Martin Scorsese volta a percorrer no seriado Vinyl a mesma Nova York em que ambientou alguns de seus mais memoráveis filmes (Caminhos Perigosos, Taxi Driver e Os Bons Companheiros, entre outros), agora para iluminar o feérico ambiente musical que manteve ainda mais desperta nos anos 1970 a cidade que nunca dorme. Foi uma época em que sexo, drogas, discoteca e rock'n'roll faziam vibrar tanto clubes sórdidos quanto boates da alta roda e aproximavam com intimidade o submundo das milionárias coberturas de Manhattan.
Vinyl estreia no Brasil à meia-noite deste domingo para segunda-feira, no canal pago HBO, simultaneamente com os Estados Unidos, com sinal aberto para todos os assinantes. Criação conjunta de Scorsese (diretor do primeiro episódio, com duas horas de duração), do rolling stone Mick Jagger e do produtor e roteirista Terence Winter (responsável pelos seriados
Interpretado por Bobby Cannavale, vencedor de um Emmy pelo sádico gângster que viveu em Boardwalk Empire, Finestra procura pelo som que pode ser sua salvação em meio ao universo em que fervilham do glam rock à disco music, do suingue soul à fúria punk. Foi de Jagger, há 20 anos, a ideia de radiografar esse período, diz Scorsese no material promocional de Vinyl distribuído à imprensa:
– Passou-se muito tempo desde que discutimos a ideia pela primeira vez. A cada vez, o projeto crescia mais, ia mudando de forma e formato. Passou de filme para filme épico, e nos demos conta de que a história era tão abrangente que precisávamos do formato de série.
Vinyl, destaca Scorsese, tem sua estrutura dramatúrgica sustentada sobre um tema que sempre lhe atraiu: impérios opulentos que despencam em uma ruína financeira e moral, fustigados por ambição, mudanças de costumes e, não raro, violência:
– Acho que é porque vi isso acontecer no mundo real. Você via caras como os de Os Bons Companheiros e Cassino dirigindo Cadillacs, usando ternos e sapatos de milhares de dólares, com as unhas feitas e seus cortes de cabelo. Dava para ver a história desmoronando. Talvez seja por isso que eu adoro O Leopardo, tanto o romance do Lampedusa (o escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa) quanto o filme do Visconti(o cineasta italiano Luchino Visconti), porque é a história de alguém que percebe que o mundo, tal como ele conhece, está acabando. Às vezes, isso acontece dentro da família. Às vezes, é um estilo de vida inteiro. Em outras, é no mundo dos negócios, na maneira de fazer as coisas, como em Vinyl.
O elenco da série conta com Olivia Wilde no papel de Devon, mulher de Finestra, que foi modelo de Andy Warhol nos anos 1960 e largou a carreira para se dedicar à família, Ray Romano como Zak Yankovich, sócio da gravadora, e James Jagger, filho de Mick com a ex-modelo Jerry Hall, encarnando Kip Stevens, líder e vocalista da fictícia banda punk The Nasty Bits.
Trilha sonora é personagem
Em meio ao seu universo fictício, a série Vinyl fará referência em sua trama a grandes nomes do música pop, que irão interagir com seus personagens, como John Lennon, Elvis Presley, David Bowie, Led Zeppelin, Alice Cooper e Gram Parsons. E como é recorrente nas produções assinadas por Martin Scorsese, o rock tem destacada presença na trilha sonora, mas não é onipresente no recorte bastante eclético que Vinyl apresentará em seus 10 episódios.
Junto a registros originais de veteranos como Mott the Hoople (All The Way From Memphis), Edgar Winter (Frankenstein), Foghat (I Just Want To Make Love To You) e Otis Redding (Mr. Pitiful), aparecem as releituras do vocalista David Johansen para dois hits de sua icônica banda The New York Dolls, pioneira do glam rock setentista: Personality Crisis e Stranded in the Jungle.
Vinyl abre espaço ainda para um nome emergente da cena indie, a banda islandesa Kaleo, com a canção No Good. Vale lembrar que Scorsese e Terence Winter colocaram como tema de abertura de Boardwalk Empire (2010 – 2014), série de gângsteres ambientada nos anos 1920 e 30, a faixa Straight Up and Down, do cultuado, lisérgico e contemporâneo grupo americano The Brian Jonestown Massacre.