Nos mais de 30 anos de carreira do Megadeth, poucos álbuns foram tão cercados de expectativa quanto o recém-lançado Dystopia. Razões não faltam. Depois de um disco decepcionante (Super Collider, de 2013), os integrantes de longa data Chris Broderick (guitarra) e Shawn Drover (bateria) pediram as contas. Para os postos vagos, o líder Dave Mustaine recrutou músicos consagrados, que não deixaram seus grupos originais: o baterista Chris Addler, do quinteto americano Lamb of God, e o virtuoso guitarrista brasileiro Kiko Loureiro, do Angra. Mas o que poderia ser uma solução provisória montada às presas acabou se revelando uma bela surpresa.
Décimo quinto álbum da banda americana de thrash metal, Dystopia não só é um trabalho consistente como não faz feio aos álbuns lançados nas décadas de 1980 e 1990, quando o Megadeth construiu sua fama ao revitalizar o som pesado e ajudar a criar um novo subgênero, o thrash metal. Ao lado dos novos integrantes, Mustaine (guitarra e vocal) e o baixista e cofundador Dave Ellefson conceberam músicas que respeitam a tradição do grupo, mas também trazem novos elementos, apontando para o futuro. São faixas curtas, a maioria em torno de quatro minutos, que mostram uma sonoridade elaborada, construída com riffs de guitarra intrincados, solos inspirados, muitas variações rítmicas e as tradicionais letras com críticas sociais e políticas de Mustaine. Os fãs parecem ter aprovado. O álbum estreou no terceiro lugar da parada da Billboard, posição mais alta alcançada pelo quarteto nos Estados Unidos desde 1992, com o álbum Countdown to Extinction.
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Nada em Dystopia lembra as pretensões comerciais e o comodismo do trabalho anterior. Talvez o melhor exemplo da força do novo Megadeth seja a faixa-título, impulsionada por uma linha melódica de vocal e guitarra que gerou a música mais marcante da banda desde Trust, do álbum Cryptic Writings (1997), sem abrir mão do peso e do virtuosismo técnico. Merecem destaque também a pesadona Fatal Illusion, com sua letra sobre lares desfeitos e pessoas desajustadas, e a desconcertante Post American World, que traz variações rítmicas emoldurando uma letra sobre o colapso da civilização ocidental.
A colaboração de Kiko Loureiro, talvez um dos melhores guitarristas do Brasil, dono de um estilo sofisticado, que mescla o punch característico do metal com influências de música erudita e jazz, na sonoridade da banda fica mais evidente nas harmonias pouco usuais de Bullet to the Brain e de Poisonous Shadows – faixas com arranjos que trazem passagens de violão e piano. A dúvida é até que ponto o brasileiro conseguirá conciliar sua carreira no Angra com o Megadeth, uma banda bem maior e com uma extensa agenda de shows. Questionamentos à parte, os fãs gaúchos poderão conferir esta nova encarnação do grupo em 16 de agosto, quando o quarteto se apresentará no Pepsi on Stage, em Porto Alegre.
DYSTOPIA
Megadeth, metal, Universal, 11 faixas, R$ 29,90 (em média), US$ 9,99 (iTunes) e disponível nos serviços de streaming.