Desde 2004 que o Brasil não recebe uma exposição grandiosa daquele que é um dos maiores artistas do século 20. A lacuna será preenchida a partir deste domingo, 22, em São Paulo, quando abre a exposição "Picasso: Mão Erudita, Olho Selvagem", com 153 obras do artista espanhol, 90% delas inéditas no Brasil.
A mostra está montada no Instituto Tomie Ohtake, organizador da exposição junto com a Arteris, concessionária de nove rodovias no Brasil, entre elas a BR-101 e BR-116, em Santa Catarina. Em agosto, a mesma dobradinha levará para Florianópolis a exposição do arquiteto espanhol Gaudí.
A disposição das peças, em ordem cronológica, passa a limpo toda a obra e a vida de Picasso. A exposição começa com um retrato feito aos 14 anos:
– Já é possível notar o talento dele, basta observar a capacidade de reproduzir o rosto e o corpo humano. Essa é a fase naturalista da carreira – explica a curadora da mostra, Emilia Philippot, curadora também do Museu Nacional Picasso-Paris, na França (Emilia guiou um grupo de jornalistas nesta sexta-feira em visita à exposição).
A morte de um grande amigo virou quadro e abre a próxima fase do trabalho, chamada Azul. A cor adotada em tons frios e melancólicos revela o momento pessoal de vida do artista, início dos anos 1900, quando Picasso vivia de maneira muito pobre em Paris.
A exposição avança e o visitante chega a veia cubista de Picasso:
– É uma obra para ser lida, descriptada. É uma partitura – comenta a curadora sobre O Homem Com Violão (1911) – A música envolve outros dois quadros cubistas no mesmo recinto.
O reconhecimento
A partir de 1917, quando começa a namorar a bailarina russa Olga, Picasso torna-se um artista reconhecido. O quadro inacabado do filho Paul, vestido de arlequim, é o destaque deste momento da exposição.
Segue-se então para outra fase ícone, o surrealismo. Aqui ele pinta a mulher – especialmente Maria Tereza, 17 anos, com quem tem um relacionamento extraconjugal. Vale parar e observar por longos minutos toda a genialidade do artista expressada em Figuras À Beira-Mar, em que o erotismo flerta com a violência.
O ápice da mostra vem a seguir, ao atravessar o vão central do Instituto Tomie Ohtake, e entrar na sala escura e tensa de Guernica, a obra-prima de Picasso. Neste espaço, há fotos da composição de Guernica, feitas pela então mulher de Picasso, Dora, que o fotografou enquanto executava o painel. Obras como Mulher Chorando (1937) e O Orador também estão neste espaço, marcando a fase de artista engajado e inconformado com os horrores da guerra.
Chega-se agora à fase final do passeio, com peças em cerâmicas ensolaradas, produzidas pelo artista quando se mudou para o Sul da França, e por gravuras com as relações amorosas como tema. A mulher agora é Jaqueline, sua última esposa. A mostra termina com um autorretrato de Picasso, feito em 1972, um ano antes de sua morte.
– No autorretrato, ele sorri. Ele sabe que está velho, que vai morrer. É um convite ao futuro, aos jovens pintores para que prossigam com a arte e a criação – explica Emilia.
Serviço
O quê: exposição Picasso, Mão Erudita, Olho Selvagem
Quando: de 22 de maio a 14 de agosto de 2016. Visitação de terça a domingo, das 10h às 19h
Onde: Instituto Tomie Ohtake (Av. Brigadeiro Faria Lima, 201, entrada pela Rua Coropés, 88, Pinheiros, São Paulo)
Quanto: R$ 12, R$ 6 (meia-entrada).
Dica para chegar:Vá de metrô. Pegue a linha amarela e desça na estação Faria Lima. Pergunte aos atenciosos funcionários do metrô qual a saída mais próxima do Tomie Ohtake. Ao sair na Av. Faria Lima, já da para ver o prédio rosa e preto do Instituto. Uma caminhada de 800 metros separa o visitante da entrada do Instituto.
Ingresso à venda em ingresse.com
*A jornalista viajou a convite da Arteris