Desde quarta-feira, a Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul (Sedac) se vê diante de uma situação complicada. Com dívidas que remontam a 2014, o secretário Victor Hugo foi pego de surpresa quando a empresa responsável pela segurança de diversos prédios administrados pela pasta enviou ao trabalho uma equipe reduzida. Desde quarta, espaços como a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), o Museu do Rio Grande do Sul (Margs) e o Memorial do Rio Grande do Sul recebem apenas dois vigilantes, cada. A Job Vigilância, empresa terceirizada contratada pela Sedac, cobra valores que podem chegar a R$ 1,4 milhão (nos cálculos do governo, o montante é de R$ 900 mil) e não garante a normalização do serviço enquanto a situação não for resolvida.
Leia mais
Com segurança reduzida, CCMQ funciona parcialmente
Sem segurança, Margs fecha as portas por tempo indeterminado
"Propomos uma secretaria mais enxuta", diz secretário de Cultura
Na CCMQ, a solução encontrada pela Sedac na quarta-feira foi restringir o acesso e pedir identificação dos visitantes na entrada. Na quinta, a situação se normalizou, mas outro espaço importante da cidade, o Margs, teve de fechar suas portas. Agora, com previsão da Secretaria da Fazenda (Sefaz) de quitar parte da dívida até a próxima quarta-feira, a Sedac atua em duas frentes: tenta agilizar o pagamento junto à pasta liderada por Giovani Feltes (PMDB) e dialoga com a Job Vigilância para tentar aumentar o efetivo de vigilantes em prédios como o Memorial e a Biblioteca Pública do Estado, que são vigiados pela mesma empresa.
Na Casa de Cultura, planilha improvisada controla a entrada de visitantes
Quem entrou na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, nos últimos dois dias passou pelo procedimento inabitual de informar, na entrada, o nome, o RG e o que pretendia fazer no local. Como podiam, servidores ou seguranças monitoravam o que o escasso público fazia. Na quarta-feira, o acesso era limitado: a visitação do prédio em si havia sido suspensa, o Café Santo de Casa, no último andar, fechado, e duas das quatro entradas, bloqueadas. Na quinta, o funcionamento já era quase pleno, com apenas uma das lojas fechadas e lixeiras não muito amigáveis em frente a um dos elevadores, mas o controle se mantinha redobrado.
Isso porque, por enquanto, a equipe de segurança na Casa de Cultura está reduzida e enjambrada. A empresa que normalmente presta o serviço de forma terceirizada, a Job Vigilância, clama pelo pagamento de uma dívida de pelo menos R$ 1,4 milhão do governo do Estado – de acordo com a Secretaria da Cultura do Estado, o número gira em torno dos R$ 900 mil. Como resultado, desde quarta-feira, a companhia destina apenas dois seguranças ao espaço, em vez dos habituais sete.
Liege Nardi, diretora interina da Casa de Cultura, disse que foi pega de surpresa com o número menor de profissionais e criou o procedimento de identificação na entrada, além de estabelecer um funcionamento limitado, para evitar descontrole. Foi mantido, da programação da noite de quarta, o lançamento de uma nova exposição (a Metro). As salas de cinema também não foram afetadas.
Para quinta-feira, uma solução temporária foi encontrada. A Associação de Amigos da Casa de Cultura Mario Quintana contratou, de forma privada, mais dois profissionais de vigilância. Ao todo, então, são quatro a trabalho.
– Nós já tínhamos como meta trabalhar com apenas cinco seguranças, para reduzir custos. Não estamos com um número muito longe disso agora – salientou Liege.
Roseli Rivaldo, gerente do Café Santo de Casa, reclama do prejuízo de um dia sem renda e afirma que o problema vai além:
– A manutenção não existe. Já estamos sem limpeza há mais ou menos uma semana, e também não oferecemos mais wi-fi, que era uma coisa que chamava atenção do público.
De acordo com o governo, a dívida engloba três empresas terceirizadas, que atendem 33 órgãos da Secretaria da Cultura: uma de vigilância, uma de limpeza e uma de serviço administrativo.
Fechado por "motivo de força maior", Margs não tem previsão de reabertura
Um dos espaços culturais mais importantes de Porto Alegre, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) fechou suas portas nesta quinta-feira por falta de segurança. Com apenas dois seguranças disponíveis, quando o normal seria operar com nove por turno, a administração do museu preferiu não abrir o prédio.
Atualmente, o Margs tem quatro exposições em cartaz, que tiveram as visitações suspensas com o fechamento do prédio. A administração do museu afirma que a reabertura fica por conta da Sedac, que dialoga com a Secretaria da Fazenda (Sefaz) para quitar parte da dívida – o dinheiro já foi empenhado, só falta a liberação da Fazenda. A previsão da pasta é que parte dos pagamentos seja feita até a próxima quarta-feira. Até lá (e mesmo depois da data), a situação do Margs é alvo de suspense.
Caso o valor não seja quitado, existe a possibilidade de uma diminuição ainda maior no efetivo de segurança dos três prédios, o que poderia acarretar mais dias de atividades suspensas. A Job Vigilância tem contratos ativos para segurança de prédios administrados por outras secretarias do Estado, mas, de acordo com o executivo, as únicas dívidas são da Cultura.