Aos 21 anos, um inexperiente Craig Leon foi o produtor responsável por traduzir o fenômeno catártico promovido pelos Ramones nos palcos em uma das gravações mais importantes da história do rock. Por e-mail, ele conversou com Zero Hora.
Marco do punk rock, primeiro disco dos Ramones foi lançado há 40 anos
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Você já disse em entrevistas que os Ramones, quando entraram em estúdio, não sabiam como acabar as músicas. Como foi seu primeiro contato com eles?
No início, eles tocavam tudo como uma grande música, só com as contagens de "one, two, three, four" as separando. Era mais uma performance artística do que um set de rock. E eles seguiam tocando à exaustão ou até tudo se dissolver em caos e energia. Para gravar em estúdio, isso teve de ser refinado. Gravando as demos e ensaiando (e, sim, ensaiaram bastante), eles acabaram refinando essa abordagem.
Como você fez para levar a energia deles do palco para o estúdio?
Tudo foi feito de maneira precisa. Colocamos um metrônomo na frente da bateria e desligamos o som do clique, deixamos apenas a luz piscando na batida. Tommy tocava religiosamente no ritmo, e todos os outros o seguiam. A banda sabia exatamente o que queria fazer e trabalhou duro para atingir o resultado esperado.
Fale sobre como Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy contribuíram no processo criativo durante as gravações de Ramones.
Eles discutiam as ideias entre si e decidiam o que queriam. Tommy era o porta-voz, e todas as ideias da banda eram filtradas para o "mundo externo" por ele. Mas todos os garotos tinham opiniões muito firmes sobre sua música e sobre como a banda deveria soar. Eu tenho experiência de composição e arranjo e uso bastante isso no meu trabalho de produtor, mas fui muito cuidadoso em não impor isso nesta banda em particular. Eu só me preocupei em realçar as ideias deles.
Os Ramones gostavam muito de bandas pop como Abba e Beatles. Como você usou isso no estilo punk deles?
O que fiz foi trabalhar com elementos que eles já tinham. A banda, particularmente Joey, amava grupos de garotas, pop britânico, doo wop e todas as raízes musicais do rock. Eu amava as mesmas coisas. Acabamos desenvolvendo ideias de backing vocals e outras texturas. Fizemos isso de maneira que elas fossem perceptíveis como partes em si.
Como foi a repercussão do disco na mídia e entre o público?
Muitos DJs e diretores de rádios de rock não gostaram do disco. Em contrapartida, a maior parte da imprensa simplesmente amou o álbum. As pessoas que leram sobre o disco saíram à procura dele, mesmo que não tivessem escutado nenhuma música nas rádios. E quando conseguiam pôr as mãos em uma cópia, era muito provável que acabassem formando uma banda ou pelo menos impondo a ética dos Ramones à sua mentalidade.
Quais eram as condições de gravação à época?
O álbum foi gravado em um estúdio muito bom e atualizado. Tínhamos os melhores equipamentos e microfones disponíveis à época. O motivo de a gravação soar diferente é porque a banda tocava daquela maneira e é daquela forma que eles soavam.
O orçamento foi um problema?
A gente não pensava nisso como um problema. Por que precisaríamos de mais tempo? Ensaiamos e sabíamos exatamente o que tínhamos de fazer. Não ficamos brincando, fazendo festa, meditando ou qualquer coisa assim no estúdio. Fomos lá e fizemos.
Qual é a importância deste disco para a história da música?
Espero que ele seja importante e resista ao teste do tempo. Para mim, os Ramones são o último estágio do rock, e foi assim que eles se comportaram até o fim. Eles começaram um ciclo que continuou por um longo tempo e tomara que dure muito mais.
Qual é o principal legado deste disco, 40 anos depois?
O álbum provocou aqueles que amavam as mesmas músicas e ideias que os Ramones a fazerem algo com suas vidas do mesmo jeito que a banda, usando como fonte aquilo que eles julgavam ser importante. É para isso que serve o rock’n’roll.