Eles presenciaram o auge e o declínio do disco de vinil – de todas as rotações – e do CD, dos programas musicais de rádio e TV. Na era do streaming na internet, os Demônios da Garoa comemoram 73 anos enchendo teatros – a apresentação em Porto Alegre nesta quinta, às 21h, no Teatro do Bourbon Country, está quase lotada, e o conjunto paulistano já tem marcado um novo show no mesmo local, no dia 7 de agosto. Além da Capital, o quinteto toca também em Santa Maria (amanhã, no Morotin Park Hotel) e em Passo Fundo (sábado, no Grand Palazzo Eventos). Os Demônios estão desde 2013 na estrada com a turnê comemorativa de 70 anos.
– O show é calcado no nosso primeiro DVD. Além de mostrar os clássicos do grupo, a gente homenageia artistas como Wando, Ataulfo Alves, Jair Rodrigues e até Herbert Vianna, cantando Óculos – diz o cantor e percussionista Sérgio Rosa, o Pimpolho, falando a Zero Hora por telefone.
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Filho do vocalista e ritmista Arnaldo Rosa, um dos fundadores dos Demônios, Sérgio herdou do pai o instrumento: o afoxé, um tipo de chocalho. Aos 61 anos, Pimpolho integra a veterana formação há 35 – o "demônio" mais antigo é o vocalista e cavaquinista Roberto Barbosa, o Canhotinho, que entrou em 1962. Completam o escrete infernal Izael Caldeira, o Catraca (vocal e timba), Dedé Paraizo (vocal e violão de sete cordas) e Ricardinho Rosa (vocal e pandeiro) – filho de Sérgio.
Entre as 486 músicas já gravadas pelos Demônios da Garoa, estão os antológicos sambas de Adoniran Barbosa (1910 – 1982) responsáveis pelo sucesso tanto do grupo quanto do compositor: Trem das Onze, Samba do Arnesto, Saudosa Maloca, Iracema, Tiro ao Álvaro e As Mariposa. Um repertório que cristalizou um samba de temática popular e bem-humorada, repleto de onomatopeias e gírias, cantado com um sotaque mezzo paulistano, mezzo italianado. Essa embocadura de cantina do Bixiga, porém, nasceu de modo quase acidental – e, no começo, desagradava a Adoniran.
– Ele gravou Saudosa Maloca em 1949 e não aconteceu nada. Meu pai começou a interpretar a música de brincadeira com as palavras erradas. Então, em 1953, nos bastidores da Rádio Nacional de São Paulo, o Manuel da Nóbrega ouviu os Demônios cantando desse jeito e disse: "Vocês vão cantar assim no meu programa!". Mas o Adoniran não gostou: "Vocês estragaram minha música". Depois, ele aceitou e até passou a compor assim. Virou a identidade do grupo. Acho que Demônios e Adoniran é um dos casamentos mais perfeitos da música nacional – diz Pimpolho, acrescentando:
– O projeto é chegar aos cem anos. O trem não pode parar.