Inaugurando uma sensação de aceleração do tempo histórico, o século 20 foi do 14 Bis à chegada da Lua em apenas 63 anos. Estas revoluções coletivas e individuais, que parecem se multiplicar em várias regiões do globo, motivam o tema do Fronteiras do Pensamento 2016: "A Grande Virada". Em seus 10 anos de história, comemorados nesta temporada, o ciclo de conferências provocou uma renovação na reflexão crítica, tendo realizado mais de 200 palestras internacionais para mais de 170 mil espectadores. Hoje, além de Porto Alegre, recebem atividades São Paulo, Salvador e Florianópolis.
Para inaugurar a série 2016 em Porto Alegre, o escritor peruano Mario Vargas Llosa – vencedor do Nobel de Literatura em 2010, ano em que também participou do Fronteiras – realiza uma conferência no dia 11 de maio, no Salão de Atos da UFRGS. O espaço será, como de costume, a casa do evento – a exceção ficará por conta do escritor britânico Ian McEwan, que falará ao público no Auditório Araújo Vianna em 24 de outubro. Serão sete convidados de áreas que passam por literatura, psicanálise, cultura afro-americana e urbanismo, além de um oitavo a ser divulgado em breve. A venda dos pacotes de ingressos começa na segunda-feira (28/3).
Como já anunciado, o escritor israelense David Grossman, conhecido pela sofisticação de seus romances e pelo ativismo em prol da paz no Oriente Médio, participará de um evento especial na Feira do Livro de Porto Alegre, no dia 30 de outubro, com entrada franca.
Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem com o patrocínio de Unimed Porto Alegre. Tem parceria cultural da PUCRS e promoção do Grupo RBS. As empresas parceiras são Hospital Mãe de Deus, CMPC Celulose Riograndense, Sulgás, Souto Correa e Liberty Seguros. Com parceria institucional Fecomércio e Unicred, apoio institucional da UFCSPA e Embaixada da França, e UFRGS como universidade parceira.
MARIO VARGAS LLOSA
11 de maio
Um dos mais importantes ficcionistas latino-americanos, Vargas Llosa ganhou o Nobel de Literatura, em 2010, "por sua cartografia das estruturas de poder e suas imagens agudas de resistência, revolta e derrota individuais". Pouco depois, naquele ano, esteve no Fronteiras em Porto Alegre. É constante, em sua vasta obra, a denúncia dos desmandos de regimes ditatoriais e da corrupção endêmica no poder na América Latina. Durante sua trajetória, o escritor distanciou-se da simpatia pelo socialismo e aproximou-se de ideias liberais. Em 1990, concorreu à presidência do Peru, mas perdeu para Alberto Fujimori, que hoje cumpre pena de 25 anos de prisão por violações aos direitos humanos.
Para ler: Embora vários de seus livros tenham alcançado grande reconhecimento, como Conversa no Catedral (1969) e Tia Júlia e o Escrevinhador (1977), Vargas Llosa declarou à Paris Review que considera A Guerra do Fim do Mundo (1982) sua obra mais importante. Inspirado pela leitura de Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, o romance reconta a Guerra de Canudos.
O que ele disse: "A ficção passou a substituir a realidade no mundo em que vivemos e, por isso, os medíocres personagens do mundo real não nos interessam nem nos entretêm. Os fabuladores, sim. Não é de estranhar que em uma época assim o ‘pequeno Nicolás’ e o gigantesco Enric Marco (considerados dois "impostores") tenham sido capazes de perpetrar suas vilanias, perdão, quero dizer, suas proezas. A culpa não é dos romancistas. Eles só contam as histórias que seus leitores gostariam de viver."
PIERRE LÉVY
27 de junho
Lévy é um reconhecido pesquisador das tecnologias da inteligência e investiga as interações entre informação e sociedade. Mestre em História da Ciência e Ph.D. em Comunicação e Sociologia e Ciências da Informação pela Universidade de Sorbonne, é um dos mais importantes defensores do uso do computador, em especial da internet, para a ampliação e a democratização do conhecimento humano.
Sua vocação para a pesquisa surgiu durante um curso com o filósofo francês Michel Serres, e seu foco de estudo se concentrou na área da cibernética e da inteligência artificial. Em 1987, lançou seu primeiro livro, A máquina Universo – Criação, cognição e cultura informática. Também é autor de A inteligência coletiva, O que é virtual? e Cibercultura. Tornou-se mundialmente conhecido a partir de 1994 com a difusão de sua tese sobre a "árvore do conhecimento", sistema criado junto com Michel Authier que é composto por um software de cartografia e pelo intercâmbio de conhecimentos entre comunidades, gerando uma enciclopédia virtual em constante transformação.
Atualmente, é professor de Inteligência Coletiva na Universidade de Ottawa. Nas duas últimas décadas, está trabalhando na criação de uma linguagem universal na rede através do Information Economy Meta-Language – IEML. Segundo o projeto, o mundo vive a quarta revolução e chegará a um sistema semântico de metadata universal situado na nuvem, construído colaborativamente e capaz de orientar o futuro da comunicação digital. Pierre Lévy acredita que a cibercultura coloca o ser humano diante de um mar de conhecimento, onde é preciso escolher, selecionar e filtrar as informações, para organizá-las em grupos e comunidades onde seja possível trocar ideias, compartilhar interesses e criar uma inteligência coletiva.
MICHEL HOUELLEBECQ
29 de agosto
Considerado por muitos o mais bem-sucedido escritor francês vivo, Michel Houellebecq notabilizou-se como autor de obras instigantes que não raramente despertam debates acalorados. Uma notável polêmica circundou a publicação do romance Submissão (2015), que imagina a ascensão de um partido muçulmano na França em 2022. O autor saiu na capa do Charlie Hebdo no dia em que o jornal sofreu um ataque terrorista, levando-o a cancelar a turnê de divulgação do livro. Em 2010, Houellebecq ganhou o prestigiado prêmio Goncourt por O Mapa e o Território, reflexão sobre o mundo do consumo a partir da vida de um artista plástico – aqui, o escritor aparece como personagem da própria narrativa. Ele esteve na primeira edição do Fronteiras, em 2007.
Para ler: Sempre vale a pena retornar a Partículas Elementares (1998), romance que catapultou o autor ao sucesso. Combinando literatura, ensaio, filosofia e referências científicas, a história gira em torno de dois meios-irmãos criados na herança da cultura de liberdade e ruptura dos anos 1970. O escritor brasileiro Cristovão Tezza certa vez anotou: "O tom dominante – pelo menos o que me pareceu o melhor no livro – é o da sátira, uma sátira demolidora que passa sobre a cultura dos anos 70 e seguintes como um rolo compressor".
O que ele disse: "Não acredito muito na influência da política na história. Acho que os principais fatores são tecnológicos e, às vezes, religiosos. Não acho que os políticos conseguem ter uma verdadeira importância histórica, exceto quando provocam grandes catástrofes ao estilo de Napoleão."
ELISABETH ROUDINESCO
12 de setembro
Respeitada historiadora da psicanálise, a francesa Elisabeth Roudinesco tornou-se uma intelectual de prestígio internacional, com diversos livros publicados no Brasil, como Dicionário de Psicanálise (com Michel Plon) e Retorno à Questão Judaica, no qual mergulha em temas caros à sua herança familiar. Entre seus princípios, está a importância de contextualizar Freud historicamente para que seus livros não sejam lidos como textos sagrados.
Para ler: Em 1993, Roudinesco assinou a biografia Jacques Lacan – Esboço de uma Vida, História de um Sistema de Pensamento, em que procura separar os fatos dos mitos. Em 2014, publicou uma biografia de Freud, que deverá sair no Brasil em agosto, pela editora Zahar.
O que ela disse: "Penso que, se não compreendermos Freud no seu tempo, como ele viveu, o que ele viu, como elaborou seus textos, muitas vezes adotamos teses completamente aberrantes (...). Se contextualizarmos sua época, entenderemos melhor a nossa e compreenderemos melhor o que é Freud hoje."
PETER SLOTERDIJK
3 de outubro
Apesar da complexidade de seu pensamento, Peter Sloterdijk se tornou um filósofo popular na Alemanha e no mundo. Durante 10 anos, apresentou um programa televisivo ao lado de Rüdiger Safranski. Sloterdijk considera que ambos criaram um tipo de filósofo "não acadêmico". Seus interesses incluem psicanálise, engenharia genética e comunicação de massa.
Para ler: Entre suas obras mais conhecidas, estão Crítica da Razão Cínica (1983) e Regras para o Parque Humano (1999), que examina criticamente o humanismo a partir do pensamento de Heidegger.
O que ele disse: "Temos um sistema artístico que floresce com força. Temos uma cena cultural jovem que tomou dimensões gigantescas, uma cena de cultura de massa. Na minha percepção, a filosofia só representa aqui um papel decorativo, à margem."
IAN McEWAN
24 de outubro
Ganhador do Booker Prize pelo romance Amsterdam (1998), o britânico Ian McEwan notabilizou-se como autor de histórias que investigam aspectos obscuros da personalidade humana e colocam em cena dilemas morais, tendo como pano de fundo episódios históricos ou grandes temas da atualidade, como a mudança climática. A recepção de seus livros encontrou um raro equilíbrio entre sucesso de crítica e boas vendagens – o primeiro-ministro David Cameron já foi fotografado lendo, no metrô, a novela Na Praia (2007). Diferentemente das outras conferências, a de McEwan será no Auditório Araújo Vianna, para um público esperado de mais de 3 mil pessoas. Quem comprar seu pacote até 30 de abril ganhará um ingresso extra para esta palestra.
Para ler: Entre os livros que tornaram McEwan um dos escritores mais destacados da atualidade, está Reparação (2001), adaptado ao cinema em 2007 pelo diretor Joe Wright, com Keira Knightley – filme lançado no Brasil como Desejo e Reparação. Na trama, uma menina de 13 anos confunde episódios que presencia em um dia ao interpretá-los sob um ponto de vista infantil, o que leva o filho de uma empregada da casa a sofrer uma acusação.
O que ele disse: "Uma das noções mais destrutivas da história do pensamento humano é a utopia. A ideia de que é possível formar uma sociedade perfeita, seja nesta vida ou em outra posterior, é muito destrutiva. Porque a consequência é que não importa se você matou um milhão de pessoas no caminho: o objetivo é a perfeição, e isso desculpa qualquer crime."
HENRY LOUIS GATES JR.
7 de novembro
Professor da Universidade de Harvard desde 1991, Henry Louis Gates Jr. é um célebre especialista na cultura afro-americana, tendo escrito inúmeros livros e produzido documentários sobre o tema. Sua área de formação, cursada em Yale e Cambridge, é a literatura, embora seus interesses incluam outros domínios do conhecimento. Tornou-se, também, um colaborador de veículos como o jornal The New York Times e a revista The New Yorker. Em 2008, criou o site The Root (theroot.com), especializado em notícias e opiniões de temas relacionados à cultura afro-americana.
Para ler: Registro de uma série de documentários de 2010, o livro Os Negros na América Latina (2011) traça um panorama histórico da diáspora africana na região. Relata os tempos de escravidão e trabalho forçado e elucida como, mesmo após os tempos de cativeiro, os afrodescendentes continuam sofrendo com o racismo e o preconceito de classe.
O que ele disse: "Em nosso mundo viral da mídia social, ficamos sabendo de pessoas negras desarmadas sendo brutalizadas por alguns membros de nossas forças policiais de formas que trazem à mente imagens da violência descarregada em manifestantes nos piores dias do movimento dos direitos civis, assim como testemunhamos a persistência renitente de homicídios de negros contra negros."
JAN GEHL
21 de novembro
Tendo criado projetos para cidades como Melbourne, Estocolmo e São Paulo, o arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl se tornou um dos gurus de uma ideia de cidade centrada nos pedestres e nos ciclistas. Sua visão humanizadora do planejamento urbano inspirou a experiência de Nova York apresentada por Janette Sadik-Khan, ex-secretária de Transportes daquela cidade, na última conferência do Fronteiras de 2015.
Para ler: As bases da visão de urbanismo de Gehl estão expostas e comentadas no livro Cidades para Pessoas (2010). O autor cunhou a expressão "síndrome de Brasília" para criticar o planejamento de cidades como a capital brasileira, que considera pouco aprazível aos pedestres, embora bonita quando vista do alto. Segundo ele, como as distâncias em Brasília são grandes demais, a mobilidade depende necessariamente de automóveis.
O que ele disse: "Todas as cidades no mundo têm departamentos de trânsito, mas quase nenhuma tem um departamento para pedestres e ciclistas ou para a qualidade de vida. Às vezes, tenho a impressão de que sabemos mais sobre o hábitat de leões e gorilas do que sobre o de humanos."
PROGRAME-SE
> Serão oito encontros: 11/5, 29/8, 12/9, 3/10, 24/10, 7/11, 21/11 e um a ser confirmado, sempre às 19h45.
> As conferências ocorrerão no Salão de Atos da UFRGS (Paulo Gama, 110), exceto a de Ian McEwan, que será no Auditório Araújo Vianna.
> O pacote de ingressos para todas as conferências da temporada 2016 custa R$1.560 (valor parcelado em cinco vezes sem juros nos cartões de crédito). Os ingressos não são vendidos individualmente.
> Desconto para inscritos no Fronteiras em edições anteriores, médicos cooperados Unimed Porto Alegre, professores da PUCRS, UFRGS e UFCSPA, Clube do Assinante e beneficiários de meia-entrada (conforme legislação).
> Os pacotes adquiridos até 30 de abril garantem um ingresso extra cortesia para compartilhar com um acompanhante a conferência do escritor Ian McEwan.
> Informações na Central de Relacionamento Fronteiras 4020-2050 e no portal fronteiras.com.
> Venda de ingressos a partir de segunda-feira (28/3), pelo portal fronteiras.com e nos pontos de venda: Palavraria (Rua Vasco da Gama, 165), Bamboletras (Rua Gen. Lima e Silva, 776, loja3) e StudioClio (Rua José do Patrocínio, 698).