A mudança de elenco que marcou o começo da segunda fase da novela Velho Chico trouxe Camila Pitanga de volta ao horário nobre da RBS TV. A entrada em cena da personagem da atriz, Maria Tereza (que na primeira fase da trama foi vivida por Isabella Aguiar e Julia Dalavia), foi bem recebida pelo público nas redes sociais.
Camila nem ficou tanto tempo fora do ar – atuou em Babilônia, folhetim das 21h exibido até agosto de 2015 – e diz agora que realiza um sonho antigo seu e de seu pai, o ator Antônio Pitanga: trabalhar com o diretor Luiz Fernando Carvalho. Ela lembra que quase fez um teste para uma novela do diretor, há mais de 20 anos. Mas, ao ler a cena, sentiu receio e não participou da seleção:
– Agora, sinto como se estivesse recomeçando pelas mãos do Luiz.
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Na entrevista a seguir, Camila relembra essa passagem, fala sobre a nova fase de Velho Chico e adianta os conflitos que Maria Tereza enfrentará na trama.
O elenco da segunda fase de "Velho Chico" demorou muito tempo para começar a gravar. Como você lidou com essa expectativa?
Muito antes de começarmos a gravar, estávamos trabalhando intensamente no galpão do Luiz Fernando Carvalho, nos Estúdios Globo. É difícil explicar tudo que experimentamos nesses exercícios, inclusive junto com o pessoal da primeira fase. Trabalhamos bastante a improvisação. E fizemos canto, prosódia, enfim, nos dedicamos intensamente à novela bem antes.
Você falou de prosódia, mas a Bahia faz parte da sua vida e até de outras personagens suas na TV...
Sim, mas essa é uma Bahia do interior, é diferente. É uma Bahia sertaneja, tem peculiaridades que, por mais que eu seja filha de baiano, me faz cavar, lavrar na palavra e na postura. É um tempo de fala que não tem o mesmo ritmo da cidade. A capital tem um frenesi. O interior é rudimentar, de uma temporalidade bem específica. Ainda mais em uma obra orquestrada pelo Luiz Fernando Carvalho, em que até os silêncios falam. A Maria Tereza vai para a metrópole, mas a alma dela é do interior.
Como foi dividir essa personagem com outras atrizes?
A gente trabalhou, se alimentou uma da outra. E tive sorte, porque a Isabella Aguiar e a Julia Dallavia são jovens, mas grandes atrizes. Julia acabou de fazer 18 anos, só que tem um poder e um talento incríveis. Tive a oportunidade de assistir às gravações, até porque queria poder ver ali, no local, como aquilo estava se dando. Pedi isso e fui atendida. Dividimos na improvisação coisas que nem estavam escritas. Julia viveu comigo, no galpão, a experiência de ter o filho, por exemplo. Muitas vezes, eu fiquei me experimentando como a menina Maria Tereza, de sete anos.
Você tinha acabado de finalizar Babilônia quando começou a estudar para "Velho Chico". Não pensou em recusar o convite?
Nunca! Era imperdível essa chance! Algo que tinha de acontecer. Quando estava começando minha carreira, meu pai me levou na Globo e disse que queria que eu começasse na TV pelo Luiz Fernando Carvalho. O Luiz estava fazendo testes para uma novela e me mostrou a cena. Era uma personagem que estava grávida, já tinha uma história, mas eu amarelei. De lá para cá, venho "perseguindo" o Luiz. Sou uma espectadora da teledramaturgia poética dele. Quando ele me chamou, lembrou desse encontro.
Maria Tereza acabou se casando com Carlos Eduardo (Rafael Vitti/Marcelo Serrado) em "Velho Chico". Como será a relação dos dois nessa segunda fase?
O espectador sabe que o Santo (Renato Góes/Domingos Montagner) é o pai do Miguel (Gabriel Leone). O Carlos Eduardo assume essa criança. Tudo levaria para que a gente já encarasse esse casal como condenado ao fracasso, porque os dois começaram uma relação “torta”. Mas existe uma cumplicidade, um pacto entre os dois que cria um laço de outra dimensão de amor. Porém, houve um desencontro amoroso com o Santo...
E como ela se sente em relação ao Santo agora?
É como se o amor de Tereza e Santo estivesse represado durante esses anos todos, dentro deles. Essa Tereza madura retorna à terra, se reconecta com o lado selvagem. Tereza é uma mulher que conversa com o rio! Mas, embora sua base fosse Salvador, ela foi para o mundo! O filho está na França, se formando em Agronomia, e ela nunca mais viu o Santo. Existe aquela incompreensão do que fez o amor se perder, mas o sentimento segue vivo nela. E ainda tem Cícero (Marcos Palmeira), amigo da infância que conhece a alma dela. Essa história vai dar bastante pano para a manga!
Fala-se muito sobre um resgate do folhetim clássico e interiorano com "Velho Chico", em contrapartida à avalanche recente de tramas urbanas na faixa das 21h – que inclui "Babilônia". Como você enxerga essa mudança?
Olha, na minha infância e juventude, fui uma telespectadora ávida das telenovelas. Me envolvia pelas paixões, torcia bastante. E estou com um entusiasmo quase juvenil nessa trama. Porque, sim, a gente trabalha um romance tradicional, de um folhetim clássico, mas não deixamos de criar reflexões contemporâneas. Acho que, assim como aconteceu em O Rei do Gado (1996), existe essa junção do lugar romântico, passional, com o viés crítico que aponta para um lugar muito fortalecedor.
Miguel chega formado em Agronomia e entrará em conflito com Afrânio (Antonio Fagundes). De que lado ficará Maria Tereza?
O Miguel não teve a asa cortada. Tereza voou e precisou se prender. Quando ela viu que o amor da vida dela se desencontrou, escolheu o papel de mãe e pensou no que era melhor para o filho. Ela vai falar de liberdade, mas o filho não teve a mesma história dela. Tereza ainda está rasgando a pele para poder atuar como combatente ao lado do filho. Já Miguel está com o sonho e a coragem muito cristalinos.