Nos anos 1970, quando o vídeo passava a ser explorado de diferentes modos pelos artistas, logo se estabeleceram algumas vertentes, desde a videoarte e as videoinstalações, até os chamados filmes de artista. Marcel Odenbach, 63 anos, faz parte dessa história como um dos pioneiros videoartistas alemães, reconhecido hoje por sua obra comprometida em iluminar questões políticas e sociais do passado que repercutem no presente.
Odenbach é tema de duas exposições em Porto Alegre, promovidas pelo Instituto Goethe e pelo Instituto de Relações Exteriores (ifa, Alemanha), reunindo obras que destacam os principais aspectos de sua produção nos últimos 40 anos. No segundo andar do Margs, tem inauguração nesta terça-feira (5/4), às 19h, Marcel Odenbach – Stille Bewegungen. Movimentos Silenciosos. E, no Instituto Goethe, é apresentada uma mostra de vídeos com abertura na quarta-feira (6/4), às 19h, e palestra da historiadora da arte e curadora alemã Vanessa Joan Müller.
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Artista com obras no MoMA de Nova York e participações na Documenta de Kassel, Marcel Odenbach já teve obras apresentadas na Bienal de São Paulo, em 2002, e no Sesc Videobrasil, em 2007. Ele é reconhecido internacionalmente pelos trabalhos em que desenvolve narrativas audiovisuais baseadas na investigação de traumas da memória histórica. São obras que partem de sua reflexão sobre as consequências do nazismo, do período pós-guerra, da queda do muro de Berlim e do mundo pós-colonial que se diz globalizado.
– O trabalho de Odenbach aborda questões sociais e políticas contemporâneas através da lente da história recente, especialmente da própria história da Alemanha no século 20, desde o nacional- socialismo até a reunificação do país – diz Vanessa Joan Müller. – Muitas vezes, seu ponto de partida é a própria relação com a sociedade como um alemão nativo. A partir disso, ele reflete sobre problemas com significado pessoal, mas também global.
No Margs, são apresentados mais de 10 trabalhos, entre vídeos, videoinstalações e obras em papel. Um dos mais impactantes é In Still Waters Crocodiles Lurk (2004), filme de 30 minutos sobre o genocídio em Ruanda, em 1994. A videoinstalação consiste em duas grandes telas lado a lado, com projeções sincronizadas. Cada uma exibe uma narrativa distinta – por vezes, as imagens e os sons dialogam e se complementam; em outras, oferecem pontos de vistas múltiplos sobre a mesma cena.
Nessa obra, Odenbach usa a técnica que marca sua produção. O artista mistura filmagens suas com imagens de produções do cinema e da TV, além de arquivos audiovisuais. No caso, imagens documentais sobre o genocídio em Ruanda que ele encontrou na ONU, em Nova York, em 1995, um ano depois dos acontecimentos.
Ao invés de apresentar um documentário realista sobre a tragédia no país africano, Odenbach desenvolve uma narrativa poética e alegórica sobre o horror da matança de mais de 800 mil pessoas da minoria Tutsi promovida por extremistas de origem Hutu. No filme, o artista examina as consequências psicológicas em um país voltado para a difícil tarefa de, ao mesmo tempo, condenar assassinos e reconciliar os diferentes grupos étnicos que formam a população. Para Odenbach, trata-se de "uma documentação subjetiva sobre um drama em sete capítulos".
Esse viés político da obra de Odenbach aparece em videoinstalações que tratam de diferentes culturas e contextos sociais, a exemplo do imaginário sobre o masculino na Turquia, em Male Stories 1 (2003), e do papel da mulher na Venezuela, em Too Beautiful to Be True (2000). Em comum, são obras que se distanciam de uma arte do tipo panfletária e de mensagens literais, convidando o espectador a interpretar narrativas que tratam de temas complexos sem simplificá-los.
– Não há perspectiva única em suas obras, mas várias, e o público tem de decidir que ponto de vista selecionar. A dimensão política do trabalho de Odenbach consiste nessa ativação do espectador – afirma Vanessa Joan Müller. – Os vídeos não mostram uma visão simples do mundo. Ao contrário, tornam as coisas mais complicadas. Essa estratégia, que aponta para a complexidade em vez de oferecer respostas simples, é política em si.
MARCEL ODENBACH – STILLE BEWEGUNGEN.MOVIMENTOS SILENCIOSOS
Abertura terça-feira (5/4), às 19h.
Visitação a partir de quarta-feira (de terça a domingo, das 10h às 19h). Até 28 de maio. Entrada gratuita.
Margs (Praça da Alfândega, s/nº), em Porto Alegre, fone (51) 3227-2311.
A exposição: apresenta a produção de um dos mais importantes videoartistas alemães com vídeos, videoinstalações e obras em papel realizados nos últimos 40 anos.
MOSTRA DE VÍDEOS DE MARCEL ODENBACH
Abertura quarta-feira (6/4), às 19h, com palestra da historiadora da arte e curadora alemã Vanessa Joan Müller.
Visitação a partir de quinta-feira (de segunda a sexta, das 9h às 21h, e sábados, das 9h às 13h). Até 28 de maio. Entrada gratuita.
Instituto Goethe (24 de Outubro, 112), em Porto Alegre, fone (51) 2118-7800.
A exposição: apresenta vídeos de Marcel Odenbach selecionados pelo artista para a galeria do Goethe.