Salim Miguel é o principal nome da literatura catarinense em nosso tempo. Desenvolveu uma carreira independente dos círculos literários paulista e carioca e uma obra de grande originalidade. Libanês de nascimento, fez do seu estado de adoção o cenário de seus livros, em especial, as cidades de Florianópolis e Biguaçu, para onde convergem suas memórias da infância e da juventude. Renomado jornalista, tem 33 livros publicados, entre contos, romances, crônicas e depoimentos.
O penúltimo livro lançado foi Reinvenção da infância (Editora Novo Século), um testemunho do como a experiência de mundo das crianças é subjetiva e, ao mesmo tempo, tem algo de universal. A história se passa entre duas cidades do universo ficcional do autor: Biguaçu e Florianópolis. Para contar as experiências de um menino estrangeiro que precisa se adaptar à cidade e à própria infância, Salim Miguel constrói narrativas curtas, fragmentadas como a memória. Qualquer semelhança com a própria história não é mera coincidência.
Em 1964, Salim Miguel foi preso pela Ditadura Militar
Salim Miguel deixa um rico legado de contribuições jornalísticas e criações literárias
Em 2015, aos 91 anos, aventurou-se mais uma vez por gêneros não explorados. Lançou Nós (EdUFSC), novela policial iniciada antes do acidente que sofreu em 2012 – uma queda em casa que provocou traumatismo craniano e o deixou em coma. A trama se concentra em Brasília, envolve personagens de vários estados do Brasil (é praxe na obra se Salim inserir histórias das cidades onde morou), um assassinato e o mistério que se cria para descobrir o culpado.
Preferências literárias
Livro inesquecível
São dois: Dom Quixote, de Cervantes, e As mil e uma noites.
Trecho inesquecível
" Como é que isso vive em tua memória? O que vês mais, no escuro do passado e no abismo do tempo? Se consegues lembrar-te de algo acontecido antes, também podes lembrar-te de como para cá vieste", de Shakespeare.
Livro mais perturbador
Ulisses, de James Joyce, lido quando eu tinha 24 anos de idade.
Livro que gostaria de ter escrito
Pedro Páramo, de Juan Rulfo, ou A consciência de Zeno, de Ítalo Svevo.
Personagem que gostaria de ter criado
Hans Castorp, de A montanha mágica, de Thomas Mann.
Maior livro da literatura brasileira
Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Maior escritor da literatura brasileira
Machado de Assis, seguido de Lima Barreto e Graciliano Ramos.
Livro que você mais relê
Entre outros, os desses autores citados acima.
Livro mais superestimado que você conhece
Orlando, de Virginia Woolf.
Livro mais subestimado que você conhece
Os sete mistérios da casa queimada, do nosso Guido Wilmar Sassi.
Livro que merece ser adaptado para o cinema
Difícil de responder, um mau livro pode dar um excelente filme, e um excelente livro, um péssimo filme; são dois diferentes meios de expressão.
Livro que foi adaptado para o cinema e o resultado foi frustrante
Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
Livro que você daria de presente
Depende da pessoa. Para Eglê, os poemas de Florbela Espanca.
Livro que você gostaria de ganhar
Arriscaria um inédito de Fernando Pessoa, aí incluídos seus heterônimos.
Livro que você procura e nunca encontrou
Um policial de agora, com a categoria de um Hammet ou Chandler.
Maior mérito de um escritor
Compromisso com a vida e olhos atentos para seu tempo, tão complexo e tão injusto.
Um grande livro de um grande escritor.
É maldade perguntar isso, cito e logo me questiono, por que não outro? O vermelho e o negro, de Sthendal; Crime e castigo, de Dostoievski; e onde ficam os contos de Tchekov e Os ratos, de Dyonélio Machado? Por que não Cruz e Sousa, Carlos Drummond de Andrade ou Federico Garcia Lorca? Ah, sim, quais retirar para incluir O castelo, de Franz Kafka, e Sobre heróis e tumbas, de Ernesto Sábato?
Um grande livro de um autor pouco conhecido.
Berlin-Alexanderplatz, de Alfred Döblin.
Livro do qual você esperava gostar e que o decepcionou.
Um homem sem qualidades, de Robert Musil.
Livro do qual você não esperava nada e o surpreendeu.
Coração, solitário caçador, de Carson McCullers.
Homenagens
Como resultado de sua intensa e duradoura atuação literária e cultural, Salim Miguel obteve reconhecimento em suas cidades, em seu estado, e no país. Destaques:
- Diploma de Personalidade Cultural, da União Brasileira dos Escritores, em 1990
- Prêmio da União Brasileira de Escritores, por seu livro 1º de Abril- Narrativas da cadeia, em 1994
- Prêmio Prensa da Associação Catarinense de Imprensa, em 1996
- Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) de melhor romance do ano, pelo livro Nur na escuridão, em 1999
- Prêmio Zaffari & Bourbon de melhor romance brasileiro publicado entre 1999 e 2001, por Nur na Escuridão, em 2001
- Homenagem da Fundação Catarinense de Cultura, com o livro Salim na Claridade - 24 depoimentos, obra organizada pelo jornalista e escritor Flávio José Cardoso, em 2001
- Prêmio Juca Pato 2002, promovido pela União Brasileira de Escritores e pela Folha de São Paulo
- Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Santa Catarina, em 2002
- Prêmio Machado de Assis, que a Academia Brasileira de Letras concede a escritores cuja obra é considerada expoente da literatura nacional, em 2010
- Lançamento de um concurso que leva o seu nome, premiando um catarinense com a publicação de um romance, inédito, numa promoção da Editora da UFSC, em 2010.
Bibliografia
- Velhice e outros contos, Ed. Sul, Florianópolis, 1951
- Alguma gente, histórias, Ed.Sul, Florianópolis, 1953
- Rede, romance, ed. Sul, Florianópolis, 1955
- O primeiro gosto, contos, Ed. Movimento, Porto Alegre, 1973
- A morte do tenente e outras mortes, contos, Ed. Antares, RJ, 1979
- A voz submersa, romance, Ed. Global, SP, 1984
- Dez contos escolhidos, Ed. Horizonte, Brasília, 1985
- O castelo de Frankenstein, anotações sobre autores e livros, Ed. Lunardelli/ UFSC, Florianópolis, 1986
- A vida breve de Sezefredo das Neves, poeta, romance, Ed. Tchê, Porto Alegre, 1987
- As areias do tempo, contos, Ed. Global, SP, 1988
- O castelo de Frankenstein, volume II, Ed. Lunardelli/ UFSC, Florianópolis, 1990
- As várias faces, novela, Ed. Movimento, Porto Alegre, 1994
- Primeiro de abril, narrativas da cadeia, Ed. José Olympio, Rio de Janeiro, 1994
- As desquitadas de Florianópolis, contos, Ed. Rio Fundo, Rio de Janeiro, 1995
- Onze de Biguaçu mais um, contos, Ed. Insular, Florianópolis, 1997
- Variações sobre o livro, ensaios, EdUFSCar, São Carlos, 1997
- As confissões prematuras, novela, Ed. Letras Contemporâneas, Florianópolis, 1998
- Nur na escuridão, romance, Ed. Topbooks, Rio de Janeiro, 1999
- Apontamentos sobre meu escrever, Ed. Museu/ Arquivo da Poesia Manuscrita, Florianópolis, 2000
- Eu e as Corruíras, crônicas. Ed. Insular, Florianópolis, 2001
- Aproximações: leituras e anotações, anotações sobre livros, Ed. Letras Contemporâneas, Florianópolis, 2002
- Memória de Editor, com Eglê Malheiros, Ed. Memória do Livro, Florianópolis, 2002
- Estrangeiros: releituras, Ed. Letras Contemporâneas, Florianópolis, 2003
- Gente da Terra: perfis, Ed. Lunardelli, Florianópolis, 2004
- Mare Nostrum, romance desmontável, Ed. Record, Rio de Janeiro, 2004
- Cartas D'África e Alguma Poesia, organização, introdução e notas, Ed. ABL/ Topbooks, Rio de Janeiro, 2005
- O sabor da fome, contos. Ed. Record, 2007
- Minhas memórias de escritores. Ed. Unisul Tubarão SC, 2008
- Jornada com Rupert, romance. Ed. Record Rio de Janeiro, 2008
- Os Melhores Contos de Salim Miguel. Global Editora, São Paulo, 2009
Além desses, Salim Miguel organizou numerosas antologias e participou de outras tantas.
- Reinvenção da Infância, contos. Ed. Novo Século, São Paulo, 2011
- Fantasia e (é) realidade ou treze textos surreais, contos. Ilustração de Tércio da Gama. Ed. Unisul, Tubarão, 2012
- Nós, romance policial. EdUFSC, Florianópolis, 2015
Para o cinema, fez:
- Argumento e roteiro do filme O preço da ilusão, com Eglê Malheiros, Florianópolis, 1957-1958
- Adaptação e roteiro de A Cartomante ( conto de Machado de Assis), com Eglê Malheiros e Marcos Farias, Rio de Janeiro, 1973
- Adaptação e roteiro de Fogo Morto (romance de José Lins do Rêgo), com Eglê Malheiros e Marcos Farias, Rio de Janeiro, 1976