Um dos melhores humoristas da nova geração brasileira, Márvio Lúcio, o Carioca, do programa Pânico, chega a Porto Alegre nesta sexta para apresentar o espetáculo Dilma Ducheff: Saudando a mandioca. No show, que tem sessão nesta sexta, às 22h, no Teatro da Amrigs, o humorista brinca com a presidente afastada, mas avisa que as críticas não são só aos políticos:
– Eu sou a representante, mas foram vocês que me colocaram lá. Eu sou a presidente, mas falo para as pessoas: "vamos falar de vocês um pouquinho"? – explica Carioca, encarnando o personagem da petista.
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Em entrevista por telefone, ele diz que sente falta do humor político, avalia uma possível entrada na política e explica por que considera o interior do Rio Grande do Sul um exemplo de civilidade.
O fato de a presidente, que é o alvo principal das suas piadas, estar afastada prejudica o espetáculo?
O espetáculo tem umas coisas surpreendentes. Eu acabo fazendo a Dilma mostrar para as pessoas que elas são iguais. Esta é a brincadeira: eu me coloco no lugar da Dilma e faço com que as pessoas entendam como que é ser presidente, como o Brasil é um lugar difícil. O teatro dá a oportunidade de as pessoas encontrarem a presidente, e eu quero ver se elas têm coragem de falar na cara dela o que elas pensam. E dá a chance de a presidente também retrucar. O sentido é: somos todos iguais, somos todos brasileiros, eu sou a representante, mas foram vocês que me colocaram lá. É uma reflexão. Eu sou a presidente, mas falo para as pessoas: "vamos falar de vocês um pouquinho?".
Você já teve algum problema com pessoas que discordaram politicamente do que você estava falando no espetáculo?
Nunca. Porque é comédia. É tudo uma grande brincadeira, um escracho. Na peça, a Dilma se coloca como uma pessoa comum,
Falta ao humor brasileiro mais conteúdo político?
Eu acho o humor brasileiro muito fraco na política. Foi muito bom nos anos 1980, mas entrou em desuso. Acho que mais por desinformação do que por qualquer outra coisa. Eu adoro desde pequeno, sempre fui muito interessado em política, em saber como funciona, as questões internas. Quando eu era criança, adorava imitar os políticos da época. E o humor é um excelente instrumento de informação, se você souber induzir isso de maneira irônica, debochada. O brasileiro associa muito a política à podridão, e enquanto a gente não tiver a consciência de que estamos lidando com a coisa pública, não vamos melhorar. O interior do Rio Grande do Sul me ensinou isso.
Como assim?
O Estado que eu mais admiro no Brasil é o Rio Grande do Sul. Quando tive a oportunidade de ir à região serrana, fui pela estrada e fui vendo cidades pelo caminho que me impressionaram. Mesmo com casas simples, carros simples na garagem, a calçada é impecável, a cidade é linda, é tudo organizado. Olha como é possível, quando se tem consciência de comunidade. O interior do Rio Grande do Sul ensina muito.
O nome do espetáculo é Saudando a mandioca, referência a uma declaração da presidente. Acontecimentos reais também ajudaram na hora de pensar o espetáculo?
Claro. Olha o nível a que chegamos: "saudar a mandioca", "estocar vento", "o cachorro por trás". A Dilma nos proporcionou momentos surreais, então isso me deu a ideia. Porque não é possível a pessoa falar as coisas que ela fala, é inacreditável. Pensei na hora: "vamos brincar com isso!".
Você já pensou em entrar para a política?
Cara, eu sou artista. Meu foco todo é na parte artístico. Considero que minha colaboração política está no meu serviço. Aproveito minha exposição para promover ideias, levantar questões, fazer críticas. Inclusive sofro pressão por conta disso, vinda de correntes diversas de pensamento, mas faz parte do jogo democrático. Mas acho que sou um cara que contribui.
Carioca – Dilma Ducheff: Saudando a mandioca
Teatro da Amrigs (Ipiranga, 5311)
Sexta-feira, às 22h.
Ingressos: R$ 100, à venda nas lojas Multisom e E O Vídeo Levou, e no site www.blueticket.com.br.