Enquanto as estatuetas de melhor ator e atriz têm favoritos destacados – Leonardo DiCaprio, de O Regresso, e Brie Larson, de O Quarto de Jack –, a principal categoria do Oscar permanece incógnita. Trata-se de uma novidade da edição 2016: nos anos anteriores, ou havia um provável vencedor ou, no mínimo, a disputa se revelava polarizada entre dois filmes. Dos oito indicados nesta temporada, é correto dizer que no mínimo três dividem o posto dos mais cotados nos bolões e bancas de apostas.
São eles O Regresso, A Grande Aposta e Spotlight – Segredos Revelados. Os três ganharam prêmios prévios que devem ser considerados na análise das chances dos concorrentes – O Regresso levou o Globo de Ouro de melhor drama, Spotlight, o troféu de melhor elenco no SAG Awards (a premiação do Sindicato dos Atores de Hollywood) e A Grande Aposta, a láurea máxima no prêmio do Sindicato dos Produtores, considerado o termômetro mais fiel para a cerimônia que, neste ano, está marcada para a noite de amanhã.
Vale lembrar que Perdido em Marte também venceu um Globo de Ouro (o bizarro prêmio de melhor comédia ou musical). E, dada a ampla aceitação e as 10 indicações de Mad Max: Estrada da Fúria, não é exatamente errado afirmar que cinco dos oito concorrentes chegam ao Oscar com algum motivo para manter a esperança de vitória.
É curioso, nesse contexto, que entre os três outros indicados estejam um dos melhores longas que Spielberg assinou nos últimos anos (Ponte dos Espiões) e aquele que pode ser apontado como o filme-surpresa da temporada, por sua capacidade de envolver – e comover – o público: O Quarto de Jack. Ou seja, estamos diante de um conjunto sem títulos que se sobressaiam, mas, ao mesmo tempo, estamos frente a uma safra regular. No bom sentido, visto que não há produções ruins entre as indicadas, coisa que já aconteceu desde 2010, quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas aumentou a lista que tradicionalmente era composta por cinco concorrentes.
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Birdman (em 2015), 12 Anos de Escravidão (em 2014), Argo (2013), O Artista (2012), O Discurso do Rei (2011) e Guerra ao Terror (2010): a lista dos vencedores desde quando a Academia passou a listar de oito a 10 indicados não inclui superproduções que costumam arrastar multidões às salas de cinema. Pelo contrário: longas como Gravidade (em 2014) e Avatar (em 2010) saíram como grandes derrotados da cerimônia de entrega das estatuetas.
Se há algo que se pode apostar desde já é que 2016 repetirá o filme: A Grande Aposta e Spotlight são produções baratas para os padrões de Hollywood (custaram valores estimados entre US$ 20 e US$ 30 milhões, o que não paga 10% de Star Wars: O Despertar da Força), e O Regresso, se não é um projeto barato (estima-se que tenha custado mais de US$ 100 milhões), tem ambições autorais e ganhou um lançamento tímido, na comparação com o que ocorre com os blockbusters do cinema norte-americano.
É claro que isso não permite concluir que O Regresso constitui um projeto de status semelhante a Spotlight e A Grande Aposta. Com escolhas bem distintas, seus autores fizeram filmes esteticamente diversos entre si. E pode estar nessas escolhas o fator que vai determinar o vencedor.
Se eleger A Grande Aposta, por exemplo, por certo a Academia terá se deixado seduzir por sua competência para se comunicar com o público – o que inclui os hiperlinks dispostos na narrativa –, mesmo abordando um assunto espinhoso como a economia. Se curvar-se a Spotlight, terá reconhecido uma produção de excelência em sua capacidade de contar uma boa história usando os recursos da linguagem no que eles têm de mais simples – leia-se texto enxuto, preciso, e visual discreto, naturalista.
E quanto a O Regresso? – você pode perguntar. O longa de Alejandro Iñárritu leva ao limite a ideia de um cinema autoral que não esteja ligado à espetacularização típica da era dos "superblockbusters". É um de seus problemas: em vez de aprofundar os temas abordados, busca impressionar o espectador pela ação de tirar o fôlego e o visual altamente elaborado – e se torna superficial. Há quem se impressione. Resta saber se, na Academia de Hollywood, esses fãs estão em número suficiente para lhe dar o Oscar.