1. Monstro (interlúdio)
Se é antes de começar tudo, não deveria ser um prelúdio? Não, porque é um interlúdio que liga o DeFalla de hoje com o DeFalla do início dos anos 1980.
2. Monstro
O disco é temático de uma maneira torta. Quando vi a letra do Bortolotto, sobre um cara misantropo, que detesta a sociedade moderna, vomita na cara das pessoas, falei: "esse vai ser o conceito do disco!". Sem a gente ter planejado, as letras foram se encaixando, até que virou um disco temático.
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3. Zen Frankenstein
Fala sobre a busca pela espiritualidade na cidade grande. Nunca houve uma loucura tão grande por alimentação natural, yoga, essas coisas, mas o cara sai de lá e briga no trânsito, é filha da puta com a namorada. É um zen frankenstein, feito de vários pedaços. Essa música tem muito a cara do DeFalla, uma coisa funk metal. Sem falsa modéstia, a gente ajudou a construir o funk metal, junto com Faith no More, Red Hot Chili Peppers, todos bebendo ao mesmo tempo da fonte do George Clinton. Estava tudo rolando ao mesmo tempo. Uma vez, o (produtor musical) Miranda nos mostrou uma música do Funkadelic e falou que a gente tava copiando. Eu respondi para ele que nunca tinha ouvido aquilo na vida, mas que parecia Repelente, mesmo. É sincronia psicodélica, inconsciente coletivo. Toda essa galera, nós somos uma raça de ETs, não interessa se fizemos música nos anos 1970, há 10 anos ou agora, é uma coisa atemporal.
4. Dez Mil Vezes (com Humberto Gessinger)
DeFalla e Engenheiros sempre foram antagônicos na mídia, de falar merda um sobre o outro, uma relação meio Stones e Beatles. Essa música é para coroar esse relacionamento. E eu queria juntar o gênio pop do Alemão (apelido de Edu K para Gessinger) com o gênio pop do Castor e ver no que dava. Botei os dois no liquidificador e saiu essa música.
5. Veneno
Essa letra é da Solange De-Ré, uma ex-namorada minha, sobre a armadilha social que são os relacionamentos românticos. A gente tinha um relacionamento muito abrasivo, então não conseguíamos achar um porto seguro no outro. Relacionamentos românticos são uma armadilha social, quase uma coisa política, de ter que ter um par, uma alma gêmea. A obrigação de ter uma cara metade é uma maneira de se distanciar de ti mesmo, da tua alma.
6. The Redundant Master (interlúdio)
Sou eu tirando sarro com esses mestres redundantes. É um cara falando a mesma coisa de vários jeitos diferentes. Que nem em The Seeker, do The Who: perguntei para todo mundo e ninguém sabe nada.
7. Fruit Punch Tears (In The Treasure Hunt)
Fala sobre a busca incessante do amor romântico e de como isso é agridoce: bonito como um algodão doce, mas frio como a pele de uma cobra. A música tem uma pegada bem funk do Bronx, via Partenon – tanto que no fim a gente ainda dá uma zoada com o James Brown.
8. Delírios De Um Anormal (com Pitty)
Eu sempre admirei a Pitty, tem uma baita voz. Nessa música, que é inspirada em Zé do Caixão, aflorou nossa veia grunge e stoner. Quando eu comecei a colocar notas mais altas, pensei: "isso é a cara da Pitty!". Ela curte muito a banda, então quando eu mandei essa música para ela, ela pirou.
9. Aldous Huxley
Resolvemos homenagear caras que incentivaram a expansão mental e espiritual. Essa é explicitamente psicodélica, uma composição minha com o Nenung, do The Darma Lóvers. Dizem que o Brian Wilson conversou com Deus enquanto fazia o Pet Sounds, né. Na real, ele conversou consigo mesmo, com o universo absurdo que existe dentro da cabeça dele. É mais ou menos uma viagem do Brian Wilson enlouquecendo enquanto ouve o universo interno dele.
10. Ken Kesey
É uma homenagem ao cara que escreveu Um Estranho no Ninho. Na década de 1950, o governo americano queria transformar o LSD em arma, e uma galera pensou: "temos que levar isso para as pessoas".
11. Timothy Leary (com Beto Bruno)
O Beto é um estudioso dos anos 1960, sabe tudo de Timothy Leary. Essa música é uma reverência a psicodelia via Madchester, via Stone Roses. A música acabou sendo uma ponte entre o DeFalla e a Cachorro Grande, então ele é o cara perfeito para estar ali, no olho do furacão.
12. Love Is For Losers
Esta música eu fiz para a Solange De-Ré, num momento de muito sofrimento da relação. Ela diz que o amor é para idiotas, para perdedores. Essa frase parece azeda, mas é verdade, porque o amor romântico é uma ilusão. E as pessoas sofrem por isso. A vida seria muito mais simples e divertida se as pessoas fossem mais 1% vagabundo e menos 99% anjo.
13. Mate - Me
É a Não me Mande Flores de 2016. Tem uma batida tribal da Biba que se une com a guitarra meio P.I.L. do Castor. Fala, de novo, sobre relacionamentos.
14. Minha Vida É Uma Aventura Existencial Filmada Por Godard
Um dia eu acordei com mensagens de voz, em um grupo do WhatsApp, de uma amiga dizendo que tinha sonhado que tinha morrido e acordou achando a vida maravilhosa. É a história de passar para o outro lado, chegar no limite. E os sons que rolam no fundo são o sangue correndo na veia dela. Botar um amigo contando uma história é algo que a gente já fez em outros discos, é quase um costume do DeFalla. Esse disco tem isso, tem repetições de coisas antigas, mas não é exatamente igual.