Soledad Villamil visita Porto Alegre pela quarta vez, agora numa estadia mais longa do que as anteriores, quando apresentou na cidade seus dotes de cantora, a outra metade de sua persona artística. Conhecida no Brasil por sua participação no oscarizado filme O Segredo dos Seus Olhos (2009), a atriz argentina filma na Capital sua primeira produção brasileira: Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos, longa-metragem com roteiro e direção do gaúcho Paulo Nascimento.
Empenhando-se para encontrar as palavras corretas em português, Soledad, nascida em La Plata há 46 anos, conversou com a reportagem de ZH durante uma breve pausa nos trabalhos no set montado em uma casa da Vila Jardim. E justificou por que pouco tem sido vista no cinema desde a consagração internacional com a trama que estrelou ao lado de Ricardo Darín – atuou em apenas dois filmes depois: o thriller Todos Tenemos un Plan (2001) e o drama político ¿Quién Mató a Mariano Ferreyra? (2013). Pouco antes de aceitar o convite de Nascimento, Soledad finalizou sua participação na segunda temporada do seriado de suspense policial La Casa del Mar.
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– Faço pouco cinema em razão da minha carreira como cantora. Quando leio um roteiro, procuro primeiro me colocar no lugar do espectador que assistirá àquela história. Recebi o roteiro do Paulo Nascimento há um ano e gostei muito. É uma história simples e ao mesmo tempo profunda.
Soledad orgulha-se de representar uma cinematografia cada vez mais reconhecida no Brasil e em outros países:
– Creio que essa boa recepção que o cinema argentino encontra tenha a ver com a diversidade de temas e propostas estéticas, com boas histórias que dialogam com um público que não é apenas o cinéfilo.
Em Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos, Soledad vive Clarisse, argentina que se casou com um brasileiro, Vitório (Edson Celulari), cego desde criança que é dono de uma pizzaria em São Paulo.
– É uma mulher forte, que deixou a carreira de química para trabalhar como professora e ajudar o marido na pizzaria – explica a atriz. – Eles têm uma filha adolescente, e Clarisse vive um momento de impasse existencial e afetivo, refletindo sobre a vida que teria se suas escolhas tivessem sido outras.
É inevitável perguntar a Soledad o que ela achou da refilmagem em Hollywood de O Segredo dos Seus Olhos – no Brasil, Olhos da Justiça (2015) –, produção em que seu papel é vivido por Nicole Kidman. Sem entrar em detalhes na comparação, ela destaca:
– O Segredo dos Seus Olhos aborda na trama uma história política local muito forte (a ditadura militar) que é interligada às vidas dos personagens. O filme americano tem outro contexto histórico (o 11 de Setembro) e, sem esse mesmo peso, é mais uma trama policial.
Política, aliás, é um tema que Soledad acompanha com interesse. Ela espelha a expectativa dos brasileiros nesse atual período de turbulência em Brasília com a dos argentinos diante do recente governo do presidente Mauricio Macri:
– Estamos vendo na Argentina esse aumento absurdo de preços. É uma situação preocupante, que envolve ainda muitas demissões. Macri também anulou mudanças na lei que buscavam regular os meios de comunicação, torná-los mais democráticos. A Argentina, como o Brasil, é um país jovem. Temos muito a aprender. E talvez nós, argentinos, sofrendo mais uma vez.
Soledad filma em Porto Alegre até o próximo domingo, dia 10. Depois segue com a equipe para São Paulo para rodar cenas em locais como o Bixiga, bairro onde a trama de Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos é ambientada.
Novo disco na volta para casa
Assim que retornar a Buenos Aires, Soledad Villamil dará início à produção de seu quarto disco. Nos três anteriores – Soledad Villamil Canta (2007), Morir de Amor (2009) e Canción de Viaje (2012) –, ela gravou tangos, milongas e canções do folclore latino-americano, registrando obras de nomes referenciais como Atahualpa Yupanqui, Alfredo Zitarrosa, Violeta Parra e Pablo Milanés. Foi esse repertório que Soledad cantou em suas apresentação na Capital em 2010 e 2011, ambas no Teatro do Bourbon Country, e em 2013, no Auditório Araújo Vianna.
– Sou muito apaixonada por cantar e também por atuar. Mas só consigo me dedicar a uma paixão por vez. Preciso pôr fim a um projeto para dar início a outro. Este novo disco deverá ter mais composições minhas – afirma Soledad.
A música brasileira é uma fonte de inspiração constante, destaca ela, fazendo questão de iluminar um artista em especial:
– Chico Buarque, sempre. A ZH, Soledad antecipou uma das faixas que poderá estar presente no próximo álbum:
– Estou pensando em gravar A Outra, do Los Hermanos.
Veja uma performance de Soledad Villamil cantando Biromes y Servilletas, do uruguaio Leo Maslíah.