Li, incrédulo, o editorial que a Folha de S. Paulo chamou de "Batatas marcianas". O título entrega o tema: pesquisas em solos aproximados aos do planeta vermelho, para conseguir alimentos que poderão ser futuramente lá plantados. Corporações americanas estão investindo pesado no projeto. Que mundo é esse que, com problemas geopolíticos devastadores, gasta milhões de dólares com tal especulação e onde um jornal brasileiro trata o assunto como primordial? Talvez o mundo onde Chico Buarque é levianamente acusado de ladrão e Sean Penn aperta a mão de El Chapo ao entrevistar o maior contrabandista de drogas do planeta para as páginas da Rolling Stone. Só um mundo assim comporta essa falta de noção.
"Eu quero uma casa no campo onde possa plantar meus amigos, meus discos e livros - e nada mais." Era isso o que almejava a minha geração. Hippies e românticos, queríamos paz, amor e igualdade social. Coisa de velho? Não.
im, depois de ler os principais livros de Roberto Bolaño (Os Detetives Selvagens e 2666), foi difícil me conectar com outro autor. Tentei Donald Barthelme (O Pai Morto) e me dei mal. Frases elípticas, excessos formais pedantes. Detestei. Lembrei Paula Toller e seu recado sempre útil: "Solos de guitarra não vão me conquistar".
Voltei correndo para autores que me encantam. Li Seu Rosto Amanhã, do espanhol Javier Marías. Além do título magnífico, o livro é maravilhosamente bem escrito. Continuei com Melancolia, do Jon Fosse, já considerado o Beckett do século 21. Mais conhecido como autor teatral, aqui o norueguês investe seu talento em um romance esquizofrênico e obsessivo que faz Thomas Bernhard parecer Branca de Neve. Fechei o ciclo com Anatomia do Paraíso, da Beatriz Bracher, romance brasileiro dos bons. Grandes livros.
Dois discos especiais: Ar, com Renato Teixeira e Almir Sater juntos, canções belíssimas, um oásis, e No Osso, só a voz e o violão de Marina Lima. Algo aconteceu com a voz da cantora. Mas não faz mal. Marina é Marina.