliar o folhetim com outros projetos.
– O Luiz Fernando já havia me convidado para uma minissérie, mas, na ocasião, estava em cartaz com um espetáculo, filmando um longa e no meio de uma pesquisa de mestrado. Infelizmente, não pude aceitar. Agora, o convite veio em um momento em que foi possível conciliar teatro e televisão – conta Lee, que também é diretor, pesquisador e professor de teatro.
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A experiência de trabalhar em um novo veículo tem sido estimulante para ele. Antes de ir ao ar, o ator teve dois meses intensos de preparação, que serviram para se apropriar do personagem, Martim, o filho mais novo do coronel Afrânio (Antonio Fagundes). Fez parte do processo uma semana de debates sobre o contexto da novela com pesquisadores e artistas, uma contribuição que foi relevante para Lee.
– Me encantei pelo personagem desde a primeira conversa com o Luiz Fernando. A morte da mãe no parto, o conflito com o pai, o rompimento com a família, a solidão, o olhar do fotógrafo, a transformação da personagem depois de vivenciar a guerra, a volta às origens, entre outras questões que estão sendo apresentadas ao público aos poucos, me fizeram mergulhar profundamente no universo dele – afirma.
Pesquisa contínua para compor Martim
Para Lee, o cinema é a maior referência estética de seus trabalhos. Por esta razão, o ator reviu os filmes Lavoura arcaica, de Luiz Fernando Carvalho; Festa de família, de Thomas Vinterberg; e A árvore da vida, de Terrence Malick. Além disso, contou com a orientação do fotógrafo Emidio Luisi, que direcionou seu olhar para a composição da imagem na fotografia.
– Todos os detalhes influenciam na composição do personagem, manifestam caráter e reverberam no seu modo de agir em cena: o sotaque, o cabelo comprido, a barba, o uso de uma câmera fotográfica digital e outra analógica, o estilo da roupa. Ainda estou pesquisando referências a partir do encaminhamento que Martim está tendo na trama. Diferentemente do cinema, o teatro e a novela permitem essa pesquisa contínua – salienta.
Como a caracterização do ator diz muito a respeito do personagem, houve um cuidado especial em escolher de que forma Martim apareceria em cena. Inclusive, o diretor de Velho Chico interveio antes que começassem a gravar a primeira cena de Lee para agregar um toque que remetesse a Afrânio quando jovem, personagem vivido por Rodrigo Santoro na primeira fase.
– O último detalhe sugerido pelo Luiz, momentos antes de gravarmos a primeira cena, foi o cabelo para cima, sempre revelando a testa. Algumas dessas características foram propositadamente escolhidas para sugerir uma relação de espelhamento entre Martim e Afrânio antes de se tornar um coronel – confessa.