Uma das cenas mais impressionantes (e menos críveis) do cinema é aquela do Super-Homem fazendo a Terra girar em sentido contrário, para o tempo retroceder e evitar a morte de sua namorada. Desolados com os rumos do país, os brasileiros andam sonhando com algo parecido. Outro dia, um jovem de 22 anos tirou momentaneamente os olhos e a atenção do seu celular e me disse:
– Se Cabral tivesse passado reto e desembarcado em outro lugar, os índios certamente teriam construído um país melhor.
Solução mágica. Voltar no tempo para recomeçar tudo. Tem gente mais pragmática (e melhor nascida, provavelmente) que prefere fugir para Miami. Já li, também, que muitos brasileiros estão trocando Miami por Lisboa, para escapar dos impostos norte-americanos e aproveitar facilidades oferecidas pelo mercado imobiliário português. Segundo o jornal El País, os brasucas já formam a mais numerosa comunidade estrangeira em Portugal, com 87 mil residentes.
Pelo jeito, estamos dando o troco para os descendentes de Cabral.
Mas, se ele tivesse passado reto, como imaginou meu jovem amigo, outros europeus teriam desembarcado em nossas praias e não seríamos muito diferentes do que somos. É bobagem querer voltar no tempo. Melhor é pensar o que podemos fazer com o nosso tempo, para melhorar o país atual e o futuro das próximas gerações. Gosto de uma frase que está se popularizando – e até se desvirtuando, pois alguns políticos já tentam dela se apropriar:
– Eu não quero viver em outro país, quero viver em outro Brasil.
Outro Brasil. Podemos, sim, construir um outro Brasil, com as nossas mãos, com o nosso trabalho, com o nosso envolvimento nas decisões e o nosso exemplo para a juventude. Crises realmente abrem oportunidades para mudanças. Se está ruim – e está, não vamos nos enganar –, é porque existe espaço para melhorar. Somos capazes, temos que acreditar nisso.
Nada de fuga. Vamos enfrentar a adversidade, o pessimismo e o derrotismo.Não adianta pensar que o Super-Homem virá nos salvar com os seus truques, até mesmo porque ele também já anda levando surra do Batman. Não precisamos de super-heróis. Precisamos de brasileiros.