Na abertura da última temporada, Jô Soares se emocionou ao comentar o anúncio do fim do programa. "Como todos já sabem, porque foi um assunto muito divulgado, este é o último ano do programa no ar. Ao longo de 28 anos, Jô Onze e Meia e o Programa do Jô, totalizaram quatorze mil, cento e trinta e oito entrevistas, sem contar as entrevistas que nós ainda vamos fazer esse ano. Haja bunda no sofá!", brincou.
No texto de abertura do programa, Jô Soares também faz questão de salientar a importâncias dos personagens anônimos e famosos que já passaram pelo programa. "Para mim, o mais importante foi a descoberta de alguns artistas e conversar com alguns dos grandes agentes anônimos do povo brasileiro, aqueles personagens simples com quem você ri, se identifica e se emociona".
No primeiro bloco do programa, a entrevistada foi Marina Silva. Toda a cordialidade e troca de elogios entre os dois deu lugar, no final, a um embate devido a opiniões diferentes sobre a cassação da chapa Dilma/Temer. Na discussão, ainda que controlada, faltou tempo, e sobrou perguntas espinhosas.
Desde o início, Jô Soares tratou a convidada como candidata à presidência, mesmo que ela própria não admitisse: "ainda não sei se irei concorrer às eleições, não quero a cadeira cativa de candidato", afirmou Marina, explicando que seu interesse não seria necessariamente o cargo de presidente, mas sim um projeto para um país melhor.
Com discurso ponderado, Marina reforçou as ideias de partido que fundou, o Rede, e disse que é necessário mudar a lógica da política. Ela defende que é necessário institucionalizar o avanços ao invés de "fulanizar". Dando como exemplos o Plano Real e o Bolsa Família, Marina afirmou que estas políticas são do povo brasileiro, e não de um ou outro partido.
Constantemente questionada sobre a possibilidade de concorrer à Presidência da República, Marina afirmou que na formação de um eventual ministério, escolheria os melhores de cada partido dentro das competências em que se saem melhores.
– Ninguém questiona a competência do PSDB na gestão da economia assim como a do PT nas políticas sociais – exemplificou. – O bom não está só no partido da gente.
Entre outros posicionamentos, Marina se disse contra a reeleição e a favor do Parlamentarismo. Tudo ia bem na conversa, até que a entrevistada e entrevistador divergiram em um ponto. Marina disse acreditar que a solução da crise seria uma nova eleição, com a cassação da chapa vencedora Dilma/Temer – processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral e julga irregularidades na campanha. Neste ponto, Jô afirmou não achar justo que o vice-presidente tivesse que ser responsabilizado por eventuais erros na campanha, ao que Marina discordou. O tempo estourou e o bloco teve que ser encerrado.
A discussão do primeiro bloco respingou para o segundo, quando o jurista Ives Gandra Martins foi chamado a sentar-se ao lado do apresentador.
O entrevistado afirmou que, em seu parecer sobre o impeachment, considera que a omissão é crime de improbidade administrativa e, portanto, defende que a pessoa que permitiu que a corrupção acontecesse deveria ser afastada.
Usando a Lava-Jato como exemplo, Ives afirmou que a partir de agora o povo passaria a votar com mais cuidado. Foi quando a conversa guinou para sistemas de governo. Ives defendeu que o período de maior estabilidade governamental do país foi quando o Brasil esteve sob o regime parlamentarista.
– O parlamentarismo é o sistema da responsabilidade a prazo certo, e o presidencialismo é o sistema da irresponsabilidade a prazo certo.
Questionado sobre a legalidade da divulgação dos grampos telefônicos em que se ouve a voz da presidente Dilma, Ives afirmou não haver ilegalidade e explicou os princípios para a divulgação do material colhido pela Polícia Federal. Outros trechos captados também foram comentados, como o aquele em que Lula afirma que o Supremo estaria acovardado.
– O ministro Celso de Mello não faria uma declaração pública em defesa do Supremo se o grampo fosse ilegal.
Ives defendeu, pelo princípio da transparência, a divulgação dos áudios e da delação de Delcídio Amaral devido a importância de seus conteúdos.
No encerramento da conversa, Jô retomou o debate do bloco anterior. Ives afirmou discordar juridicamente de Marina em relação à responsabilização de irregularidades na campanha eleitoral. Para ele, a cabeça da chapa seria a única responsável, por chefiar a campanha.