Em 2015, quando veio ao Brasil a convite do Festival Varilux para divulgar a simpática comédia romântica Gemma Bovery – A vida imita a arte, a diretora francesa Anne Fontaine contou a ZH que seu próximo projeto seria bem diferente: um pesado drama histórico baseado em um fato verídico. Agnus Dei, o novo filme da cineasta, é um dos destaques da programação da edição 2016 da mostra de cinema francês, que segue até o dia 22 apresentando 15 longas-metragens inéditos no circuito brasileiro – Agnus Dei terá sessão gratuita nesta segunda-feira, às 14h, na Sala Redenção.
Inspirado na trajetória de Madeleine Pauliac (1912 – 1946), médica francesa que atuou com a Cruz Vermelha na Polônia, Agnus Dei narra a história de uma jovem voluntária trabalhando em um hospital de campanha ao final da II Guerra Mundial que depara com um fato chocante e inusitado: muitas freiras de um convento vizinho estão grávidas por conta de estupros cometidos por soldados nazistas e russos.
A dedicada mas ainda pouco experiente médica francesa Mathilde (Lou de Laâge) passa então secretamente a visitar e auxiliar no parto as reclusas religiosas polonesas, que temem ser rejeitadas pela família e pela sociedade e submetem-se ao rigor da madre superiora (Agata Kulesza, do oscarizado filme polonês Ida).
– Minha personagem no filme não é religiosa. Mas ela se apega à crença e ao valor de um trabalho como o que realiza. Os caminhos são os mesmos: Mathilde se fixa na ação, enquanto as freiras se apegam à espiritualidade – compara em entrevista a Zero Hora a protagonista Lou de Laâge, atriz de 26 anos que recebeu neste ano o Prêmio Romy Schneider, entregue a expoentes do cinema francês.
Entrevista:
Lou de Laâge, protagonista do filme Agnus Dei
A violência contra a mulher voltou a ser manchete no Brasil por conta de um caso de estupro coletivo ocorrido no Rio de Janeiro. Como você avalia a importância desse tema em Agnus Dei?
É preciso falar sobre isso. Apesar de se passar logo após a II Guerra, o filme fala de um assunto atemporal. Em Agnus Dei, o estupro é usado como se fosse uma arma, para provar certo poder. Mas o que gosto no longa é que ele não fala só da violação, e sim de como uma pessoa se reconstrói depois.
Como foi a preparação para o papel?
Fiz um trabalho junto a uma parteira e um médico. Depois, ensaiamos num convento. Não há muitos documentos sobre essa mulher, só um diário, que é muito técnico. É por isso que, no filme, todos os personagens são romanceados.
Você ganhou destaque em Respire (2014), de Mélanie Laurent. Fale sobre seu personagem naquele filme.
Quando a Mélanie me chamou, eu disse: "Ela ouviu minhas preces!". Até então, eu tinha feito personagens parecidas, jovens muito doces. Tinha decidido fazer só teatro enquanto não me oferecessem outro tipo de papel. E aí veio essa narcisista perversa. Foi sorte! (risos)
>Festival Varilux de cinema francês
Diariamente, até o dia 22, em cinemas de Porto Alegre, Novo Hamburgo, Pelotas, Santa Maria e Rio Grande.