Quando se aproxima o início da temporada, as orquestras preparam sua cavalgada em direção às novidades, aos solistas, à variedade de regentes, ao público que se tem a esperança que cresça e rejuvenesça. Algumas orquestras entram em regime de soft opening, aproveitando os meses de verão para suas pré-temporadas, com apresentações aqui e ali. Nada sério, ainda. Só a partir de março a música sinfônica soa a pleno pelo Brasil, mesmo sendo uma música minoritária entre tantas que enchem os nossos ouvidos.
Na música de concerto brasileira, duas orquestras saem na frente. A Osesp, da Sala São Paulo, em São Paulo; a Filarmônica de Minas Gerais, da Sala Minas Gerais, em Belo Horizonte. Direções artísticas firmes, uma linha de pensamento bem visível a nortear a programação e, acima de tudo, salas próprias. A Sala São Paulo já é histórica de tão prestigiada aqui e lá fora, já que deu certo a ideia estapafúrdia de transformar uma estação de trem em sala sinfônica. E, à sua maneira, a Sala Minas Gerais também é incrível.
São duas salas com desenhos opostos: em São Paulo, o formato é o de caixa de sapato, como se diz, reminiscente da Filarmônica de Viena. Em Belo Horizonte, a estrutura é a do chamado vinhedo, a lembrar a Filarmônica de Berlim. Exemplos bem sucedidos para acolher um bom repertório que faz boas apostas na música brasileira e também não esqueceu os compositores aniversariantes do ano, dos 100 anos: o francês Dutilleux e o argentino Ginastera.
A Ospa, a essas todas, corre por fora. A temporada promete até uma série apetitosa no Margs, "Música no Museu", com alguns compositores raros neste pampa. Steve Reich? Pierre Boulez? Será verdade? A temporada da Ospa está bem amarrada e faz o máximo para esconder uma melancolia de fundo - onde está a sede própria? Não deve ser coincidência que a Osesp e a Filarmônica de Minas Gerais tenham suas salas sinfônicas próprias e sejam hoje as principais orquestras brasileiras. Quem duvida da importância de uma sede própria para a Ospa, basta ouvir os paulistanos e os mineiros. Melhor evidência não deverá haver.