Em 22 de novembro de 2006, Gustavo Jahn e Melissa Dullius, hoje ambos com 35 anos, embarcavam em um navio cargueiro no porto de Rio Grande. Era o início de uma jornada de 22 dias até Hamburgo, na Alemanha, em uma lua de mel pontuada por leituras, fotografias e filmagens. Durante a viagem, que marcaria a mudança dos recém-casados para a Europa, exploraram o espaço da embarcação com uma câmera na mão. Ali nascia Muito Romântico, longa que terá première internacional nesta quinta-feira, na 66ª edição da Berlinale, o Festival de Berlim.
Exibido para curadores de outros festivais e para a imprensa na segunda-feira, o longa faz parte da mostra Fórum, dedicada a novos talentos e experimentações de linguagem. Terá também sessão nesta sexta.
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- Não é o filme mais fácil do mundo. Mas pode ser uma viagem transformadora - resume Melissa, que em 2011 finalizou o roteiro da obra após receber uma bolsa do Kunstlerinnenprogramm, fundo alemão dedicado à produção de artistas mulheres.
A relação de Gustavo e Melissa é o tema de Muito Romântico, no qual dirigem e atuam. No longa, estão oito anos de filmagens da vida do casal em Berlim. Rodado em 16 mm, o filme destaca, além dos registros no navio, imagens de terrenos baldios na capital alemã.
- São lugares que lembravam o Brasil e que depois foram dominados por construções - explica Melissa.
Muito Romântico | Trailer from DISTRUKTUR on Vimeo.
Com o roteiro pronto e mais confiantes, Gustavo e Melissa reencenaram e filmaram em 2014, com a ajuda de amigos, algumas situações vivenciadas nos três apartamentos em que moraram na capital alemã. Está retratada no longa, por exemplo, a chegada dos dois ao primeiro lar berlinense, em Neukölln, reduto da comunidade turca.
A partir do olhar dos cineastas, Muito Romântico, apesar do tom bastante intimista, pode ser considerado o retrato de uma geração de artistas que busca em Berlim, uma das capitais mais pulsantes do mundo, inspiração para realizar o seu trabalho, em meio a festas, música eletrônica e experiências com drogas.
- O filme é produto de um acúmulo de roupas, fotos e objetos - explica Gustavo.
- Não é um documentário. Mas tem muitos documentos. É uma fantasia real. E o que conduz a narrativa foi o que a gente encenou - completa Melissa.
Natural de Florianópolis, Jahn passou a residir em Porto Alegre a partir de 1999, quando ingressou na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS, onde conheceu Melissa. Logo começaram a parceria artística e amorosa que perdura até hoje.
O catarinense e a porto-alegrense, que formam a dupla Distruktur, começaram a trabalhar com cinema na Capital, no final dos anos 1990. Os dois integraram o coletivo Sendero Filmes, com produções no formato Super-8. Na mesma época, desenvolveram individualmente trabalhos em fotografia, colagem e desenho.
Em Berlim, eles também fazem parte, desde 2007, de um coletivo de artistas, o LaborBerlin, laboratório de pós-produção de cinema e de revelação de filmes em película. Gustavo também é conhecido por ser um dos protagonistas do longa O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho, sucesso de crítica. A dupla já havia atuado em Os Residentes (2010), de Tiago Mata Machado. Por esse trabalho, Melissa recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília.