À primeira audição, o disco de estreia “solo” de Fabricio Gambogi é tributário do minimalismo do compositor americano Steve Reich. Mas as fruições seguintes podem revelar camadas mais profundas que fazem alusão aos contemporâneos Schnittke e Ligeti, à banda de rock progressivo King Crimson e às músicas indiana e africana.
Embora Eco em Horizonte tenha sido gravado por uma formação de câmara (oboé, clarinete, violino, viola, contrabaixo, piano, vibrafone e percussão), o som está na fronteira entre o erudito e o popular, lembrando o trabalho do grupo americano Bang on a Can All-Stars. Gambogi, 32 anos, prefere que seja entendido assim mesmo:
– É um trabalho híbrido. Se disserem que é música de câmara, concordarei. Se acharem que parece trilha de filme, também. Se quiserem ouvir como se fosse música pop, tudo bem. Mesmo no universo erudito, alguns dirão que tem uma sonoridade diferente. Buscamos pouco reverb na gravação, e pedi para os músicos tocarem com pouco vibrato.
Atuando como “quarto elemento” nos shows do trio pop Dingo Bells, Gambogi se insere na longa e honrosa lista de roqueiros que são compositores de música de concerto. Veja se ele não está bem acompanhado: Frank Zappa, Paul McCartney, Jonny Greenwood (Radio-head), Richard Reed Parry (Arcade Fire) e Damon Albarn (Blur e Gorillaz).
Para Gambogi, que integra bandas de rock desde os 13 anos, a abertura ao novo surgiu quando viu, pela primeira vez, um clarinete ser tocado ao vivo por um colega do Instituto de Artes da UFRGS. O disco Eco em Horizonte faz parte deste percurso acadêmico: o ciclo de sete músicas é resultado de seu trabalho de mestrado em composição.
A gravação foi ainda em 2011, mas o projeto havia ficado adormecido até dezembro passado, quando as faixas foram disponibilizadas no YouTube. O CD terá sessão de autógrafos neste sábado (9/4), das 16h às 18h, na Livraria Cultura do Shopping Bourbon Country (Tulio de Rose, 80), em Porto Alegre.
Na ocasião, Gambogi lançará também o livro Eco em Horizonte – Forma, Estrutura e Processo em um Ciclo de Composições (Prismas, R$ 52, 101 páginas), baseado em sua dissertação de mestrado. A composição Espaço será apresentada em dois horários – às 16h30min e às 17h30min – por Íris Andrade (violino), Júlio César Wagner (oboé) e Aninha Freire (contrabaixo), com regência de Lucas Alves. Durante as execuções, a artista Gaby Benedyct pintará aquarelas inspiradas na música, assim como fez com a arte do CD.
Quem não conseguir identificar as diversas referências citadas no primeiro parágrafo desta reportagem mesmo depois de várias audições não deve se sentir frustrado, avisa o compositor:
– Ninguém dirá que tem referência de música cubana, mas tem. Schnittke e Ligeti falavam muito sobre entender os procedimentos que levam uma música a ser o que ela é, ou seja, dissecar sua estrutura, em vez de simplesmente tentar imitar o som.
ECO EM HORIZONTE
De Fabricio Gambogi
Independente, sete faixas. Lançamento neste sábado (9/4), das 16h às 18h, na Livraria Cultura do Shopping Bourbon Country. O CD estará à venda por R$ 29,90. Outras informações no site do compositor.
Ouça o disco Eco em Horizonte na íntegra: