Será um encontro de formas e geometrias, de arte e arquitetura, e também do branco com o branco.
Na quinta-feira, a Fundação Iberê Camargo (FIC) inaugura a exposição Luz e Matéria, que oferece um panorama da obra de Sergio Camargo (1930-1990), um dos mais importantes escultores brasileiros do século 20. Seus relevos e formas cilíndricas marcados pela cor branca serão apresentados no interior totalmente branco do prédio que reluz, na paisagem da orla de Porto Alegre, com sua fachada igualmente branca.
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Trata-se de uma exposição imperdível. Luz e Matéria apresenta mais de 80 obras que estão em coleções particulares e acervos, de onde raramente saem para compor a seleção de trabalhos como a que se verá na Capital. Daí o conjunto ser outro aspecto que torna a mostra obrigatória: as peças reunidas abrangem boa parte da carreira do artista, destacando os principais aspectos de uma produção interrompida em plena atividade - Camargo morreu aos 60 anos - e que hoje é valorizada internacionalmente - em 2013, uma peça sua foi vendida por R$ 5 milhões em Nova York.
- A mostra apresenta um recorte representativo da obra dele - diz o crítico Paulo Sergio Duarte, que assina a curadoria ao lado de Cauê Alves. - Não é um momento específico da carreira, mas uma visão de conjunto bem significativa. Inclusive, com obras que raramente são vistas, como do início da carreira dele.
Foto João Musa, Divulgação
Luz e Matéria estreou em novembro em São Paulo, ocupando três andares do Itaú Cultural. Lá, foi saudada pela crítica por conta do ineditismo da seleção das mais de cem obras. A versão que chega a Porto Alegre é um pouco menor, mas mantém o vigor do conjunto, destacando o modo como Camargo desdobrou as lições das vertentes construtivas usando formas geométricas, torsões e cortes angulosos em suas esculturas.
- Sergio Camargo é um artista muito significativo de uma época. Quando o construtivismo já estava relativamente explorado pelos artistas no Brasil, ele usava essas lições fazendo um desdobramento muito original - comenta Paulo Sergio. - A exposição que será vista em Porto Alegre tem algumas alterações, em função das diferenças dos espaços (do Itaú Cultural e da FIC) e também porque certas peças já estavam comprometidas pelos colecionadores com outros espaços e destinos.
Em Luz e Matéria, será possível ver obras que fizeram de Camargo uma referência da escultura moderna brasileira, desde a predileção pelos materiais - ele usava os célebres mármore carrara branco e negro belga - até a maneira como ele trabalhava o volume nas esculturas a partir de jogos de luz e sombra.
- Camargo fazia questão de usar esses materiais, tanto por conta da tradição e nobreza deles, como pelas exigências que ele tinha no corte para obedecer a certos ângulos a que muitos mármores não resistem. E seus relevos, se observados em um ambiente que recebe luz indireta do dia, vão tendo a percepção de seus volumes alterados conforme a hora do dia. Isso chamou atenção da Tate (de Londres) já na época, que incorporou obras dele a seu acervo - diz Paulo Sergio, lembrando que o MoMA, de Nova York, também tem obras de Camargo.
Foto João Musa, Divulgação
Um filósofo da arte
Sergio Camargo foi um artista filósofo. Nasceu no Rio de Janeiro e, aos
16 anos, mudou-se para Buenos Aires, onde estudou na Academia Altamira com Emilio Pettoruti (1892-1971) e Lucio Fontana (1899-1968), este um dos mais aclamados artistas argentinos.
Em 1948, viajou à Europa e teve aulas com intelectuais como os filósofos Gaston Bachelard (1884-1962), referência na análise das bases subjetivas da criação poética, e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), quando este acabara de publicar seu mais célebre estudo, Fenomenologia da Percepção.
Também na Europa, Camargo frequentou o ateliê do escultor Constantin Brancusi (1876-1957). Depois de travar contato com a obra do pintor Wassily Kandinsky (1866-1944), decidiu trabalhar pelo viés do abstracionismo. E, em Paris, ainda estudou sociologia da arte com o historiador Pierre Francastel (1900-1970).
- Camargo se aproximou de todos eles porque preferia estudar filosofia do que arte - conta Paulo Sergio.
Abertura quinta-feira, às 19h, para convidados.
Visitação a partir de sexta-feira, de terça a domingo (inclusive feriados), das 12h às 19h (último acesso às 18h30min). Até 12 de junho.
Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2.000), em Porto Alegre, fone (51) 3247-8000. Gratuito.
Estacionamento: no subsolo da Fundação, com entrada pela Av. Padre Cacique, no sentido Zona Sul.
A exposição: apresentada no Itaú Cultural em São Paulo, a mostra chega a Porto Alegre com mais de 80 obras de Sergio Camargo, um dos mais importantes escultores brasileiros.