*do Rio de Janeiro
Quando o assunto é rock n'roll, o tempo parece que não passa para Jagger, Richards e sua turma. Exatamente 10 anos e dois dias depois do show que reuniu mais de 1 milhão de pessoas à beira da praia de Copacabana, os Rolling Stones retornaram ao Rio de Janeiro na noite de sábado, com a mesma energia e disposição daquele 18 de fevereiro de 2006, última vez que haviam se apresentado em solo brasileiro.
No primeiro show da Olé Tour no Brasil, turnê que traz os britânicos para Porto Alegre no dia 2 de março, não faltaram entusiasmo, sintonia e bom humor. Em uma apresentação que durou mais de duas horas, prevaleceram os clássicos que marcaram os mais de 50 anos de carreira do grupo.
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A noite começou com uma apresentação morna da Ultraje a Rigor, que falhou em distrair o público da ansiedade. Bastaram os primeiros acordes de Start Me Up soarem para tirar do chão um Maracanã lotado. Devido a chuva que despencou na cidade pouco antes do horário marcado para o início do show, 21h30min, a equipe anunciou um atraso por problemas técnicos. Pouco antes das 22h, e com um dos telões do palco funcionando parcialmente, o show começou.
Em coro, a multidão de mais de 60 mil pessoas cantou e se deliciou com o que veio na sequência: It's Only Rock'n'Roll (But I Like It), Tumbling Dice e Out of Control. Com um sotaque tão britânico quanto seu gingado, Mick Jagger arriscou algumas palavras em português:
– Tocamos aqui há dez anos. Quem foi? Que bom ver vocês de novo! Boa noite Brasil!
Até aí, o setlist parecia idêntico ao dos últimos shows da América Latina, mas os septuagenários surpreenderam o público com Like a Rolling Stone, de Bob Dylan, escolhida em votação dos fãs pela internet. Com a gaita na boca, Jagger fez jus à marca registrada de Dylan.
Com a liderança indiscutível de Jagger, Keith Richards foi o responsável por enlouquecer a plateia com seus riffs devastadores, enquanto o guitarrista Ron Wood (o mais novo da turma, com 68 anos) mantinha afinada a sintonia do grupo e o baterista Charlie Watts, quieto, garantia a elegância.
Na sequência do show, uma nova surpresa. Diferentemente das demais apresentações no Chile, Argentina e Uruguai, o quarteto incluiu no setlist Doom and Gloom, canção mais recente incluída na coletânea GRRR!, lançada em 2012.
O show seguiu com Angie, Paint it Black e Honky Tonk Women. Agitado, Mick Jagger tirou o casaco vermelho de lantejoulas e, sorrindo, reclamou do calor. O bom humor também ficou evidente na hora de apresentar a banda. Ao apontar o dedo para Ron Wood, disparou:
– Esse é o novo mascote da Olimpíada.
A seguir, foi a vez de Keith Richards assumir os vocais. Em poucos minutos, presenteou o público com You Got the Silver e Before They Make me Run. Enquanto Keith dava um show à parte, Mick Jagger trocava de roupa no backstage.
A sintonia da dupla durante o show, por sinal, deixa em um passado remoto as discórdias que por muito tempo ficaram evidentes dentro e fora dos palcos. E, como se não bastasse uma primeira hora repleta de clássicos, o quarteto, junto com a banda de apoio – e uma dupla de backing vocals que roubou a cena em alguns momentos – levou o público ao delírio com uma segunda metade do show cheia das velhas favoritas. O blues refinado de Midnight Rambler iniciou a sequência, que teve ainda Miss You, Gimme Shelter, Brown Sugar, Sympathy for the Devil (nesta, Mick aparece com olhar misterioso e vestindo uma capa vermelha) e Jumpin' Jack Flash.
Para o bis, os britânicos optaram por iniciar de forma mais lenta, com a clássica You Can't Always Get What You Want regido por um coro, e finalizando a todo vapor com (I Can't Get No) Satisfaction. Depois de mais de duas horas de show, o quarteto não cedeu ao cansaço – muito menos o público. Resta esperar que toda essa energia desembarque, também, em solo gaúcho. O grupo toca em São Paulo dias 24 e 27 e chega a Porto Alegre em 2 de março.